Desde 1986, o dia 29 de agosto foi escolhido como o Dia Nacional de Combate ao Fumo para conscientizar as pessoas dos malefícios que o cigarro traz para a saúde. O que nas décadas de 50 a 80 era considerado chique e glamoroso – pois o cigarro sempre estava nos filmes de Hollywood e nas propagandas de esportes – já logo no início da década de 1980 começou a mostrar que as consequências eram terríveis. Vários estudos já demonstravam as tragédias relacionadas ao hábito de fumar e as várias doenças relacionadas, como o enfisema pulmonar, fibrose pulmonar, câncer de pulmão, câncer de cabeça e pescoço e vários outros tipos de câncer. Mas, infelizmente, o cigarro já era usado por um enorme número de pessoas no mundo e com a altíssima dependência que a nicotina causava, o planeta já começava a ficar com dificuldade de respirar, asfixiado. Eram necessárias ações rápidas e eficazes para alertar as pessoas.

 O cigarro é a maior causa de morte, de doença e de empobrecimento no mundo. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima para 2023 mais de 8 milhões de mortes por doenças causadas pelo hábito de fumar. Desses, cerca de 1,2 milhões são tabagistas passivos. Só no Brasil, são cerca de 430 mortes por dia relacionadas ao tabagismo. Mais de 170 mil mortes ao ano.

No mundo, são 1,1 bilhão de tabagistas e 80% deles estão em países de baixa ou média renda, onde os impactos do cigarro são ainda maiores. As pessoas que morrem prematuramente pelo cigarro, diminuem a renda de suas famílias, aumentam os gastos públicos com saúde e atrasam o desenvolvimento econômico, sem falar na parte social e emocional da perda de um familiar. O cigarro mata metade de seus usuários.

 São mais de 4.800 compostos químicos em um único cigarro, dentre os quais mais de 70 são sabidamente cancerígenos. É a maior causa evitável de morte e disparado o maior fator de risco para o desenvolvimento de câncer. Está relacionado a quase todos os tumores, com particular importância para as neoplasias de pulmão, cabeça e pescoço, bexiga e trato gastrointestinal. Especialmente, em relação ao câncer de pulmão, 15% de quem fuma deverá desenvolver esse tipo de câncer em algum momento da vida, além disso, 80 a 90% de quem tem o diagnóstico de neoplasia pulmonar é tabagista. Ainda, cerca de 80% dos tumores de pulmão são descobertos em fases avançadas, com metástases, quando o câncer já se espalhou pelo corpo e a chance de cura é muito baixa. São 2 milhões de casos novos de câncer de pulmão diagnosticados todos os anos no mundo, com 1,7 milhões de mortes.

Cerca de 80% dos tumores de cabeça e pescoço, que é o terceiro tipo de câncer mais comum no Brasil, e por volta de 70% das neoplasias de bexiga também estão relacionados ao tabagismo. O cigarro, portanto, tem um poder destrutivo imenso capaz de comprometer a qualidade de vida e ceifar vidas de pessoas ainda jovens e produtivas.

Além disso, o tabagismo é o segundo fator de risco mais importante para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares (perdendo apenas para hipertensão arterial), lembrando que essas doenças são as que mais matam no Brasil e no mundo. É ainda o principal fator relacionado a doenças respiratórias como asma, bronquite, enfisema pulmonar. Está associado a impotência sexual, infertilidade, menopausa precoce nas mulheres e uma série de outras enfermidades.

Os pacientes que fumam têm em média 14 anos menos de expectativa de vida em relação a quem não fuma. Além disso, está cada vez mais claro que os tabagistas passivos (aqueles que não fumam, mas convivem de perto com quem fuma) também tem mais chances de desenvolver câncer, doenças cardíacas e pulmonares. E as crianças são as mais atingidas pelo tabagismo passivo. Cerca de metade das crianças no mundo estão expostas e respiram o ar contaminado pela fumaça do cigarro. E são elas que mais sofrem com problemas pulmonares, especialmente as mais novas. De todas as mortes causadas pelo cigarro, 12% são de fumantes passivos. O impacto na economia é de mais de US$ 56 bilhões ao ano, com tratamentos de doenças tabaco correlacionadas e com a perda precoce de vidas.

 

Por que é tão viciante?

A nicotina contida no cigarro atinge rapidamente o cérebro e, em menos de 10 segundos, libera vários neurotransmissores relacionados à sensação de bem-estar e prazer, como a dopamina. Por isso, o cigarro é tão viciante e um hábito difícil de abandonar.  Daquelas pessoas que desejam abandonar o vicio menos de 5% tem sucesso sem ajuda de um profissional.

Por outro lado, alguns benefícios de parar de fumar são imediatos: em 20 minutos o ritmo cardíaco e a pressão arterial baixam; em 12 horas, o nível de monóxido de carbono no sangue cai para o normal; de duas a 12 semanas, a circulação sanguínea melhora e a função pulmonar aumenta; entre um a nove meses, a tosse e a falta de ar diminuem; em um ano, o risco de desenvolver uma doença coronariana cai pela metade (em relação a um fumante); entre cinco  e quinze anos, o risco de ter um acidente vascular cerebral é reduzido ao de um não fumante; em 10 anos, o risco de câncer de pulmão cai para cerca de metade em relação a um fumante e o risco de câncer de boca, garganta, esôfago, bexiga, colo do útero e pâncreas também diminui.

Na tentativa de diminuir o tabagismo e com isso as doenças a ele relacionadas, vários países passaram a adotar medidas que estimulassem o abandono do cigarro e outras que evitassem o início do tabagismo. Nesse contexto, o Brasil ganhou lugar de destaque ao ser o segundo país a conseguir implementar de forma eficaz todas as 6 medidas sugeridas pela OMS chamadas de Mpower (plano para reverter a epidemia do tabaco) e conseguir reduzir de forma consistente o número de pessoas que fumam. Os esforços para essa redução começaram em 1990, quando profissionais de estados e municípios foram   treinados pelo Instituto Nacional do Câncer (INCA) para tratarem pacientes tabagistas no SUS e o tratamento começou a ser oferecido de forma gratuita.

Outras medidas importantes foram o aumento de impostos sobre os cigarros, que chegaram a 83%, em 2018, a proibição de  propagandas em televisão e revistas, a obrigatoriedade de se estampar as embalagens de cigarro com fotos e frases que mostrassem os efeitos devastadores do vício e, por fim, a proibição do fumo em locais fechados de uso coletivo. Todas essas medidas levaram o Brasil a reduzir em mais de 50% o número de pessoas que fumam nos últimos 25 anos (34% da população, em 1989, e 10%, atualmente), o que ainda corresponde a mais de 20 milhões de tabagistas.

Além do cigarro, existem os charutos, cachimbos, cigarros de palha, narguilés e, mais recentemente, os cigarros eletrônicos. Algumas pessoas defendem esses tipos de fumo, alegando serem menos prejudiciais. No entanto, isso não é verdade. Alguns deles, como narguilé, são ainda mais nocivos.

 

Cigarro eletrônico

O cigarro eletrônico tem servido de porta de entrada para os mais jovens no vício. O uso de cigarro eletrônico vem crescendo no Brasil (onde a comercialização é proibida, o que não impede o acesso fácil) e no mundo.  De acordo com relatório divulgado em maio de 2022 pelo sistema Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), do Ministério da Saúde, pelo menos um a cada cinco jovens de 18 a 24 anos usa cigarros eletrônicos no Brasil. Do mesmo modo, a última pesquisa Covitel, desenvolvida pela organização global de saúde pública Vital Strategies e pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel), mostra que os adultos jovens apresentaram as maiores prevalências de experimentação de cigarro eletrônico (19,7%) e de narguilé (17%), no país, no ano passado. O consumo desses produtos é considerado modismo no Brasil e segue o comportamento observado em outros países, como Estados Unidos e Reino Unido, onde é permitida a comercialização.

Estudo recente, divulgado no fim de junho pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC), informa que as vendas mensais de cigarros eletrônicos aumentaram 46,6%, passando de 15,5 milhões de unidades, vendidas em janeiro de 2020, para 22,7 milhões, em dezembro de 2022 naquele país. Esse incremento considera somente as vendas de varejo, excluindo o comércio online. Seus efeitos deletérios ainda não são completamente conhecidos, mas o Centro de Controle de Doenças dos EUA já divulgou várias mortes associadas diretamente ao uso do cigarro eletrônico.

Por isso, o dia 29 de agosto foi escolhido como Dia Nacional de Combate ao Cigarro, para orientar e reforçar junto à população as consequências sociais, políticas e econômicas do habito de fumar e chamar a atenção para os malefícios e danos causados a saúde de quem fuma ou convive com quem fuma. Vamos alertar a todos sobre a importância de abandonar o cigarro e para aqueles que realmente desejam parar, fica a orientação de procurar um profissional da área da saúde, seja no SUS, ou no ambiente privado, para obter auxílio contra esse que é, sem dúvida, o maior vilão da humanidade.