Quantas vezes não procuramos nosso médico buscando alívio para um sofrimento que não sabemos bem a que se refere, do que se trata, ou mesmo se é uma dor ou apenas um mal-estar? Muitas vezes até notamos que quando estamos inseguros, certos sintomas pioram ou, só de escutar a voz do médico, alentecem. Outras vezes, aquelas dores que desapareciam com analgésico comum, depois de recebida aquela má notícia, não melhoram mais.

O sofrimento humano pode ter inúmeras origens, assim como diversas concepções, a depender da cultura e da época na qual o mesmo está inserido. Está associado à presença de um estado de aflição severa, relacionado aos acontecimentos que possam ameaçar a integridade de uma pessoa. Usualmente, está ligado às emoções como tristeza, frustração, impotência e, para além de sintomas físicos e psicológicos, o indivíduo que sofre ainda tem preocupações direcionadas à comunidade na qual está inserido, à família e ao trabalho: “como ficarão com minha ausência (definitiva ou temporária)?”.

Considerando sua origem, sofrimento humano primeiramente é uma experiência individual, subjetiva, pessoal e exige consciência de si e de sua função no mundo. Só quem sofre sabe o que realmente está passando. Logo, tem efeitos nas relações interpessoais e impactos no corpo. Pode advir de qualquer dimensão do ser humano, (social/ familiar, física, psicológica, espiritual, ético-moral), ainda que quem sofra seja a pessoa no seu todo.

O sofrimento tem ligação direta com o tempo, uma vez que influencia a percepção de eventos presentes e futuros. O que está por vir também pode trazer medo e inseguranças, que inclusive podem acentuar sintomas físicos e psicológicos. Além disso, memórias do passado também podem interferir na maneira como entendemos e sentimos a doença atual. Vivências anteriores como hospitalizações, assistências médicas, sucessos e insucessos, contribuem para formar o sentido atual do que nos acontece e como enfrentamos e lidamos com uma situação nova. Da mesma forma, experiências prévias de enfermidades na família também corroboram para dar significado ao evento presente.

Além disso, o sofrimento traz questionamentos sobre o real sentido da vida, sobre o que é de valor ou sagrado para cada indivíduo, assim como inquietações filosóficas em momentos de vislumbre de finitude de vida, desintegração interna, despersonalização e descaracterização diante de uma enfermidade ameaçadora.

Por muito tempo, a medicina tradicional que conhecemos hoje contribuiu para que se dicotomizasse a relação mente-corpo, ignorando estas diversas dimensões que compreendem o ser humano em sua complexidade. Atualmente, cada vez mais profissionais de saúde têm buscado entender todos esses aspectos e a melhor maneira de abordá-los.

Este tem sido o objetivo primordial de uma especialidade multidisciplinar conhecida como Cuidado Paliativo, que integra todas estas facetas, buscando alívio e prevenção de sofrimento, assim como traça objetivos e planos de cuidado que realmente impactem na melhora da qualidade de vida tanto do paciente, como da família. É o respeito à autonomia e ao que é de valor para cada indivíduo, o reconhecimento do paciente na sua mais pura humanidade, com todas as suas nuances, e o olhar pela compaixão que permitem que a vivência de uma doença grave, oncológica, ressignifique uma existência e, com isso, a torne também mais leve.

O que tem feito você sofrer hoje?