Direto do Congresso Europeu em Barcelona

Terminou sábado, dia 23 de junho de 2018, o Congresso Mundial de Tumores Gastrointestinais, em Barcelona, na Espanha. Como resumo geral, foi um congresso muito mais voltado para a discussão de dados do que para apresentação de novos resultados.

Uma preocupação bastante evidente é com o contínuo aumento de custos em oncologia.  A ESMO fez grupos de trabalhos e tem tentado avaliar o real valor dos novos tratamentos, para emitir recomendações sobre a incorporação ou não na rotina. Isso ajuda a evitar a incorporação de tratamentos muito caros com benefícios práticos irrelevantes. No entanto, o que muito chama atenção é que nada tem sido discutido a respeito de precificação e mesmo da sustentabilidade do sistema; não se sabe o que fazer, por exemplo, com medicamentos muito caros e muito eficazes. Interessante avaliação foi apresentada, mostrando que os preços das novas drogas não se correlacionam com o valor e benefício que elas proporcionam.

Ressalto aqui a importância da formação de grupos como este no Brasil para avaliação de custo-efetividade dos medicamentos oncológicos e incorporação dos que realmente façam diferença na vida dos pacientes.

Seguem as principais mensagens deste Congresso por tipo de tumor:

Câncer de pâncreas: neste congresso se solidificaram alguns conhecimentos, como o uso de FOLFIRINOX (uma combinação de quimioterápicos) adjuvante, superando o uso de gemcitabina. A associação de quimioterapia com radioterapia neoadjuvantes demonstrou importante valor também. Mas nenhum novo medicamento surgiu.

Câncer colorretal: mais discussões foram feitas sobre a importância da lateralidade e da seleção de pacientes por meio da avaliação de mutações RAS e BRAF (testes feitos com amostras do tumor), mas ainda sem papel para avaliações mais amplas, como usando NGS (testes genéticos que avaliam múltiplas mutações genéticas simultâneas).

Uma nova droga com grande potencial foi apresentada, CEA-TBC. É um anticorpo monoclonal, com duas terminações. Uma anti-CEA e outra com ligação em linfócitos, misturando conceitos de terapia-alvo com imunoterapia. Cabe esperar resultados concretos.

Câncer de reto e de esôfago: tem aumentado a proporção de colegas que têm sugerido o acompanhamento vigiado, sem cirurgia, em pacientes com resposta clínica completa aos tratamentos neoadjuvantes (combinação de quimioterapia e radioterapia). E os resultados dos estudos parecem mostrar que realmente é seguro. Muito esforço tem sido colocado para transformar os tumores gastrointestinais em doenças mais responsivas à imunoterapia. Combinação com algumas terapias-alvo que tornariam os tumores mais imunogênicos estão sendo tentadas, mas ainda com resultados fracos.

Enfim, este é um dos bons congressos em tumores gastrointestinais, pois não foca somente em inovação, mas também na reflexão sobre como médicos estão tratando seus pacientes, apresentando dados do dia-a-dia, com visão crítica dos protocolos de tratamento usados.