A Anvisa aprovou na última semana o medicamento Larotrectinibe (Vitravki®) para utilização no Brasil. Esta não é uma novidade qualquer, pois trata-se da primeira terapia-alvo liberada em solo brasileiro que tem indicação independente do tipo de tumor. No caso, esta droga atua em uma proteína que está alterada em diferentes tipos de câncer, o que tem se tornado uma tendência da Oncologia nos últimos anos e trazido benefícios a cada vez mais pacientes.

O Larotrectinibe é um inibidor de uma proteína mutada (de fusão) chamado receptor TRK (Tropomyosin receptor kinase), presente na membrana celular de algumas neoplasias malignas (1% do total, aproximadamente). Esse receptor na sua forma normal NTRK (Neurotrophic receptor tyrosine kinase) está presente em células do sistema nervoso (neurônios), nas quais sua ação é a de promover o crescimento e sobrevivência celular de forma controlada. Entretanto, por uma alteração genética (fusão de partes de 2 genes) que surge durante alguma divisão celular, os tumores malignos podem apresentar a forma mutada deste gene, o qual leva à produção da proteína TRK alterada. Esta, por sua vez, tem um comportamento diferente do habitual e promove a divisão celular de forma contínua e descontrolada, desenvolvendo o câncer.

A aprovação do Larotrectinibe se baseou em um estudo publicado em 2018 no New England Journal of Medicine, uma das mais conceituadas revistas científicas médicas do mundo. Os pesquisadores avaliaram a ação da medicação em questão em 55 pacientes (adultos e crianças) com diversos tipos de tumores, que apresentavam a mutação do gene TRK e que tivessem falhado aos tratamentos-padrão para a sua doença. Os resultados mostraram altíssimas chance de diminuição do câncer (75%) e duração de resposta (71% com resposta mantida após 12 meses), associadas a uma taxa de efeitos colaterais graves muito baixa (7%).

Interessante destacar que esse foi um estudo pequeno, de fase precoce e que não comparou pacientes com ou sem a medicação, porém, como o efeito é muito claro e racional, tornou-se suficiente para a aprovação no mundo (nos EUA e na Europa, foi aprovado em novembro do ano passado).

Vale lembrar que a liberação pela ANVISA não supõe a obrigatoriedade de disponibilização pelos planos de saúde, já que tal deliberação depende de outras diretrizes legais (inclusão no rol da ANS).

O Larotrectinibe é um exemplo da personalização da Oncologia que tem ocorrido e que deve crescer rapidamente nos próximos anos. O objetivo é dar o tratamento certo para o paciente certo, promovendo sobrevida e qualidade de vida, pois o foco é sempre o paciente.

Referências:

http://www.in.gov.br/web/dou/-/resolucao-re-n-1.739-de-27-de-junho-de-2019-180788963?inheritRedirect=true&redirect=%2Fsearch%3FqSearch%3Dlarotrectinibe

Drilon A, et al. Efficacy of Larotrectinib in TRK Fusion–Positive Cancers in Adults and Children. N Engl J Med 2018;378:731-9