Bruna Sabino

Cirurgiã Dentista

CRO 105.586

 

A saúde bucal é sempre um assunto que merece muita atenção; entretanto, o tema é ainda mais importante quando falamos de pacientes com câncer, que requerem cuidados especiais para manter sua qualidade de vida e bem-estar.

As manifestações ou complicações orais mais frequentes são: mucosite (inflamação da mucosa), candidíase oral, xerostomia (boca seca), cárie de radiação, disgeusia (perda e/ou alterações do paladar), trismo muscular, alterações vasculares e osteorradionecrose.

Muitos pacientes, no intervalo de 7 a 15 dias após o início do tratamento, apresentam risco de desenvolvimento de lesões bucais, dentárias e periodontais, que podem estar relacionados à quimioterapia, radioterapia e com os focos odontogênicos preexistentes.

Em pacientes que recebem quimioterapia mielosupressiva, os efeitos adversos mais comuns são representados por: neutropenia, imunidade comprometida, que deixa o paciente mais susceptível às infecções bacterianas, virais e fúngicas, e a trombocitopenia, diminuição das plaquetas, podendo ocorrer sangramento gengival durante a escovação e até mesmo espontaneamente.

A xerostomia é quando a boca fica excessivamente seca. Isso acontece devido às alterações nas glândulas salivares, causadas principalmente pela radioterapia. Com a ausência do efeito protetor da saliva, pode ocorrer mau hálito, aumento da ocorrência de cáries, dificuldade na mastigação e mucosa mais vulnerável às infecções. Outras consequências da xerostomia são a atrofia das papilas da língua, inflamação e fissuras, resultando em maior sensibilidade bucal, provocando sensação de ardência e em alguns casos dor. Com a diminuição da salivação pode ocorrer má adaptação de próteses e traumas sucessivos na mucosa oral.

Além disso, durante o tratamento pode haver complicações na gengiva, como a doença periodontal, que é uma inflamação gengival que, em casos extremos, pode provocar mobilidade dentária e a perda dos dentes.

Já a mucosite é uma inflamação da mucosa, de condição ulcerativa, que se manifesta não somente na boca, mas em todo o trato gastrointestinal. Suas lesões podem ser extremamente dolorosas, podendo dificultar ou impedir que o paciente consiga ingerir alimentos sólidos e, em casos extremos, até mesmo a água.

Alguns agentes modificadores ósseos – bifosfonatos –, prescritos para a prevenção de eventos ósseos, como fraturadas patológicas, em pacientes com metástases ósseas, apresentam risco de causarem osteonecrose dos maxilares.

Por esses motivos, é aconselhável que todo paciente com diagnóstico de câncer seja encaminhado para uma avaliação odontológica antes de iniciar o tratamento e, principalmente, para aqueles em que o tratamento for para câncer de cabeça e pescoço ou se for prevista uma imunossupressão profunda e prolongada, no caso do transplante medula óssea. Além disso, o cirurgião dentista também irá acompanhar o paciente em todo o processo do tratamento, durante e após a quimioterapia e radioterapia, de modo a diagnosticar e tratar as alterações bucais decorrentes do tratamento.

O acompanhamento odontológico é importante de modo que o paciente seja orientado em relação ao uso correto do fio dental, técnicas de escovação, características das cerdas das escovas, uso e tipo de enxaguatórios bucais, utilização de saliva artificial para o tratamento da xerostomia, cuidados com os aparelhos protéticos, orientação quanto à higiene oral para a manutenção da cavidade oral livre de infecção, reduzindo e prevenindo os riscos de desenvolver infecção localizada e sistêmica durante períodos de neutropenia. Mais ainda: o cirurgião dentista, também utilizará da laserterapia, uma modalidade de tratamento para os efeitos colaterais da quimioterapia e radioterapia, que tem como objetivo a reparação celular, acelerar o processo de cicatrização, analgesia, prevenção e tratamento da mucosite oral.

O importante é saber que é possível prevenir e controlar cada um destes sintomas e a principal ferramenta para isso é a manutenção rigorosa da higiene bucal e o cuidado odontológico antes, durante e após as terapias para o câncer. O trabalho multidisciplinar é fundamental para o sucesso do tratamento oncológico. Logo, o acompanhamento odontológico, proporcionará mais conforto e bem-estar durante as diversas fases do tratamento, impactando positivamente na qualidade de vida do paciente.