Thaize Polizelli
Nutricionista clínica
Mestre em Ciência na área de Oncologia
CRN3 44807

A neutropenia nos pacientes oncológicos é causada pelo uso dos quimioterápicos. Neutropenia é caracterizada pelo nível reduzido dos neutrófilos, um tipo de leucócito, que ajuda no combate das infecções bacterianas e fúngicas. Assim, um paciente neutropênico apresenta maior vulnerabilidade para desenvolver infecções oportunistas graves.

Com o intuito de diminuir as taxas de infeção surge, em 1960, a ideia de uma dieta estéril na qual era permitido apenas alimentos estéreis por autoclavagem. Durante as décadas seguintes essas dietas sofreram alterações e, nos anos 2000, a definiram como dieta neutropenica, em que o paciente não pode comer principalmente frutas, verduras e legumes crus.

Mas será que essa abordagem nutricional realmente diminui a taxa de infecção em pacientes adultos em quimioterapia? A resposta ainda é inconclusiva. Muitas revisões sistemáticas encontradas na literatura mostram que adotar uma dieta neutropenica não diminui as taxas de infecção; poucas mostram um resultado significativo.

Os principais gluidelines como ASPEN e ESPEN reafirmam a necessidade de mais pesquisas. Mas, até que elas surjam, parece prudente fazer restrições aos alimentos de alto risco de contaminação enquanto se presta atenção na palatabilidade do paciente e se enfatiza a adesão estrita às diretrizes de segurança alimentar, que recomendam a lavagem das mãos e medidas de segurança alimentar na compra, armazenamento, preparação, descongelamento, cozimento, servir, recongelar e armazenamento refrigerado.

O consenso do Instituto Nacional de Câncer (INCA) recomenda higienizar frutas e verduras cruas com sanitizantes (uma colher de sopa de água sanitária diluída em um litro de água; deixar em imersão por 20 minutos), de acordo com a RDC nº 216/2004 da Anvisa, além do uso de água potável e consumo de alimentos como grãos, oleaginosas, frutas, verduras, legumes, carnes, ovos bem cozidos e leite e derivados somente pasteurizados e esterilizados.

A National Comprehensive Cancer Network, Oncology Nursing Society, The United States Department of Agriculture e a Food and Drug Administration estabelecem que as mesmas instruções de higiene dos alimentos feitas para a população em geral devem ser seguidas pelos pacientes imunodeprimidos e que mais estudos devem ser feitos.

Acreditamos que a conduta deve ser individual levando em conta a palatabilidade do paciente, já que sabemos que o tratamento altera o paladar. E antes mesmo de pensarmos em restrição alimentar, principalmente as ressalvas sobre frutas, verduras e legumes, o entendimento dele sobre o seu quadro de neutropenia é essencial para que tenha os cuidados com a alimentação e com a prioridade na higienização correta dos alimentos, manuseio, utensílios utilizados para o preparo e modo de armazenamento pós-cocção.

A restrição de frutas cruas e legumes e suas cascas pela dieta neutropênica poderia resultar em estados de deficiência de fibra e de vitaminas e minerais. Tais deficiências, particularmente de vitaminas A, C, B6, folato e zinco, que podem causar danos na mediação celular e ou respostas imunes humorais.

Além das potenciais desvantagens nutricionais da dieta neutropênica, existem considerações práticas que afetam a adesão da dieta como o alto custo financeiro, o sofrimento psicológico e a diminuição na qualidade de vida.

Então, nós, nutricionistas, devemos ponderar a saúde e a segurança alimentar dos nossos pacientes, juntamente com a sua qualidade de vida, embasando nossas condutas em medicina baseada em evidências e adequando o tratamento antineoplásico que se segue ao tratar ou prevenir desnutrição e sarcopenia.