É notório que a cada ano a ciência faz mais e traz mais novidades e avanços no tratamento e prevenção do câncer de mama. Sempre que chegamos ao congresso americano de Oncologia, logo sentimos a motivação que se expressa por meio dos 40 mil participantes que estão lá pelo mesmo motivo que nós: trazer mais vida, melhor vida, mais cura e menos câncer às nossas pacientes.

Este ano destacamos aqui alguns dos temas lá apresentados que consideramos importantes. Sem dúvidas o estudo mais importante apresentado no cenário da Oncologia Mamária foi o Monaleesa 7. Nesse estudo randomizado e de fase III, pacientes na pré-menopausa e com câncer de mama metastático com receptores hormonais positivos e Her-2 negativo foram randomizadas para receber Ribociclibe (um inibidor de ciclinas), associado à terapia endócrina, que poderia ser um inibidor de aromatase (sempre associado à supressão ovariana), ou tamoxifeno.

Os resultados são muito animadores e alegram a comunidade científica. O uso do Ribociclibe esteve relacionado à redução de 30% no risco de morte por câncer de mama. Nessa análise, após 42 meses do início do tratamento, 70% das pacientes em uso de Ribociclibe estão vivas e com boa tolerância ao tratamento, versus apenas 46% das pacientes tratadas apenas com terapia endócrina. É o primeiro estudo na história da Oncologia que mostra ganho de sobrevida global com essa nova e surpreendente classe de medicamentos, os inibidores de ciclina.

Outro dado muito marcante foi a apresentação dos resultados finais do estudo Cleopatra. Nesse já conhecido estudo em pacientes com doença metastática do subtipo Her-2 positivo, o uso de Pertuzumabe associado ao Trastuzumabe já havia sido reportado como causador de grande aumento no tempo de vida das pacientes. Agora, após 8 anos de seu início, os autores reportaram que essa associação resulta em redução de 31% no risco de morte pelo câncer de mama, sendo que praticamente 40% das pacientes recebendo a combinação de anticorpos estão vivas e mantendo boa qualidade de vida em 8 anos. Esse dado reforça a nossa prática clínica atual, que já contempla o uso dessas medicações na saúde privada no Brasil.

Com relação à imunoterapia no câncer de mama, tivemos um resultado negativo e um resultado que se reafirma como positivo. Um estudo randomizado de fase II, que analisou a associação de quimioterapia (Eribulina) com ou sem Pembrolizumabe (imunoterapia), em mulheres com câncer de mama metastático e com receptores hormonais positivos, infelizmente não mostrou nenhum sinal de atividade da imunoterapia para esse tipo de câncer.

Em contraponto, para as pacientes que apresentam o câncer de mama metastático do subtipo triplo negativo, a apresentação de uma atualização do estudo IMpassion130, que analisa o Atezolizumabe (imunoterapia), associado à quimioterapia (Nab-paclitaxel) no câncer de mama triplo negativo metastático, confirma o potencial da imunoterapia nesse cenário. O estudo mostrou que mais de 50% das pacientes que tem expressão positiva de PDL1 (no mínimo em 1% de suas células imunes), estão vivas em 2 anos de tratamento com a imunoterapia, contra 37% do grupo que usou apenas a quimioterapia, uma melhora clinicamente significativa de 7 meses na sobrevida mediana, de 25 versus 18 meses.

A cada participação no congresso mundial de Oncologia (ASCO) fica a certeza de que a ciência vem cumprindo seu dever em nos trazer destaques positivos, mostrando que estamos no caminho certo na busca e criação do conhecimento necessário para o tratamento do câncer.