O câncer é uma doença multifatorial que mais comumente afeta pessoas ≥50 anos de idade. No entanto, a incidência de cânceres de vários órgãos (incluindo os da mama, colorretal, endométrio, esôfago, ducto biliar extra-hepático, vesícula biliar, cabeça e pescoço, rim, fígado, mieloma múltiplo, pâncreas, próstata, estômago e tireoide) têm aumentado em adultos <50 anos de idade em muitas partes do mundo. O termo “início precoce” é usado para descrever cânceres diagnosticados em adultos entre 20 – 50 anos de idade e “início tardio” para cânceres diagnosticados naqueles ≥50 anos de idade.

Diferenças na epidemiologia e nas características clínicas, patológicas e moleculares existem claramente entre cânceres de início precoce e de início tardio. Além disso, o câncer de início precoce não é uma entidade homogênea, abrange uma gama variável de condições clínicas e patológicas.

Em uma revisão publicada na Nature, em outubro de 2022, foram avaliadas e resumidas as evidências sobre as características pertinentes e possíveis perfis de fatores de risco de formas precoces de tipos de câncer com um aumento na incidência relatado nas últimas décadas. Aprofundando investigações de fatores de risco e características moleculares do tumor em vários tipos de cânceres de início precoce, poderíamos lançar luz sobre etiologias comuns plausíveis.

O conhecimento aprimorado da patogênese pode ajudar na formulação de estratégias para prevenção primária, detecção precoce e tratamento. Também foram discutidas estratégias para abordar as lacunas de pesquisas e promover esforços de prevenção, que têm implicações mais amplas para a saúde pública. O aumento do câncer de início precoce tem repercussões pessoais, sociais e econômicas consideráveis. É fato, por exemplo, que sobreviventes de cânceres de início precoce têm um risco maior a longo prazo de ter problemas de saúde como infertilidade, doenças cardiovasculares e cânceres secundários.

Uma fronteira de pesquisa que provavelmente fornecerá novos insights etiológicos é o estudo do microbioma intestinal. Evidências reforçam que este pode ser um contribuinte notável para o desenvolvimento tumoral. O microbioma do início da vida é conhecido por influenciar o desenvolvimento do sistema imunológico. Entre os 14 tipos de câncer de início precoce com incidência crescente, 8 (colorretal, esôfago, ducto biliar extra-hepático, vesícula biliar, cabeça e pescoço, fígado, pâncreas e estômago) se relacionam com o sistema digestivo, indicando potencial importância patogênica da mucosa oral e intestinal.

A revisão em questão discute, também, a existência de diferenças nas características clínicas e tumorais entre pacientes com certas formas de câncer de início precoce e de início tardio, incluindo câncer de mama, endométrio, pâncreas, próstata e estômago. Estes achados sugerem que os cânceres de início precoce e tardio podem ter mecanismos de carcinogênese um pouco diferentes. Análises de tecidos tumorais de patologia molecular, genômica, multiômica e/ou características imunológicas podem fornecer informações sobre a patologia e explicar as ligações entre exposições e assinaturas moleculares específicas. A integração de análises de tecidos tumorais (com achados patológicos moleculares) em estudos epidemiológicos, deve ser considerada quando viável.

Vários passos importantes precisam ser dados ao tentar resolver os problemas atuais associados ao início precoce do câncer. Em função da crescente incidência de vários tipos de câncer de início precoce, precisamos aumentar a consciência dessa tendência e reavaliar as diretrizes atuais de rastreamento e/ou desenvolver abordagens de rastreamento para câncer de início precoce, embora pesquisas mais amplas sejam necessárias nesta área.

 

Referência:

Ugai T, et al. Is early-onset cancer an emerging global epidemic? Current evidence and future implications. Nature. 2022.