Anticorpo-droga conjugado (ADC): você sabe o que é? É um novo tipo de medicação com um mecanismo de ação diferente e que tenta aliar maior eficácia a menos efeitos colaterais. E o mês de outubro trouxe duas grandes novidades em ADCs para câncer de mama: um lançamento para câncer de mama e uma nova indicação de outro ADC para um tipo específico de câncer de mama. Na esteira do Outubro Rosa foram notícias importantes para as pacientes.

Para entender o que são ADC, temos que pensar um pouco como uma chave e uma fechadura. Para cada chave, existe uma fechadura em que ela se encaixa e abre a porta. No caso, o ADC, como o próprio nome diz, é composto por um anticorpo “grudado” em uma molécula de quimioterapia. Cada ADC tem um anticorpo (chave) direcionado para um tipo de célula tumoral (fechadura) que ele quer atacar. Então, ao entrar no corpo, o ADC se liga e entra naquele tipo de célula específico, levando junto a quimioterapia, o que resulta em morte celular. Isso faz com que menos células “normais” do corpo sejam afetadas e o tratamento seja, portanto, mais direcionado e efetivo, além de provocar menos efeitos colaterais.

Uma das aprovações foi de uma medicação para pacientes com câncer de mama do tipo HER-low, que são pacientes metastáticas que têm uma baixa expressão da proteína HER2. O transtuzumabe-deruxtecana (Enhertu®) chegou recentemente ao Brasil inicialmente para pacientes com tumores HER2 positivo e, agora no final de outubro, a ANVISA incluiu a nova indicação com base nos dados do estudo Destiny-Breast-04, o que vai fazer com que mais pacientes se beneficiem. O anticorpo trastuzumabe é direcionado à proteína HER2 e a deruxtecana é a quimioterapia que a acompanha. O estudo mostrou que pacientes com HER2-low, que receberam um ou mais linhas de tratamento, independentemente da expressão hormonal, tiveram uma redução de 36% do risco de morte. Esse dado é surpreendente, já que se trata de um cenário em que a sobrevida dos pacientes já é relativamente mais longa e essa nova opção de tratamento traz melhores perspectivas para elas.

A outra aprovação foi de uma medicação que ainda não era comercializada no Brasil, o Sacituzumabe-govitecana (Trodelvy®). É um ADC composto de um anticorpo anti-Trop2 e um inibidor de topoisomerase I (quimioterapia) e é indicado para pacientes com câncer de mama triplo negativo metastático. A ANVISA aprovou com base no estudo ASCENT comparou esta medicação com quimioterapia padrão para pacientes que tivessem progredido a duas ou mais linhas de tratamento e mostrou uma redução de 52% do risco de morte, quase duplicando o tempo mediano de sobrevida. Tal resultado é impressionante, já que se trata de um tipo de tumor agressivo e com tempo de vida mais curto. O medicamento ainda será precificado antes de poder ser oferecido aos pacientes, o que deve levar de 1 a 3 meses.

Essas duas novidades são de extrema importância para esses cenários e aumentam as oportunidades de estender cada vez mais a qualidade de vida das pacientes, preservando a qualidade de vida. Importante lembrar ambas as drogas, por serem endovenosas, são de cobertura obrigatória pelos planos nas suas respectivas indicações. Lembrando que, infelizmente, nenhuma dessas está disponível no SUS, o que aumenta cada vez mais a realidade dos pacientes do sistema público, sempre prejudicados com falta completa de acesso a diversos tratamentos novos.

 

Referências:

https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMoa2203690

https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMoa2028485