O câncer de mama é o mais incidente nas mulheres. Para o triênio de 2023-2025, são esperados aproximadamente 74 mil novos casos de câncer de mama no Brasil, segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA).
A chance de cura e de sobreviver ao câncer mama está diretamente relacionada ao momento do diagnóstico da doença; quanto mais avançado o câncer está quando é descoberto, maior a complexidade dos tratamentos e menor a chance de cura. Tal diferença de sobrevida também pode se relacionar com outros fatores, como a falta de acesso aos serviços de saúde, o atraso na investigação de lesões mamárias suspeitas e na realização do tratamento.
Há um grande esforço dos profissionais envolvidos no cuidado do câncer em conscientizar a população da importância de hábitos que buscam prevenir o câncer; atividade física e alimentação saudável são os principais exemplos para isso.
Além da prevenção, existem estratégias que buscam o diagnóstico precoce do câncer de mama. O rastreamento com a mamografia é a principal arma que pode auxiliar na detecção precoce das doenças da mama, quando realizado em mulheres assintomáticas, numa faixa etária em que haja um balanço favorável entre benefícios e riscos dessa prática. Dentre as vantagens da mamografia estão: a redução da mortalidade pelo câncer, menores sequelas relacionadas aos tratamentos oncológicos, maior sobrevida, e o menores custos para sociedade relacionados aos investimentos em saúde de alta complexidade e perda de um indivíduo produtivo.
Os primeiros estudos científicos que demonstraram haver diminuição da mortalidade por câncer de mama entre as mulheres submetidas ao rastreamento com mamografia foram relatados há cerca de 60 anos. Alguns estudos mostraram um percentual de até 30% de redução na mortalidade no grupo de mulheres submetidas ao rastreamento; outras evidências científicas apontaram percentual de 15-20% de redução das mortes por câncer de mama.
Por outro lado, pesquisas observacionais demonstraram resultados inconsistentes, questionando os reais benefícios do rastreamento com mamografia e destacando também certos riscos que precisam ser conhecidos e ponderados: realização de biópsias excessivas, diagnóstico de patologias que não mudariam o curso de vida da mulher, a realização de tratamentos dispensáveis e a exposição à radiação (que raramente causa câncer, mas há um discreto aumento do risco quanto mais frequente é a exposição).
Recomendações de rastreamento
Diante de um cenário científico que dá margem a dúvida, existem divergências entre as recomendações de rastreamento, especialmente quanto a idade de início (40 ou 50 anos) e quanto a periodicidade (anual ou a cada 2 anos). No Brasil, a Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM), o Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem (CBR) e a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO) recomendam a mamografia anual para as mulheres a partir dos 40 anos de idade. Tal medida difere das recomendações do Ministério da Saúde, que preconiza o rastreamento bianual, a partir dos 50 anos, excluindo dos programas de rastreamento uma faixa importante da população (mulheres entre 40-49 anos), responsável por cerca de 15-20% dos casos de câncer de mama.
Não há um consenso absoluto sobre quando iniciar a mamografia: se aos 40 ou aos 50 anos. Alguns protocolos de rastreamento defendem que essa decisão seja compartilhada com a paciente, explicando potenciais riscos e benefícios. O fato é que a oncologia mamária vem avançando diariamente, construindo um cenário muito diferente daquele em que se desenvolveu as evidências (favoráveis ou não) sobre rastreamento no passado. Um grande e importante estudo foi publicado há poucos dias em um jornal científico internacional, mostrando que rastreamento contribuiu em 25% na redução da mortalidade de câncer de mama nos Estados Unidos. Este dado atual sustenta a prática do rastreamento, e reforça a importância do diagnóstico precoce.
O câncer de mama permanece como uma doença desafiadora, exigindo avanços científicos e terapêuticos para melhoria das taxas de cura e mantendo-se como uma condição que exige diagnóstico precoce. O exame clínico das mamas, associado à mamografia periódica anualmente a partir dos 40 anos parece ser a melhor estratégia a ser adotada. A detecção em um estágio inicial permite um tratamento menos agressivo, determinando melhor qualidade de vida, com menores sequelas e efeitos colaterais, e aumentando as taxas de cura pela doença.