O dia 29 de agosto é marcado como Dia Nacional de Combate ao Fumo, desde 1986, quando foi criado pela Lei 7.480, com o objetivo de alertar e chamar a atenção da sociedade para as implicações sanitárias, sociais e econômicas que esse terrível hábito pode trazer para nossas vidas. O tabagismo é a maior causa evitável de adoecimento e morte em todo mundo, sendo responsável por mais de 7,5 milhões de mortes ao ano em todo planeta e mais de 200 mil mortes ao ano somente no Brasil. São mais de 400 mortes ao dia no país relacionadas às doenças provocadas pelo cigarro. Portanto, estamos falando de uma pandemia global, silenciosa e sorrateira, que existe há várias décadas e somente nos últimos anos começou realmente a ser enfrentada.
Além do cigarro, grave problema de saúde pública, desde final de 2019, o mundo vive um dos momentos mais dramáticos da sua história com o surgimento e explosão do SARS-CoV-2. Nada ocupou mais o noticiário e nossas vidas nos últimos meses do que essa crise sanitária que vem mudando nossa forma de nos relacionar. Já foram mais de 560 mil mortes no Brasil por COVID-19 desde o início da pandemia e mais de 4 milhões de mortes no mundo. Ainda assim, como já dito, o cigarro mata por ano quase o dobro do que o número de vítimas causadas pela COVID-19 em quase 2 anos.
O tabaco, que já era usado pelas tribos indígenas na América do Sul em tempos remotos e depois como planta medicinal quando chegou à Europa, Ásia e África levada pelos colonizadores, ganhou proporções comerciais com a Revolução Industrial e a ascensão do capitalismo. A partir das duas grandes Guerras Mundiais, o uso de tabaco na forma de cigarro começou a se popularizar. Hoje, o consumo de cigarros e outros dispositivos como charutos, narguilés e, mais recentemente, os cigarros eletrônicos faz parte do cotidiano de milhões de pessoas, de todas as idades, todas as culturas e classes sociais.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) projeta para 2021, um aumento no número de mortes, direta ou indiretamente relacionadas ao tabagismo. São mais de 4.800 compostos químicos em um único cigarro, dentre os quais mais de 70 são sabidamente cancerígenos. O cigarro é tão prejudicial e viciante, que a nicotina nele contida atinge rapidamente o cérebro e, em menos de 10 segundos, libera vários neurotransmissores relacionados à sensação de bem-estar e prazer, como a dopamina. Por isso, é um habito difícil de abandonar. Daquelas pessoas que desejam largar o vício, menos de 10% tem sucesso sem ajuda de um profissional.
É disparado o maior fator de risco para o desenvolvimento de câncer e está relacionado a quase todos os tumores, com particular importância para as neoplasias de pulmão, cabeça e pescoço, bexiga e trato gastrointestinal. Especialmente, em relação ao câncer de pulmão, 15% de quem fuma deverá desenvolver esse tipo de câncer em algum momento da vida, além disso, 80 a 90% de quem tem o diagnóstico de neoplasia pulmonar é tabagista. Ainda: cerca de 80% dos tumores de pulmão são descobertos em fases avançadas, com metástases, quando o câncer já se espalhou pelo corpo e a chance de cura é muito baixa. São 1,8 milhões de casos novos de câncer de pulmão diagnosticados todos os anos no mundo, com 1,6 milhões de mortes.
Cerca de 80% dos tumores de cabeça e pescoço, que é o terceiro tipo de câncer mais comum no Brasil, e por volta de 70% das neoplasias de bexiga também estão relacionados ao tabagismo. O cigarro, portanto, tem um poder destrutivo imenso capaz de comprometer a qualidade de vida e ceifar vidas de pessoas, muitas vezes, ainda jovens e produtivas.
Além disso, o tabagismo é o segundo fator de risco mais importante para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares (perdendo apenas para hipertensão arterial), lembrando que essas doenças são as que mais matam no Brasil e no mundo. Cerca de 2 milhões de pessoas morrem ao ano por doenças cardíacas provocas pelo cigarro. O cigarro aumenta o risco de infarto agudo do miocárdio, arritmias cardíacas, miocardites e de mortes súbitas.
O cigarro e a COVID-19
O cigarro é, ainda, o principal fator relacionado às doenças respiratórias como asma, bronquite e enfisema pulmonar. E, nesse caso, não tem como não associar o cigarro à COVID-19. É inegável que a “pandemia” do cigarro agrava a doença causada pelo coronavírus. Logo no início da pandemia, em 2020, pesquisadores da Universidade de Ciência e Tecnologia de Huazhong, em Wuhan, na China, haviam constatado que as chances de progressão da doença e de óbitos entre fumantes eram 14 vezes maiores do que em não fumantes.
O cigarro provoca uma inflamação crônica nos pulmões, causando distúrbios pulmonares graves, além de – sabidamente – reduzir a imunidade de quem fuma. Se o coronavírus provoca pneumonia e afeta os pulmões, é claro que o dano é maior naqueles pacientes que já tem comprometimento do tecido pulmonar causado pelo tabaco. Portanto uma parcela das pessoas que morreram pela COVID-19, indiretamente, são vítimas do cigarro. .
Uma pesquisa conduzida pela Universidade de Stanfort, na primeira fase da pandemia, mostrou que jovens que usam cigarros eletrônicos tinhas de 5 a 7 vezes mais risco de terem COVID-19, provavelmente por conta dos danos pregressos das vias aéreas.
Os mesmos malefícios causados pelo cigarro no indivíduo, que demoram anos para aparecer, são uma avalanche com o vírus, que desencadeia essas mesmas alterações, mas em questão de dias. É uma doença inflamatória pulmonar grave com insuficiência respiratória alterando todo o sistema de coagulação, fazendo com que os indivíduos tenham trombose, tendo complicações isquêmicas e hemorrágicas, assim como acontece com quem fuma ao longo de anos, com um fator de agressão extremamente elevado”.
Muitas outras complicações
O uso do tabaco está associado, ainda, à impotência sexual, infertilidade, menopausa precoce nas mulheres e uma série de outras enfermidades. Os pacientes que fumam têm, em média ,14 anos menos de expectativa de vida em relação a quem não fuma. Além disso, é muito claro que os tabagistas passivos (aqueles que não fumam, mas convivem de perto com quem fuma) também têm mais chances de desenvolver câncer, doenças cardíacas e pulmonares. De todas as mortes causadas pelo cigarro, 12% são em fumantes passivos.
Não podemos esquecer dos impactos econômicos, com perdas de mais de R$ 60 bilhões ao ano, considerando o que as pessoas doentes ou que morreram, deixaram de produzir, e os custos diretos e indiretos com tratamentos das doenças causadas pelo habito de fumar. O que se arrecada com impostos relativos à venda de cigarros não ultrapassa os R$ 13 bilhões ao ano, mostrando haver um grande desbalanço financeiro.
Por todos esses problemas Brasil vem implementando há muitos anos uma série de medidas para diminuir o número de dependentes ao cigarro no país. O Brasil ganhou lugar de destaque no combate ao fumo ao ser o segundo país a conseguir implementar de forma eficaz todas as seis medidas sugeridas pela OMS, chamadas de Mpower (plano para reverter a epidemia do tabaco) e conseguir reduzir, de forma consistente, o número de pessoas que fumam. Os esforços para essa redução começaram em 1990, quando profissionais de estados e municípios foram treinados pelo Instituto Nacional do Câncer (INCA) para tratarem gratuitamente pacientes tabagistas no SUS.
Outras medidas importantes foram: o aumento de impostos sobre os cigarros que chegaram a 83% em 2018, a proibição de propagandas em televisão e revistas, a obrigatoriedade de se estampar as embalagens de cigarro com fotos e frases que mostrassem os efeitos devastadores do vício e, por fim, a proibição do fumo em locais fechados de uso coletivo. Todas essas medidas levaram o Brasil a reduzir em mais de 50% o número de pessoas que fumam nos últimos 25 anos (34% da população em 1989 e 10% atualmente), e em todas as faixas etárias. Contudo, ainda temos mais de 20 milhões de tabagistas.
Ameaças aos progressos
Grande problema é que, no ano passado, um estudo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) mostrou que 34% dos fumantes no Brasil declararam ter aumentado o número de cigarros fumados durante a pandemia. Trata-se de um crescimento associado à deterioração da saúde mental dos tabagistas em meio ao isolamento social. Além disso a forma de compra e obtenção de cigarro durante a pandemia de COVID-19, foi facilitada através de aplicativos de entrega que muitas vezes nem conferem a idade do comprador.
Narguilés e, mais recentemente os cigarros eletrônicos, também estão se tornando cada vez mais populares entre os jovens que defendem esses tipos de fumo, alegando serem menos prejudiciais. No entanto, isso não é verdade.
Alguns deles, como o narguilé, são ainda mais nocivos e o cigarro eletrônico, embora em geral não contenham nicotina, vem se mostrando um grande perigo. O uso de cigarro eletrônico vem crescendo no Brasil (onde a comercialização é proibida) e no mundo. O cigarro eletrônico está associado a danos irreparáveis ao pulmão e a um pior prognóstico nos pacientes que contraem COVID-19.
Por isso, apesar de várias conquistas nos últimos anos – em especial no Brasil – na direção da diminuição no número de tabagistas, existem indícios e perigos recentes que estão ameaçando este progresso. Temos que nos atentar a estes sinais para interromper essa cadeia de prejuízos físicos, psicológicos, sociais e econômicos para nossa sociedade. Como tido na “boca popular”, onde há fumaça, há fogo, e esse fogo pode queimar e destruir uma vasta riqueza física, psicológica, social e econômica. Nós, do Grupo SOnHe, trabalhamos para trazer informações de qualidade e relevantes para nossos pacientes e população em geral, sempre com foco na melhora da qualidade de vida de todos.