Durante muito tempo o tratamento padrão do câncer de bexiga foi embasado em abordagens cirúrgicas e quimioterapia com base em compostos derivados de platina. Essas estratégias ainda compõem o arsenal de combate ao câncer urotelial; entretanto, a Oncologia moderna passou a contar com novas tecnologias que, gradativamente, vem ganhando espaço no tratamento desta neoplasia.

A primeira (e não tão recente) incorporação foi a imunoterapia. Inicialmente, ela foi estudada e incorporada a prática clínica no cenário avançado (isto é, com metástases). Alguns estudos comprovaram a eficácia dos imunoterápicos após a falha de quimioterapia com platina. Mais recentemente, ela passou a integrar uma estratégia de manutenção após a algumas doses de tratamento com quimioterapia com platina; este tratamento é, hoje, o padrão de escolha para os pacientes que se apresentam com câncer de bexiga com metástases, ou que recidivam após algum tempo do tratamento definitivo deste câncer.

A imunoterapia também ganhou espaço no cenário inicial do câncer urotelial. É sabido que a maioria dos casos de câncer de bexiga se apresenta inicialmente como uma doença restrita as camadas superficiais da bexiga. Neste contexto, a ressecção transuretral é parte majoritária do tratamento e alguns pacientes terão indicação de terapias intravesicais com a Onco-BCG. Em casos não cirúrgicos e refratários a terapia intravesical com Onco-BCG, o uso de Pembrolizumabe (um imunoterápico muito conhecido por aplicabilidade em diversos tipos de tumores) mostrou resultados interessantes e vem sendo incorporado a prática clínica.

A terapia-alvo também trouxe avanços no tratamento do câncer de bexiga. É sabido que 15 a 20% dos pacientes com câncer urotelial tem alterações em genes do FGFR (receptor de fator de crescimento de fibroblastos). Neste sentido, foram desenvolvidos medicamentos que tem como alvo as células com tais alterações genéticas; é o caso do Erdafitinibe. A última edição do Congresso Americano de Oncologia Clínica (ASCO 2023) trouxe resultados consistentes deste medicamento em segunda linha de tratamento do câncer urotelial avançado com alterações genéticas em FGFR. Este medicamento já está disponível no Brasil, mas ainda com cobertura restrita pelos planos de saúde e sem perspectivas de chegada ao SUS.

Mais recentemente, o arsenal terapêutico para combate ao câncer de bexiga ganhou mais um combatente; os chamados ADC’s (anticorpos conjugados a droga). Essa tecnologia foi recentemente incorporada no tratamento de câncer de mama no Brasil. Esse tipo de tratamento tem um mecanismo de ação diferente, no qual um composto antineoplásico é “entregue” dentro do microambiente celular, através de um anticorpo específico que tem afinidade pela célula tumoral.  Para este mecanismo de ação, faz-se uma analogia à história do Cavalo de Troia, em que os gregos enviaram um “presente” para os troianos, supostamente reconhecendo a perda na Guerra de Troia. Dentro do cavalo estavam soldados espartanos que, à noite, saíram de dentro dele e atacaram a cidade de Troia, vencendo a guerra. Dois fármacos com este mecanismo de “Cavalo de Troia” vêm sendo amplamente estudados no tratamento do câncer de bexiga.

O Enfortumabe Vedotin foi o primeiro ADC aprovado e comercializado no Brasil para tratamento do câncer de bexiga. Hoje, é indicado em segunda linha terapêutica, após a falha de quimioterapia com platina e manutenção de imunoterapia. O Sacituzumabe Govitecan (já aprovado para tratamento do câncer de mama) deve chegar em breve como uma outra opção de ADC para o câncer urotelial avançado que falhou ao tratamento com quimioterapia e imunoterapia. Combinações de ADC’s com imunoterapias estão sendo estudadas em cenários diversos, inclusive como substitutos da quimioterapia em pacientes que não podem recebê-la.

Felizmente, a Oncologia caminha a passos largos no desenvolvimento de novos fármacos e alvos terapêuticos para o câncer de bexiga. Resta saber como será a incorporação destas tecnologias na prática do dia a dia. Ainda existe um grande desafio de tornar universal e igualitário o acesso a estes tratamentos no Brasil.