O câncer de ovário é a quinta principal causa de morte por câncer em mulheres em todo o mundo, representando uma doença altamente letal devido à dificuldade em diagnosticá-lo precocemente. Conhecer os fatores de risco para o desenvolvimento desse câncer é essencial para o desenvolvimento de estratégias de prevenção, diagnóstico precoce e tratamento. Entre os fatores de risco bem estabelecidos estão a idade avançada, histórico familiar de câncer de ovário, mutações nos genes BRCA1 e BRCA2, além de condições ginecológicas, como a endometriose.
A endometriose é uma condição ginecológica crônica e complexa, caracterizada pelo crescimento de tecido endometrial (a camada mais interna do útero, e que se descama na menstruação) fora do útero, afetando predominantemente mulheres em idade reprodutiva. Estima-se que cerca de 10% das mulheres em todo o mundo sofram com a endometriose, sendo uma das principais causas de dor pélvica crônica e infertilidade. Embora a etiologia exata da endometriose ainda não seja completamente compreendida, fatores genéticos, imunológicos e ambientais têm sido implicados no desenvolvimento da doença. Estudos prévios já haviam demonstrada uma relação entre a endometriose e o risco de câncer de ovário, sugerindo um aumento no risco da ordem de duas vezes.
Recentemente, um grupo de pesquisadores liderados pela Dra Mollie Barnard, da Universidade de Utah, nos EUA, publicou um importante estudo com o objetivo de avaliar a relação entre diferentes tipos de endometriose e o risco de câncer de ovário, dividido por subtipos. Esse estudo traz contribuições importantes ao reforçar a ligação entre diferentes subtipos de endometriose e o risco de desenvolvimento de câncer de ovário, com foco especial nos tipos histológicos do tumor.
Os principais achados revelam que as mulheres com endometriose têm um risco 4 vezes maior de desenvolver câncer de ovário em comparação àquelas sem endometriose. Um dado novo e que chama a atenção é de que o risco é ainda maior para as mulheres com endometriose acometendo os ovários e/ou outros órgãos profundos. Para essas, o aumento de risco é de quase 10 vezes, para todos os tipos de câncer de ovário e, se considerarmos os tumores chamados do tipo I (endometrioide, células claras, mucinoso e seroso de baixo grau) o aumento de risco chega a 19 vezes. Isso é importante pois indica uma forte correlação entre os subtipos mais graves de endometriose e subtipos de câncer de ovário que são agressivos e menos responsivos à quimioterapia.
Isso reforça a necessidade de desenvolvimento de estratégias de diagnóstico e tratamento da endometriose, especialmente dos subtipos mais graves da doença, com intuito de prevenção do câncer de ovário. Além disso, ressalta a importância de manter essas mulheres em um acompanhamento clínico mais rigoroso, incluindo a necessidade de novas pesquisas sobre possíveis intervenções preventivas que possam ser aplicadas a esse grupo de risco.
Referências
- Barnard ME, Farland LV, Yan B, et al. Endometriosis Typology and Ovarian Cancer Risk. JAMA. 2024; 332(6):482-489. doi: 10.1001/jama.2024.9210.
- Instituto Nacional de Câncer (INCA). Estatísticas de câncer. Disponível em: https://www.inca.gov.br/numeros-de-cancer. Acessado em 20 de agosto de 2024.
- Paulino E, de Melo AC, Silva-Filho AL, et al. Panorama of Gynecologic Cancer in Brazil. JCO Glob Oncol. 2020; 6:1617-1630. doi: 10.1200/GO.20.00099.
- Shafrir AL, Farland LV, Shah DK, et al. Risk for and consequences of endometriosis: A critical epidemiologic review. Best Pract Res Clin Obstet Gynaecol. 2018 Aug;51:1-15. doi: 10.1016/j.bpobgyn.2018.06.001.