O tabagismo como vício vem acometendo a humanidade há mais de 200 anos. Já passou por diferentes fases, desde seu uso pelos povos pré-colombianos, na América Central, ou em rituais indígenas, na América do Sul, até sua exploração comercial na Europa durante a Revolução Industrial e sua banalização pela indústria cinematográfica de Hollywood, nas décadas de 80 e 90. Fato é que o cigarro se tornou popular e também o maior inimigo do ser humano, sendo o grande responsável por mortes evitáveis em todo mundo.

A partir do final da década de 90, com o entendimento dos mecanismos deletérios do cigarro no corpo humano e sua clara associação com dezenas de doenças cardiovasculares, respiratórias e neoplásicas, iniciou-se no mundo inteiro um movimento na tentativa de inibir e dificultar o seu uso. São mais de 4.000 compostos químicos em um único cigarro, dentre os quais mais de 50 são sabidamente cancerígenos. É disparado o maior fator de risco para o desenvolvimento de câncer e está relacionado a quase todos os tumores, com particular importância em cânceres de pulmão, cabeça e pescoço e bexiga. Além disso é o segundo fator de risco mais importante para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares (perdendo apenas para hipertensão arterial). Além de diversas outras doenças respiratórias.

As pessoas que fumam têm em média 14 anos menos de expectativa de vida em relação as que não fumam. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam para 7 milhões de mortes ao ano por doenças causadas pelo cigarro, sendo 12% dessas mortes em fumantes passivos. Só no Brasil são 400 mortes por dia pelo tabaco, o que causa um impacto gigantesco na saúde e na economia, visto que muitas pessoas atingidas são jovens e economicamente ativas, além de um grande custo para o sistema de saúde pública, com gastos bilionários em tratamentos de doenças relacionadas ao tabaco.

Na tentativa de diminuir o tabagismo e com isso as doenças a ele relacionadas, vários países passaram a adotar medidas que estimulassem o abandono do cigarro e outras que evitassem o início do tabagismo. Nesse contexto, o Brasil ganhou lugar de destaque ao conseguir reduzir de forma consistente o número de pessoas que fumam. Os esforços para essa redução começaram em 1990, quando profissionais de estados e municípios foram treinados pelo Instituto Nacional do Câncer (INCA) para tratarem pacientes tabagistas no SUS e o tratamento começou a ser oferecido de forma gratuita, por exemplo, com a disponibilização de medicações como a bupropiona.

Além disso, foi disponibilizada uma linha telefônica para as pessoas tirarem dúvidas sobre o tabagismo, houve aumento dos impostos que chegaram a 83%, em 2018; as propagandas foram proibidas em televisão e revistas, tornou-se obrigatório estampar as embalagens de cigarro com fotos e frases que mostrassem os efeitos devastadores do cigarro e, por fim, a proibição do fumo em locais fechados de uso coletivo. Todas essas medidas levaram o Brasil a reduzir em mais de 50% o número de pessoas que fumam nos últimos 25 anos (34% da população em 1989 e 10% em 2017).

O Brasil, ao lado de Turquia, tornou-se referência ao mundo no combate ao cigarro, sendo o segundo país a conseguir implementar de forma eficaz todas as seis medidas sugeridas pela OMS chamadas de Mpower (plano para reverter a epidemia do tabaco) que são: monitorar o uso do tabaco e as políticas de prevenção, proteger as pessoas contra o tabagismo, oferecer ajuda para parar de fumar, avisar sobre os perigos do tabaco, aplicar proibições à publicidade, promoção e patrocínio do tabaco e aumentar os impostos sobre o tabaco.

A redução do tabagismo vem acontecendo, no Brasil em todas as faixas etárias, com redução de 50% entre os jovens com menos de 30 anos e também redução de 44% entre as mulheres. Segundo o INCA, mais de 1,5 milhão de pessoas fizeram tratamento na rede pública para parar de fumar nos últimos 10 anos.

Mas ainda não foi possível acabar completamente com esse vício. Dados mostram que as capitais onde mais se fuma são Porto Alegre, São Paulo e Curitiba, enquanto Salvador, São Luiz e Belém são as que tem menos fumantes. O Brasil ocupa hoje o 34º lugar entre os países que mais fumam em um ranking que engloba 149 nações.

Em paralelo à diminuição do tabaco, vem crescendo no Brasil (onde a comercialização é proibida) e no mundo o uso dos cigarros eletrônicos, cujos os efeitos deletérios ainda são desconhecidos. Em 2018, mais de 3,5 milhões de estudantes do ensino médio nos EUA disseram já ter experimentado o cigarro eletrônico. O Centro de Controle de Doenças dos EUA acabou de divulgar a morte de um morador e Illinois como potencial primeiro caso – do mundo – de morte associada diretamente ao uso do cigarro eletrônico. Por isso, o combate ao cigarro ganha novos inimigos que não podem ser esquecidos.

O Brasil tem o audacioso objetivo de se tornar o primeiro país do mundo livre do tabaco. E, por isso, o dia 29 de agosto ganha importância como o Dia Nacional de Combate ao Fumo para lembrar que essa guerra ainda terá vários capítulos e a atenção nunca deverá ser diminuída no intuito de manter o Brasil na rota do combate ao cigarro.