Christine Alem
Mastologista
Especialista em Mastologia pela Unicamp – CAISM
Atualmente sabemos que as mulheres são extremamente demandadas em muitas áreas de suas vidas. Temos que estar com a beleza e o corpo perfeitos e a pele linda. Temos que ter disposição para o trabalho, os afazeres de casa e ainda estarmos com a libido em dia.
Nesse sentido, muitas procuram seus médicos em busca de soluções para todas essas cobranças. Surgem promessas milagrosas, dentre elas o tão falado “chip da beleza”, um nome extremamente atraente para o que se resume em um implante contento hormônios, tais como a gestrinona, estradiol, testosterona dentre outros.
Essa promessa é extremamente sedutora e tentadora, uma vez que vem repleta de benefícios como alívio nos sintomas da TPM, aumento da libido, ajuda no ganho de massa magra e melhora dos níveis de estresse.
Mas então qual o problema?
O problema é que nenhum desses implantes tem evidências científicas robustas de que são seguros e que não possam trazer prejuízos à saúde da mulher a longo prazo. As poucas publicações existentes são estudos com pequeno número de pacientes e condução duvidosa dos resultados.
Além disso, por não terem sua utilização liberada e não serem comercializados pela indústria farmacêutica, esses hormônios são manipulados o que dificulta ainda mais a comprovação de sua segurança e eficácia nos estudos disponíveis.
Não há estudos de seguimento de longo prazo dessas pacientes para avaliação de complicações ou efeitos colaterais.
Ainda nenhum desses implantes é liberado por órgãos de saúde competentes, como a Anvisa no Brasil ou FDA nos Estados Unidos.
Exemplificando: quando falamos da gestrinona, por exemplo, é um medicamento que foi estudado para uso oral em pacientes com endometriose e miomas. E mesmo nestes casos não fazemos mais uso atualmente, pois sabemos que temos medicações melhores para o controle dessas patologias e com menos efeitos colaterais. Atualmente há profissionais que prescrevem o implante de gestrinona para tratamento da endometriose, contracepção ou mesmo para alivio dos sintomas de TPM e melhora do desempenho físico, porém não existem estudos bem delineados que sustentem esse uso. Não há indicação formal para uso do implante de gestrinona para nenhuma doença, terapêutica de reposição hormonal na menopausa ou contracepção. E essas informações se estendem para os demais implantes com outras substâncias e diferentes hormônios.
Há alguns dias, a Febrasgo – por meio da Comissão Nacional Especializada de Climatério e Anticoncepção – se posicionou no sentido de não recomendar o uso de implantes hormonais. Nesse sentido, cabe ressaltar que o único implante hormonal liberado e aprovado pela Anvisa é o Etonogestrel, conhecido como Implanon e utilizado como método contraceptivo.
Pessoalmente, acho que estudos em andamento (e outros que ainda virão) irão trazer respostas para que possamos oferecer melhores tratamentos para nossas pacientes. Elas merecem. Mas, por enquanto, falar sobre a nossa experiência individual ou de um pequeno número de pacientes com benefícios para justificar o uso dos implantes é desonesto e não é cientifico.
O que temos de ciência até o momento para melhora da qualidade de vida das mulheres é a prática de exercícios físicos diária de cerca de 150 minutos por semana. Boa alimentação, com consumo de mais alimentos in natura e menos ultra processados. Prática de boas relações familiares, espiritualidade, momentos de lazer e controle de fatores estressores. Não são tarefas fáceis, mas com certeza trarão um benefício inestimável e, o mais importante, sem nenhum prejuízo a saúde a médio e longo prazo
Em tempos de negação da ciência, devemos estar atentos sempre!