Agosto foi o mês escolhido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para conscientização sobre o linfoma. Trata-se de uma iniciativa que tem como objetivo atrair a atenção de pessoas em todo o mundo para promover o diagnóstico precoce, visando uma melhor resposta ao tratamento.

Apesar de poucos conhecidos pela população, os linfomas não são infrequentes. Segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA) deste ano, os linfomas não-Hodgkin (LNH) são o nono câncer mais comum com número estimado de casos novos, para cada ano do triênio de 2023 a 2025, sendo de 12.040 casos. Já o linfoma de Hodgkin (LH) ocupa a 20ª posição entre os tipos de câncer mais frequentes, com número estimado de casos novos de 3.080 casos por ano. Podem afetar pessoas de qualquer idade, com o LNH tornando-se mais comum com o envelhecimento e o LH sendo mais comum entre adolescentes, adultos jovens e idosos.

Entre os principais fatores de risco, para alguns tipos de linfoma, estão sistema imune comprometido por doenças hereditárias, doenças autoimunes, uso de drogas imunossupressoras ou infecção pelo HIV; e a presença de infecções virais pelo vírus Epstein-Barr (EBV), o vírus linfotrópico de células-T humanas do tipo 1 (HTLV-1) e a bactéria Helicobacter pylori.

Mas o que são os linfomas? Os linfomas são um tipo de câncer que se originam no sistema linfático, composto por linfonodos e tecidos que produzem as células (linfócitos) responsáveis pela defesa do nosso organismo por meio da produção de anticorpos e vasos linfáticos que conduzem essas células pelo corpo. O tecido linfoide está presente em todos os órgãos do nosso organismo. Conforme o subtipo celular, são divididos em linfomas Hodgkin (LH) e linfomas não Hodgkin (LNH). O LH apresenta dois subgrupos de acordo com a OMS: linfoma de Hodgkin clássico, que se subdivide em quatro subtipos; e linfoma de Hodgkin predomínio linfocitário nodular. Os LNH não têm um tipo celular característico, podendo representar mais de 50 tipos diferentes de linfoma.

Manifestam-se com ínguas (linfonodomegalias) endurecidas e indolores, podendo apresentar febre, suores noturnos, emagrecimento, cansaço e coceira no corpo. Conforme os locais acometidos, podem ainda apresentar tosse, falta de ar, dor no peito, aumento do volume abdominal e lesões cutâneas.

Os sintomas variam entre os subtipos de linfoma e órgãos acometidos: alguns são extremamente agressivos, causando sintomas logo no início e progressão rápida; já outros subtipos apresentam progressão mais lenta, indolentes, podendo ficar assintomáticos por anos.

O diagnóstico requer a realização de biópsia, com a retirada do tecido para análise microscópica das características. O estadiamento da doença pode ser feito através de tomografia por Emissão de Pósitrons (PET-CT), tomografia computadorizada, ressonância magnética, biópsia de medula óssea e punção de liquor (realizados conforme quadro clínico).

Com relação ao tratamento, o LH na maioria dos casos, é uma doença curável apresentando uma taxa de cura de mais de 85%. O tratamento clássico é a poliquimioterapia (múltiplas drogas) com ou sem radioterapia associada. Em alguns casos, pode também ser realizada a imunoterapia: medicamentos (anticorpos monoclonais produzidos em laboratório) que têm um alvo específico para um componente que há nas células do linfoma, induzindo o sistema imune a reagir contra ele; ou com medicamentos inibidores do ponto de controle imunológico que aumentam a resposta imunológica do corpo contra as células. Para pacientes que sofrem recaídas ou que não respondem ao tratamento inicial pode ainda ser indicado o transplante de células hematopoiéticas.

O tratamento dos LNH é pode ser feito com quimioterapia, imunoterapia, radioterapia, terapias-alvo (substâncias que bloqueiam proteínas ou moléculas envolvidas no crescimento das células cancerígenas) e o transplante de células hematopoiéticas. No caso dos LNH indolentes pode ser indicada apenas observação clínica até quando houver progressão clínica com necessidade de tratamento. Para os pacientes que sofrem recaídas ou que não respondem ao tratamento inicial, existe ainda a opção do tratamento pioneiro com as células CAR-T (linfócitos T com receptores antigênicos quiméricos), que são linfócitos retirados do paciente que são processados em laboratório, adquirindo a capacidade de perseguir e eliminar as células do linfoma ao serem reintroduzidos no paciente.

Apesar do diagnóstico de um câncer ser um momento difícil, sabe-se que, atualmente, os pacientes portadores de linfoma contam com a evolução da ciência e das terapias modernas, que promovem melhores respostas, com menor quantidade de efeitos colaterais, aumentando as chances de cura e a qualidade de vida dos pacientes.