André Sasse

CRM 91.384

 

Todos sabemos que o número de casos novos de câncer tem subido consideravelmente, a cada ano. No mundo, e no Brasil. Isso se deve ao envelhecimento da população, à diminuição da mortalidade por outras causas, e à manutenção de maus hábitos de vida associados ao tabagismo, etilismo, sedentarismo e obesidade.

Por outro lado, sobe ainda mais rápido o número de pessoas vivendo com câncer no mundo. Isso porque a medicina baseada na ciência evoluiu muito, e novas estratégias de tratamento surgiram para controlar por mais tempo os diferentes tipos de câncer quando não são mais curáveis com cirurgia ou outros tratamentos focais.

Esse número crescente da prevalência de pessoas vivendo com câncer coloca uma pressão grande nas fontes de financiamento de tratamentos em geral. No Brasil vivemos uma situação que beira a insustentabilidade. Seja no Ministério da Saúde, que não tem organizado um programa nacional de saúde voltado ao câncer, seja na ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar), que tem atuado somente como barreira de incorporação de novas tecnologias à lista de cobertura obrigatória pelos planos de saúde.

Novos medicamentos, então, têm sido efetivos em proporcionar melhores chances de cura, de uma vida mais longa e, principalmente, de uma vida melhor. No entanto, o custo, o preço a ser pago, têm sido altos. E o acesso a essas novas tecnologias é, hoje, um desafio de todos. Especialmente neste Dia Mundial de Combate ao Câncer é fundamental que falemos de acesso aos avanços que a ciência nos proporciona.

A Anvisa tem feito um trabalho sensacional, ao revisar as evidências científicas, avaliar as condições de fabricação, além de todo processo de produção e entrega dos novos medicamentos. Mas essa excelência termina no registro do produto no Brasil.  Após aprovação e registro nacional, o sistema de precificação é ultrapassado e não leva em conta o real valor dos novos produtos. E as agências regulatórias, que envolve além da ANS também a CONITEC (que avalia tecnologias no SUS) são erguidas apenas como um bloqueio, não usando inteligência ou negociação para facilitar o acesso à população.

Temos que trabalhar em várias frentes, porque o número de pacientes com câncer não vai diminuir. Temos que curar mais, fazendo mais diagnósticos precoces. Mas principalmente temos que rediscutir os preços dos novos medicamentos a serem registrados no Brasil. Temos que definir como sociedade qual o preço justo, que reflita os valores entregues, e que justifique um investimento estruturado e inteligente. Um programa nacional de “combate” ao câncer envolveria toda a jornada de vida de uma pessoa com câncer. Pensando nos momentos de escolha, de decisões e de manutenção da qualidade de vida.

Mas, infelizmente, inteligência e bom senso têm sido qualidades cada vez mais raras nas nossas lideranças públicas atualmente.