Agosto foi escolhido pela organização mundial de saúde como o mês de conscientização sobre o linfoma. Mas o que você sabe sobre essa doença? Os linfomas são um tipo de câncer que acomete o tecido linfoide, no qual as células de defesa do nosso organismo – responsáveis pela produção de anticorpos, os linfócitos – se desenvolvem, multiplicam e amadurecem.

O tecido linfoide está presente em todos os órgãos do nosso organismo, desde o pulmão até o intestino, mas o local em que ele mais se concentra é nos linfonodos. Estas estruturas, popularmente conhecidas como ínguas, estão distribuídas por todo nosso organismo e junto com os vasos linfáticos, formam o sistema linfático, responsável por fazer circular a linfa pelo nosso corpo.

Por esse motivo, a forma mais comum com que um linfoma se manifesta é pelo surgimento de uma íngua em algum lugar do corpo. É importante observar, contudo, que o surgimento de ínguas faz parte do mecanismo normal pelo qual ele se defende de agressões externas, como a invasão por vírus e bactérias. Por isso, é importante estarmos atentos aos principais sinais que ajudam um médico a diferenciar o surgimento/aumento de uma íngua com uma causa infecciosa (portanto não relacionado a um câncer) de uma causada por um linfoma. De maneira geral, as ínguas relacionadas aos linfomas têm crescimento progressivo ao longo de semanas e meses e são acompanhados de outros sintomas, como emagrecimento de vários quilos e suores noturnos. Nessa situação, as ínguas podem crescer até o tamanho de bolas de tênis, ou maior, e gerar sintomas relacionados à compressão de órgãos vizinhos às ínguas, como o esôfago, a laringe, o estômago e outros. Além disso, à palpação, essas ínguas são endurecidas e não doem.

Já quando as ínguas são relacionadas à resposta normal do organismo à invasão por vírus e bactérias, chamadas de reacionais, elas costumam crescer pouco, ao longo de alguns dias ou 1-2 semanas, alcançando um tamanho não maior do que uma bola de gude. Elas geralmente ocorrem em mais de um lugar do corpo ao mesmo tempo, podendo ser acompanhadas de febre e outros sintomas relacionados à infecção (dor de garganta, tosse, entre outros) e costumam ser dolorosas à palpação. Frequentemente elas diminuem ou até mesmo somem após o desaparecimento dos sintomas relacionados à infecção que as provocou. O diagnóstico definitivo de um linfoma, porém, exige a realização de uma biópsia, preferencialmente com a retirada de um linfonodo inteiro, para análise microscópica das características do tecido linfoide do linfonodo suspeito.

Geralmente, os linfomas se dividem em linfomas Hodgkin e linfomas não Hodgkin, em homenagem à Thomas Hodgkin, o patologista que primeiro descreveu essa doença, em 1832. Os linfomas Hodgkin se diferenciam dos linfomas não Hodgkin por ocorrerem principalmente em pessoas mais jovens, acometendo linfonodos principalmente na região do pescoço, axila e tórax, onde frequentemente leva a presença de grandes tumores numa região chamada mediastino, localizada entre os dois pulmões. Já os linfomas não Hodgkin acometem pessoas de todas as faixas etárias, atacando o tecido linfoide em órgãos como o estômago, a pele, os pulmões, os ossos, entre outros, com maior frequência. Na verdade, os linfomas não Hodgkin representam mais de 40 tipos diferentes de linfoma!

Com relação ao tratamento, o linfoma Hodgkin tem uma história de pioneirismo e sucesso na oncologia. Com uma taxa de cura de mais de 85%, este linfoma foi o primeiro a ser tratado com sucesso com radioterapia e o primeiro a ser tratado com a poliquimioterapia, no molde em que muitos cânceres são tratados hoje, isso na década de 1960! Mesmo na era moderna do tratamento das neoplasias, o linfoma Hodgkin esteve entre os primeiros tipos de câncer a ser tratado com sucesso com uma classe de drogas que estimulam o próprio sistema imunológico do paciente, geralmente “enganado” pelo câncer a não o enfrentar, a combater o linfoma. Essa nova estratégia para o tratamento de cânceres, chamada de imunoterapia, representou um enorme avanço para pacientes que não podiam ser curados com a quimioterapia convencional.

O tratamento dos linfomas não-Hodgkin também é marcado pela incorporação pioneira de algumas tecnologias que revolucionaram e ainda revolucionam o campo da oncologia, como os anticorpos monoclonais e mais recentemente os linfócitos T com receptores antigênicos quiméricos (também chamados CAR T-cells). Os primeiros são medicamentos que se ligam a proteínas específicas do tumor e induzem o sistema imune a reagir contra ele, enquanto os CAR T-cells são linfócitos retirados do próprio paciente que passam por um processo em laboratório que lhes confere a capacidade de, ao serem reintroduzidos no corpo do paciente, perseguir e eliminar as células do linfoma.

Todos esses avanços têm mudado a maneira como a medicina enxerga e trata esses linfomas, que foram de cânceres de difícil tratamento e prognóstico ruim, a doenças controláveis com medicamentos que transformaram e ainda transformam toda a oncologia.

Por isso, neste mês, procure se informar mais sobre o linfoma e caso você tenha algum sintoma suspeito, procure um hematologista para avaliação!