Juliana Nabarrete, nutricionista

 

Que a alimentação tem um papel importante na prevenção de inúmeras doenças, entre elas vários tipos de câncer, já é fato conhecido por todos. Aliás, já dizia Hiócrates há 2.500 anos: “Que o teu alimento seja o teu remédio e que o teu remédio seja o teu alimento”. Mas, e após o diagnóstico, será que realmente a avaliação de um nutricionista é necessária?

Óbvio que para um nutricionista falar que sim é natural, mas será que os pacientes e equipe médica conseguem e também entendem a importância? A nutrição é a ciência que estuda as relações entre os alimentos, os nutrientes ingeridos e o ser humano, e, ainda, os possíveis impactos na saúde. Uma nutricionista pode atuar em consultórios, hospitais, restaurantes, hotéis, supermercados e na indústria de alimentos, com foco geral de difundir informações sobre alimento e comportamento alimentar na prevenção de doenças. Vai muito além do peso ou da imposição de hábitos alimentares.

No paciente em tratamento oncológico, a importância vai além do controle de peso ou controle de sintomas. A assistência nutricional consiste desde um aconselhamento nutricional, indicando ao paciente escolhas e estratégias alimentares que fortaleçam o organismo durante o tratamento, até a junção do aconselhamento com uma avaliação corporal detalhada, com mensuração de peso, composição corporal (músculo e gordura) e força muscular e avaliação da rotina alimentar.

A desnutrição, comum em até 50% dos pacientes, nem sempre apresenta a forma clássica com grandes perdas de peso visíveis. Muitas vezes o paciente acima do peso ou dentro do peso ideal apresenta sutis perdas peso, que consistem mais em massa magra do que em gordura, fato esse conhecido como sarcopenia.

Mucosite, diarreia, vômitos e perda de apetite impactam negativamente a ingestão alimentar, levando a perda ou ganho insuficiente de peso e, assim, faz-se necessário implementação de condutas complementares na alimentação.

Nestes dois momentos, o nutricionista tem papel essencial, não só no manejo, mas principalmente na identificação precoce de pacientes que possam se beneficiar da assistência nutricional. Para isso é necessário que todos os pacientes com câncer sejam avaliados regularmente para risco nutricional, a fim de identificar aqueles que precisam de avaliação completa.

Dados recentes demonstram que o encaminhamento para nutricionista ocorre de maneira tardia, quando já há perda de peso superior a 5% ou presença de sintomas como anorexia, náusea e saciedade precoce, porém mais de ¼ dos pacientes deveriam ter sido referenciados mais cedo. Esses dados podem ser avaliados por meio de triagem nutricional, realizada por nutricionista ou em parceria com a equipe de enfermagem.

Mas isso não caracteriza o controle de peso ou controle de sintomas? Não. A importância da nutrição na Oncologia se caracteriza em monitorar os pacientes em tratamento e identificar como eles estão com relação à alimentação, os sintomas, a rotina em casa e peso, com o objetivo de minimizar os agravos no estado nutricional, ou seja, alterações de peso e acometimento de sintomas em graus avançados.