O câncer de mama é o tumor mais frequente entre as mulheres no Brasil e no mundo. É também a primeira causa de morte por câncer no Brasil e no mundo. Dados de países com alta renda demostram uma queda de mortalidade atribuída aos programas de rastreamento e terapias mais efetivas. No Brasil não observamos diminuição da mortalidade por câncer de mama. A dificuldade de acesso aos tratamentos e o diagnóstico tardio podem ser as causas.

Em que idade começar o rastreamento?

É importante não esquecermos: a mamografia é o único exame que, quando realizado rotineiramente pela mulher a partir dos 40 anos, na ausência de quaisquer sintomas nas mamas, diminui o risco de falecer por um câncer de mama. Isso foi comprovado em grandes estudos realizados em mais de 500 mil mulheres, com redução da mortalidade entre 10% e 35% no grupo de mulheres que faziam mamografias regularmente comparada às que não faziam. A ultrassonografia e a ressonância magnética podem complementar o rastreamento, especialmente em mulheres de alto risco ou com mamas densas.

No Brasil, as sociedades médicas recomendam o rastreamento mamográfico anual para as mulheres entre 40 a 75 anos. Temos uma proporção maior de diagnósticos em pacientes jovens do que em outros países, como Alemanha e Estados Unidos, com 41% de pacientes com diagnóstico de câncer de mama em idade inferior a 50 anos. Já o Ministério da Saúde indica a mamografia de rastreamento para mulheres de 50 a 69 anos sem sinais e sintomas de câncer de mama, a cada dois anos. A mamografia diagnóstica, diferente da mamografia de rastreamento, é indicada para avaliar lesões mamárias suspeitas e pode ser realizada em qualquer idade, inclusive em homens. A mamografia de rastreamento é para mulheres assintomáticas, já a mamografia diagnóstica é indicada quando há uma lesão mamária suspeita.

Nenhum teste de rastreamento é perfeito e a mamografia não é exceção. Fatores como a densidade mamária e a idade influenciam a efetividade da mamografia, dificultando a detecção dos tumores. A mamografia de rastreamento é menos efetiva em mulheres mais jovens por possuírem mamas mais densas. Em torno de 25% dos cânceres de mama em mulheres entre 40-49 anos não são detectados pela mamografia. Em mulheres com lesões suspeitas e especialmente com nódulos palpáveis, a investigação rápida com avaliação, mamografia, ultrassonografia e, se indicado biopsia, são primordiais para um diagnóstico precoce.

 

Em que idade parar o rastreamento?

Como recomendação, a mamografia de rastreamento em mulheres com mais de 75 anos deveria ser interrompida. Os benefícios do rastreamento mamográfico com diminuição de risco de morte nesta faixa etária não foi demonstrado. A maioria dos tumores em mulheres idosas tem crescimento lento, podendo não afetar a expectativa de vida e, assim, não impactar na mortalidade. O recomendado, em casos selecionados, é uma avaliação individual, se possível de acordo com a saúde e doenças existentes que impactam na expectativa de vida de cada mulher. Segundo o IBGE a expectativa de vida dos brasileiros vem aumentando e a das mulheres é 80,3 anos. Temos, portanto, uma população cada vez mais idosa e com melhor expectativa de vida. Assim, o seguimento com mamografia de rastreamento deveria ser descontinuado em mulheres com expectativa de vida menor que 5 anos e avaliada individualmente em mulheres acima de 75 anos.