A atual pandemia que vivemos nos forçou a aprender sobre diversos temas que não fazem parte da nossa prática diária. O Grupo SOnHE, formado por médicos oncologistas e hematologistas, teve de incorporar na prática onco-hematológica o conhecimento e os cuidados sobre essa “não mais tão nova” doença causada pelo coronavírus. Muitos dos nossos pacientes se encaixam como grupo de risco para a afecção da COVID-19 e, portanto, cabe a nós orientá-los sobre as diversas situações que permeiam este assunto.
Muito se falou sobre as consequências da infecção do coronavírus. A disfunção respiratória é, de todas, a mais temida. Entretanto, a doença pode cursar com sintomas e até sequelas não tão usuais: é o caso da perda de olfato. 10 a 15% dos infectados pelo vírus poderão cursar com perda de olfato (conhecida tecnicamente como anosmia) por algum período. Em alguns casos, essa condição pode se estender e se tornar inclusive uma sequela.
O programa Mostre-me a Evidência de hoje (fugindo um pouco da Oncologia em si) traz a evidência que mostra como a perda de olfato pela COVID-19 pode ser tratada ou amenizada com o simples (e delicioso!) hábito de degustar vinhos.
Isso mesmo; vinho!
Um grupo de pesquisadores alemães, referência em tratamentos de distúrbios do olfato, desenvolveu pesquisas com uma técnica chamada de “smell training” (em português: treinamento do cheiro). Esta modalidade consiste no ato de cheirar substâncias que possuem um cheiro forte e marcante (como vinhos e outros: café, mostarda, perfumes, produtos de limpeza) com os olhos vendados para não poder para identificá-las com a visão. O desempenho dessa prática de maneira periódica e repetitiva mostrou impacto positivo na recuperação da anosmia por diversas causas, entre elas após infecções virais. Por isso, esta modalidade foi recentemente introduzida num guideline britânico de rinologia como uma das práticas para manejo dos distúrbios do olfato relacionados à COVID-19.
O hábito de beber e degustar vinhos é, sem sombra de dúvidas, muito agradável e prazeroso. Quando feito com moderação e respeitando as condições de saúde de cada indivíduo, pode ser estimulado e praticado. Quem já degustou vinhos certamente conhece a importância da olfação para a degustação. Utilizar o “smell training” pode, sim, auxiliar na recuperação pós-COVID.
É isso por hoje! Acompanhe o Grupo SOnHe nas redes sociais. E cuidem-se para que, em breve, esta pandemia seja somente uma lembrança.
Referência: HOPKINS, Claire; ALANIN, Mikkel; PHILPOTT, Carl; HARRIES, Phil; WHITCROFT, Katherine; QUREISHI, Ali; ANARI, Shahram; RAMAKRISHNAN, Yujay; SAMA, Anshul; DAVIES, Elgan. Management of new onset loss of sense of smell during the COVID‐19 pandemic ‐ BRS Consensus Guidelines. Clinical Otolaryngology, [S.L.], p. 1-18, 24 set. 2020.