A quimioterapia faz parte da rotina de tratamento de muitos pacientes que são diagnosticados com câncer. É nítido para nós, oncologistas, que esse processo de receber a quimioterapia (o qual geralmente consome pelo menos duas horas do dia dos pacientes) associado à rotina que o tratamento exige (consultas, exames, etc.) é muito desgastante física e emocionalmente. Cabe à equipe multidisciplinar, em sincronia com o paciente e sua família, encontrar uma maneira de minimizar o impacto dessa rotina do tratamento na qualidade de vida do paciente.

Muitos estudos foram desenvolvidos para tentar quantificar a qualidade de vida dos pacientes nos mais diversos rituais do tratamento oncológico, em especial durante a quimioterapia. Parece “exótico”, mas como nós do Grupo SOnHe temos o paciente como o “ator principal” deste drama chamado câncer, achamos (muito!) interessante trazer para o programa “Mostre-me a Evidência” o artigo que foi publicado este ano no JAMA Network, que avaliou a qualidade de vida de pacientes em quimioterapia e o hábito de assistir filmes da Disney® (isso mesmo!).

Este estudo acompanhou 50 mulheres em tratamento para câncer ginecológico, as quais foram divididas em dois grupos: 25 delas assistiram filmes da Disney® durante as sessões de quimioterapia e as outras 25, não. As pacientes responderam questionários sobre qualidade de vida e sensações como fadiga e estresse físico e emocional; os resultados são muito interessantes.

O estudo mostrou que assistir filmes da Disney® durante a quimioterapia pode, sim, melhorar o status emocional e a qualidade de vida dos pacientes, além de reduzir o estado de fadiga comumente relatado após as sessões. E o motivo disso vai alem da distração naquele momento “desagradável”: se pararmos para refletir, os filmes da Disney® nos contam histórias de superação de dificuldades sem necessariamente resolvê-las. Nos trazem roteiros sobre vencer (de maneira heroica) as dificuldades, tendendo a um final feliz, mas sempre com um pouco de tristeza. Frequentemente, os personagens lidam com morte e perda, condições estas que muitas vezes vem à tona com o diagnóstico de câncer na vida real. Mas, ao fim, os protagonistas dos filmes amadurecem e as coisas melhoram.

Essa intersecção entre o mundo da ficção e a vida real das pacientes que estão sentadas esperando o término daquele soro é algo que certamente acalma e torna a circunstância menos desagradável. É possível dizer que um pouco do “felizes para sempre” ou do “final feliz” dos filmes é passado ao paciente que está vivendo um momento delicado. Finalizo lembrando que saúde não se resume apenas ao estado físico; o bem-estar mental e social também estão incluídos nesta definição.

É isso por hoje!