“Ser oncologista é acompanhar com empatia as dores das Mulheres quando recebem o diagnóstico, acolhendo e caminhando juntas.”

(Dia da Mulher)

 

O Dia da Mulher começou com uma greve, ainda no início dos anos 1900, de mulheres da indústria de vestuário demandando melhores condições de trabalho. Desde então, e especialmente a partir dos anos 1970, a ONU declara 8 de março o Dia da Mulher. Com o foco em igualdade e empoderamento muitos caminhos foram abertos, especialmente no mercado de trabalho. Assim sendo, hoje assumimos diversos papéis, com múltiplas jornadas que englobam: trabalho, família, cuidados com filhos, pais e avós.

Nesse sentido, tenho há quase 15 anos a possibilidade de cuidar de mulheres que vivenciam diagnósticos e tratamentos de tumores femininos e seus desafios. Meu cotidiano é permeado pela aprendizagem em ajudar os pacientes a administrar todo o peso de um tratamento oncológico e o manejo da sobrecarga dessa experiência: transmissão de diagnósticos, acolhimento de angústias de mulheres e seus familiares. São ocasiões em que estou presente totalmente, olho no olho, momento de segurar nas mãos, considerando cada passo e planejando como lidar e seguir em frente.

Esta semana, particularmente, foi um desafio lidar com questões de saúde de minha família, reuniões importantes de pesquisa, supervisão e aulas para meus residentes… tudo junto, muito intenso, em poucos dias e com muita correria.

Passados estes dias, fiquei pensando: o que me move como oncologista e o cuidado com mulheres, o que me inspira? Como é possível abraçar tantas demandas, algumas externas, mas muitas minhas, de estudo, de ensinar, de dar aulas e fazer pesquisas? No fim das contas, percebo que é o atender, é o cuidar no dia a dia que me inspira. O momento da porta do consultório fechando e o olhar nos olhos das mulheres que cuido, a escuta de cada uma, o exercício da arte de individualizar os tratamentos, cuidando da pessoa, ajustando funcionalidades, idade, outros diagnósticos. É um trabalho árduo construir um percurso com expectativas realistas, enquadrando o conhecimento terapêutico e molecular em que eu, oncologista, e a mulher que estou cuidando e sua família possamos percorrer junto, escolhendo palavras com foco no que é possível, razoável e mesmo doloroso.

E, assim, depois de uma semana tão corrida, eu estava de volta no consultório, conversando, olhando seus últimos exames escutando seus medos e também as histórias das últimas viagens, de como estão os filhos, netos, como vão na escola, trabalho, faculdade e o que tem gostado de fazer… Enfim, sou fascinada e patologicamente encantada por cuidar de mulheres fantásticas que estão no processo difícil e transformador de diagnósticos oncológicos. E é isso que me motiva, inspira mesmo!