Nos últimos dias, aconteceu em Munique, na Alemanha, um dos mais importantes congressos de oncologia, o ESMO, Congresso da Sociedade Europeia de Oncologia e mais de 24.000 especialistas de todo o mundo se reuniram para discutir os mais recentes avanços nessa área. E o tratamento do câncer de pulmão, como não poderia deixar de ser, foi tópico em destaque com vários trabalhos apresentados, mostrando resultados promissores. As drogas mais comentadas foram as terapias-alvo e as imunoterapias, como aconteceu em outros congressos recentes.

O primeiro trabalho importante foi o ALESIA, que comparou paciente com adenocarcinoma de pulmão metastático com rearranjo do ALK, alectinib versus crizotinib, em primeira linha, mas, nesse caso, em população asiática, o que difere esse trabalho do estudo “ALEX”, com desenho parecido, porém com população de todo o mundo. E os resultados confirmam os achados no estudo ALEX, com ganho de sobrevida livre de progressão para o grupo que fez uso do alectinib, um impressionante HR de 0,22, com taxas de resposta também superiores e maior ação em sistema nervoso central, com menor progressão cerebral. Os dados de sobrevida global são imaturos, mas há uma tendência a ser favorável ao alectinib com um HR de 0,28 nessa primeira análise.

Outro dado mostrado no congresso foi uma análise de pacientes com adenocarcinoma de pulmão metastático para cérebro, feita no estudo ALTA-1,cque comparava um outro inibidor de TKI de 3ª geração (assim como o alectinib), chamado brigatinib versus crizotinib,  em primeira linha. E essa análise comprova que os inibidores de TKI de 3ª geração são muito superiores aos de 1ª geração em relação à ação em sistema nervoso central. Brigatinib teve sobrevida livre de progressão cerebral e tempo para progressão cerebral muito superiores ao crizotinib, com redução de mais de 70% na chance de progressão em SNC, em 1 ano.

Mais um importante dado: uma análise dos estudos FLAURA e AURA, que comparavam o uso de osimertinib em pacientes com adenocarcinoma de pulmão metastático com mutação do gene EGFR com um inibidor de EGFR de 1ª geração, em primeira e segunda linha, respectivamente. Foram feitas análises de biópsias líquidas para mostrar quais seriam as mutações potencialmente envolvidas como mecanismo de resistência ao osimertinib. Várias mutações diferentes parecem participar desta resistência, mas a amplificação do MET se destaca entre elas. E alguns estudos ainda em fases iniciais mostraram alguns resultados animadores com  inibidores do MET nesse contexto .

Duas drogas promissoras e com mecanismo de ação novo são o Entrectinib e Larotrectinib, drogas inibidoras de um gene chamado NTRK. Os estudos apresentados não foram específicos para câncer de pulmão, mas mostraram que em tumores sólidos diversos – tanto em adultos quanto em crianças – quando esses tumores apresentavam mutações/fusões do NTRK o uso destas drogas apresentou taxas de respostas que variaram de 54-80%, o que realmente impressiona positivamente.

Com relação à imunoterapia, foram apresentadas algumas atualizações de estudos já mostrados anteriormente, como uma análise de subgrupo do estudo PACIFIC, que usou Durvalumab após quimioterapia + radioterapia em pacientes com câncer de pulmão não pequenas células estádio IIIA e IIIB. Essa análise de pacientes com PDL-1 negativo mostra que aparentemente a magnitude do ganho nestes pacientes foi menor do que para os pacientes com PDL-1 positivos, mas trata-se de uma análise de subgrupo não planejada e, portanto, não muda nossa prática clínica no dia a dia.

Foram interessantes alguns estudos de imunoterapia no contexto neoadjuvante, com destaque para o estudo NEOSTAR, estudo de fase II, que comparou nivolumab (3 ciclos na dose de 3mg/kg a cada 14 dias) com nivolumab+ipilimumab (1 mg/kg de cada droga, 1 ciclo) em pacientes com câncer de pulmão não pequenas células estádios I- IIIA operáveis na neoadjuvância. O end point era taxa de resposta patológica maior (< 10% de tumor viável). As taxas de resposta patológica maior foram de 27% para a combinação e 25% para nivolumab isolado. Estudo anterior publicado no N. Engl J Med havia mostrado taxa de resposta maior com nivolumab em neoadjuvância da ordem de 45%. O uso da imunoterapia na neoadjuvãncia também parece mudar o perfil de resposta imunológica do organismo, o que poderia influenciar na evolução da doença após a ressecção do tumor, ou seja, nas chances de recidiva tumoral. Os dados de inibidores de CTLA-4 e PDl/PDL-1 em neoadjuvância ainda são inicias e ainda temos um longo caminho pela frente para entendermos estes mecanismos.

Chega ao fim mais um congresso com excelentes resultados; mas, como sempre, com novas perguntas e é isso que estimula novos estudos e novas pesquisas, sempre no intuito de melhorar ainda mais os ganhos para nossos pacientes.