As datas chamativas e comemorativas que se relacionam ao diagnóstico e tratamento do câncer percorrem o ano todo. Em algumas delas o ponto alto é a prevenção, ou o impacto do diagnóstico precoce. Em outras a ênfase está no acolhimento ao paciente, e, não raramente, tem se mencionado nas mídias o “combate científico”, mais pronunciado com as discussões acerca de novas terapias e descobertas promissoras.
É mesmo verdadeiro que uma doença complexa como o câncer demande de muitas atenções e ações. Em partes, o que vemos veiculado é a forma como conseguimos nos organizar enquanto sociedade para enfrentar essa condição tão desafiadora. Considero cada pontinha de ação pensada em qualquer parte do mundo como muito valiosa.
Mas e o que eu vejo enquanto médica que trata pacientes com câncer?
Eu vejo pessoas que tem toda a sua perspectiva de vida mudada, seja com o diagnóstico de doença inicial ou em fase avançada, com desafios muito intensos de diversas ordens.
Eu vejo mães que adoecem e seguem cuidando de seus filhos, carregando suas angustias e efeitos colaterais junto com eles. Vejo pacientes que colocam o medo numa gaveta a ser aberta um dia, e se enchem de sacolas de exames, que são mesmo, na maioria das vezes, tão necessários para que nós médicos consigamos propor um bom plano terapêutico. Vestem a coragem que tem para ouvir o que pode ser feito, o que quase sempre é algo que impactará suas vidas para sempre.
Ao prescrever os remédios contra o câncer jamais me esqueço dos cientistas que se debruçam em bancadas para descobrir uma possível cura, ou um tratamento que faça um semelhante viver mais longamente ou viver melhor.
E ao falar dos remédios que tratam o câncer também se faz necessário lembrar que a complexidade da doença e dos tratamentos extravasa para a discussão de fontes de pagamento, fontes regulatórias e acesso, já que os custos estão cada vez mais onerosos.
E nesse enfrentamento todo, o que cada um de nós pode fazer que ajude a prosperar o bem, a calma e o acalento de quem adoece?
É necessário estar junto. Estar presente na hora que o familiar, ou o amigo adoecido recebe uma notícia difícil. Estar lá onde outro corpo carece de um abraço, de companhia ou mesmo de distração. Agendar os tantos exames que chegam a se emaranhar. Segurar a mão. Enxugar lágrimas. Ligar uma música. Levar os filhos para passear. Propor uma massagem. Achar um centro de pesquisa promissor.
Sendo conhecedora das estatísticas do câncer, é certo que existe alguém que você conheça que está enfrentando um adoecimento ameaçador. Esteja com essa pessoa. E nos dias de hoje nem é necessário estar perto para estar junto, temos a tecnologia nos aproximando e facilitando nosso convívio. Existem inúmeras formas de ser apoio.
No enfrentamento do câncer, o cientista continuará seu lindo trabalho com novas descobertas, os profissionais de saúde seguirão buscando trazer a cura ou alívio, os órgãos regulatórios devem assegurar o acesso ao que há de melhor, e, não menos importante, que você possa ser apoio para alguém. Que esteja presente onde presença também é uma forma de cura.