Já não é de hoje que é de amplo conhecimento que práticas de atividade física regulares e hábitos de vida saudável estão relacionados tanto com a prevenção de alguns tipos de câncer quanto com a diminuição da recorrência em pacientes que já foram tratados.

O exercício físico também se mostra benéfico como auxílio em tratamentos como no intuito de aumentar a capacidade pulmonar para cirurgias em pacientes com câncer de pulmão e de suma importância para auxílio de prevenção e manutenção de massa óssea em pacientes com câncer de mama e próstata, quando ficam por longos períodos em tratamentos em que há supressão hormonal.

Também é de conhecimento geral que pacientes com câncer muitas vezes experimentam sensações e sentimentos desagradáveis e incômodos, sejam físicas, pela própria doença ou pelos efeitos do tratamento, ou emocionais, com aumento de ansiedade, angústia e sintomas depressivos.

Neste sentido, buscar maneiras de bem-estar físico e emocional dentro das condições que o adoecimento traz são medidas importantes para melhorar a qualidade de vida durante e após o tratamento.

Levando a essa necessidade de unir, corpo e mente, surge o yoga ou ioga. A palavra significa controlar, unir. É um termo de origem sânscrita, uma língua presente na Índia, em especial na religião hinduísta. Yoga é um conceito é uma filosofia, que trabalha o corpo e a mente por meio de disciplinas tradicionais de quem a pratica.

De fato, o yoga tem sido cada vez mais praticado por pacientes com câncer como terapia para redução de estresse, controle de humor, melhora dos sintomas e da qualidade de vida.

Em 2011, um dos maiores centros de Oncologia do mundo, o MD Anderson Cancer Center, realizou um estudo com portadoras de câncer de mama, mostrando que a prática do Yoga, além de reduzir os níveis de cortisol (hormônios do estresse), promoveu a melhora no funcionamento do organismo das mulheres como um todo. Aumentou a capacidade de executar as tarefas do dia-a-dia, reduziu o cansaço e fez com que elas ‘encarassem’ a doença com menos sofrimento.

Ainda, segundo o estudo, a prática do Yoga estimulou a produção de um neurotransmissor conhecido como GABA, que está ligado à depressão e outros transtornos de ansiedade, quando em baixos níveis.

Além de contribuir para a redução da secreção de cortisol, a prática do yoga também foi associada a redução na secreção de citocinas pró-inflamatórias e a melhora no funcionamento do sistema imune.

Também já sabemos que a insônia é um problema que aflige muitas pessoas pelo mundo, incluindo pacientes com câncer. E o yoga mostrou benefício neste cenário.

A filosofia do yoga envolve outros aspectos além dos exercícios de postura e respiração, incluindo mudanças relacionadas à alimentação, à prática de atividade física, à abstenção de hábitos maléficos à saúde (como tabagismo), e relacionamentos interpessoais. Intervenções mais amplas em termos de estilo de vida parecem ser mais eficazes quando associadas ao tratamento tradicional do câncer, e tem maior potencial de benefícios a longo prazo.

Assim, o aconselhamento dos pacientes com diagnóstico de câncer deve sempre levar em conta que a combinação de intervenções relacionadas ao estilo de vida (dieta, atividade física, redução de estresse, suporte social) leva aos melhores resultados.

Em dezembro de 2014, a ONU declarou o dia 21 de junho como o Dia Internacional do Yoga, como intenção de levar a mais pessoas o conhecimento sobre uma ferramenta simples e acessível, capaz de trazer relaxamento e tonicidade ao corpo e positividade à mente, além de melhorar a memória, concentração, criatividade, disposição física e o nível de energia vital como um todo.

Visto isso, é possível ter qualidade de vida e câncer ao mesmo tempo e o yoga pode ser uma saudável, bem-vinda e importante aliada nesse processo.

 

Referências:

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