Deixar de viver é uma saída considerada por muitos em momentos de crise. Embora a temática ainda seja tabu, a ideia de abandonar a vida aparece em pessoas de todas as idades.        A ligação do comportamento suicida com doenças mentais; principalmente depressão e uso excessivo de bebidas alcoólicas; é algo bastante estabelecido. Outros fatores relacionados incluem a exposição a situações de abuso, violência, isolamento emocional e dor crônica, assim como momentos de crise, incluindo término de relacionamento, morte de pessoas próximas e até problemas financeiros; todos relacionados com a sensação de falta de esperança.

Em resumo, o suicídio tem determinantes complexos e não é incomum que características impulsivas façam parte da equação, particularmente em homens, principalmente quando conjugadas ao consumo de álcool e outras drogas.

A pergunta que não quer calar é: deve-se falar sobre o assunto? Isso não pode funcionar como estímulo à própria prática do suicídio? A literatura recente tem mostrado que, ao contrário, conversar sobre o tema, de modo sério, com base científica, pode ser uma das melhores maneiras de prevenção do ato. Não estamos falando de divulgar episódios pela imprensa e pelas mídias sociais, falando de detalhes pessoais mórbidos, ou o método utilizado por determinado indivíduo. Isso, sim, poderia estimular o chamado suicídio por contágio.

Estamos falando aqui de buscar compreender e lidar de modo responsável com o desespero e a dor, de tentar acompanhar o percurso de sentimentos que, às vezes, nascem e se desenvolvem nas pessoas. Por seu lado (e isto é muito importante), sentimentos suicidas são temporários. O que aparece como a única solução em um momento frequentemente muda de figura minutos, horas ou dias depois. E é justamente aí que técnicas de prevenção têm sido propostas nos últimos anos.

O Plano de Segurança para Prevenção do Suicídio, criado por pesquisadores da Universidade de Columbia, é um dos métodos que podem ser utilizados individualmente ou como parte de um programa de tratamento. Trata-se de intervenção breve e construída de maneira colaborativa entre profissional e paciente, com ênfase em uma lista de estratégias de enfrentamento para serem utilizadas durante o início de uma crise suicida.

Seu objetivo é auxiliar o indivíduo a recobrar o sentimento de controle ao ter em mão uma lista de recursos objetivos e individualizados que o ajudarão a enfrentar a angústia em momentos em que a capacidade de resolver problemas se encontra muito reduzida. Comportamentos suicidas não são raros, principalmente em épocas de crise. A saúde mental precisa e pode colaborar com os que precisam de ajuda nessas horas.

 

Referencias

– Machado, Daiane Borges e Santos, Darci Neves dos Suicídio no Brasil, de 2000 a 2012. Jornal Brasileiro de Psiquiatria [online]. 2015, v. 64, n. 1 [Acessado 2 Agosto 2021] , pp. 45-54.

– Gonçalves LRC, Gonçalves LRC, Gonçalves E, Oliveira Junior LB. Determinantes espaciais e socioeconômicos do suicídio no Brasil: uma abordagem regional. Nova Economia 2011; 21(2):281-316

– Bertolote, J. M. (2012). O suicídio e sua prevenção. São Paulo, SP: Ed. Unesp.