O câncer de mama é a neoplasia maligna mais diagnosticada entre as mulheres em todo o mundo. O câncer está incluído em um grupo de doenças chamado “Doenças Crônicas Não-Transmissíveis”, no qual estão incluídas também as doenças cardiovasculares, o diabetes e as doenças respiratórias crônicas. Em conjunto, essas doenças são responsáveis por mais de 70% de todas as mortes no mundo. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), alguns fatores de risco são responsáveis pela maior parte dessas doenças: tabagismo, consumo alimentar inadequado, uso abusivo de bebidas alcoólicas e a inatividade física.

A OMS define atividade física como qualquer atividade de movimento corporal produzida pela musculatura esquelética e que requer gasto de energia. Sabemos que tanto a prática de atividade física de intensidade moderada quanto vigorosa são capazes de melhorar a saúde das pessoas. De fato, a prática regular de atividade física ajuda a prevenir e tratar doenças cardíacas, acidentes vasculares cerebrais, diabetes e, até mesmo, o câncer. Além disso, melhoram a saúde mental e a qualidade de vida.

A recomendação atual da OMS é de que os adultos pratiquem entre 150-300 minutos de atividade física moderada (caminhada, pilates, hidroginástica, dança) por semana, ou de 75-150 minutos de atividade física vigorosa (corrida, musculação, basquete, futebol, tênis, etc).

No Brasil, segundo o último levantamento do IBGE, metade dos adultos não atingem o nível de atividade física recomendado pela OMS. Apesar disso, observou-se uma melhora ao longo das últimas décadas, especialmente entre as mulheres. No caso delas, a porcentagem de mulheres que pratica atividade física pelo tempo mínimo recomendado pela OMS passou de 22,2% em 2009 para 31,3% em 2021. No entanto, ainda há muito espaço para melhora nessa questão.

Diversos estudos observacionais já nos mostraram que um maior nível de prática de atividade física e um menor tempo de sedentarismo estão associados a um menor risco de câncer de mama. No entanto, esses estudos apresentam algumas limitações na definição de causa e efeito entre a prática de atividade física e a redução do risco de câncer de mama. Nesse contexto, em um estudo publicado recentemente no periódico British Journal of Sports Medicine, os pesquisadores empregaram uma metodologia diferente, com o objetivo de avaliar com mais precisão essa relação, isolando potencialmente o efeito de outros fatores.

Foram avaliados os dados de 130.957 mulheres de origem europeia, das quais 69.838 haviam recebido diagnóstico de câncer de mama, 6.667 mulheres com carcinoma in situ de mama, e 54.452 mulheres sem diagnóstico de câncer. O diferencial do estudo foi a utilização de marcadores genéticos sabidamente associados à prática de atividade física global, à prática de atividade física vigorosa, e ao tempo de sedentarismo, determinados com base em um banco de dados do Reino Unido.

As mulheres com predisposição genética e maiores níveis de atividade física apresentaram um risco 41% menor de desenvolvimento de câncer de mama. A redução do risco ocorreu tanto em mulheres pré-menopausadas quanto pós-menopausadas, bem como foi observada para todos os tipos de câncer de mama. Além disso, a prática de atividade física vigorosa foi associada a uma redução de 38% no risco de câncer de mama, principalmente em mulheres mais jovens.

Por outro lado, a presença de marcadores genéticos de maior tempo de sedentarismo (tempo passado assentado ou deitado) foi associada a um aumento de 77% no risco de câncer de mama receptor hormonal negativo (sendo maior o risco de tumores triplo-negativos: aumento de 104% no risco). Os resultados foram mantidos mesmo após a exclusão de marcadores genéticos sabidamente associados a outros fatores de risco para câncer de mama, reforçando a relação de causa e efeito entre o nível de atividade física e o risco de desenvolvimento de câncer de mama.

Os autores concluem que os achados do estudo adicionam evidências mais robustas da relação de causa e efeito entre a prática de atividade física e o risco de câncer de mama. A prática de maior nível de atividade física e a redução do tempo de sedentarismo potencialmente reduzem o risco de câncer de mama, de forma consistente entre os subtipos de câncer. Pela metodologia utilizada, eles acreditam ter reduzido de forma significativa o impacto de outros fatores de confusão, estabelecendo uma relação mais direta de causa e efeito entre a atividade física e o câncer de mama.

Esses resultados têm impacto importante em termos de saúde pública e para o delineamento de estratégias de prevenção do câncer de mama por meio de mudanças do estilo de vida.

 

Referências

 

  1. WORLD HEALTH ORGANIZATION. Global status report on noncommunicable diseases 2014. Geneva: WHO, 2014.

 

  1. WORLD HEALTH ORGANIZATION. Global Health Estimates 2016: Deaths by

Cause, Age, Sex, by Country and by Region, 2000-2016. Geneva: WHO, 2018.

 

  1. WORLD HEALTH ORGANIZATION. World Health Statistics 2018: monitoring

health for the SDGs, Sustainable Development Goals. Geneva: WHO, 2018.

 

  1. WORLD HEALTH ORGANIZATION. Noncommunicable Diseases (NCD)

Country Profiles. Geneva: WHO, 2018.

 

  1. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Análise em Saúde e Vigilância de Doenças Não Transmissíveis. Vigitel Brasil 2006-2021. Brasília: Ministério da Saúde, 2022. 71p. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/vigitel_brasil_atividade_fisica_2006_2021.pdf

 

  1. Dixon-Suen SC, Lewis SJ, Martin RM, et al. Physical activity, sedentary time and breast cancer risk: a Mendelian randomization study. Br J Sports Med 2022, online first. Disponível em: https://bjsm.bmj.com/content/early/2022/07/17/bjsports-2021-105132