Estamos em julho, mês de conscientização e prevenção do câncer de cabeça e pescoço. Trata-se de um tumor que merece atenção devido ao número expressivo de casos anualmente, com estimativa de 36.620 novos casos em 2021 só no Brasil. Este tipo de câncer compreende todos os tumores que têm origem na boca (cavidade oral), nariz (nasofaringe, cavidade nasal e seios paranasais), garganta (orofaringe, hipofaringe, laringe), nas glândulas salivares e tireoide. Nos homens é o terceiro câncer mais frequente (quando somados o câncer de boca, garganta e glândula tireoide), ficando atrás apenas do câncer de próstata e de intestino.
Os homens são mais acometidos com uma razão de 2 a 4 homens para cada mulher. Esta diferença está relacionada à exposição aos fatores de risco para desenvolver este câncer, sendo o tabagismo o principal deles. Pessoas que fumam muitos cigarros ao dia ou por um período prolongado, têm o risco de desenvolver o câncer 5 a 25 vezes maior do que os não tabagistas. Vale ressaltar que o uso de cachimbo, o hábito de mascar fumo e mesmo o uso de narguilé também estão associados ao aumento do risco.
Outros fatores importantes são o consumo excessivo de bebida alcoólica e a infecção pelo vírus HPV. O HPV é o mesmo vírus relacionado ao câncer de colo de útero, vagina, vulva, ânus, pênis, e está relacionado, principalmente, ao desenvolvimento do câncer de orofaringe (garganta). A infecção é transmitida durante a relação sexual oral desprotegida.
Um dado muito preocupante surgiu durante a pandemia de COVID-19. Uma pesquisa realizada pela Fundação Oswaldo Cruz em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais e a Universidade Estadual de Campinas revelou uma mudança alarmante de alguns hábitos na população brasileira durante o período de pandemia. O estudo revelou que do total da população avaliada, 12% fumavam e, entre os fumantes, 23% aumentaram 10 cigarros no consumo diário e 5% aumentaram 5 cigarros. No que se refere ao consumo de bebida alcoólica, 18% relataram aumento no consumo, chegando a um aumento de 25% em adultos entre 30-39 anos. Esses dados servem de alerta para o aumento deste tipo de câncer no futuro.
Outra grande preocupação causada pela pandemia foi a redução de aproximadamente 50% no diagnóstico de novos casos de câncer em 2020. Ressaltando que o câncer não parou de acontecer, mas sim seu diagnóstico. No que se refere especificamente ao câncer de cabeça e pescoço, no Brasil, mesmo antes da pandemia já havia uma grande dificuldade em se fazer o diagnóstico precoce, aproximadamente 70% dos casos eram descobertos com a doença localmente avançada ou com metástase, sendo esperado uma piora pós-pandemia.
O diagnóstico tardio deste câncer traz muitas Implicações negativas, desde a diminuição das chances de cura até a necessidade de tratamentos agressivos causando sequelas e piora da qualidade de vida. Por isso, feridas na boca que não cicatrizam, dor ou irritação persistente da boca ou garganta, placas avermelhadas ou esbranquiçadas que duram mais de três semanas, alteração da voz ou dificuldade de deglutir sempre devem ser investigadas.
Nos últimos anos, tivemos grandes avanços no tratamento deste câncer. No que tange à cirurgia, os procedimentos realizados com auxílio do robô permitem melhores acessos para a ressecção dos tumores localizados na boca. O advento de novas técnicas de radioterapia permitiu maior precisão do local a ser tratado, melhorando o controle do tumor, associando menos efeitos colaterais. Já na doença mais avançada com metástase a imunoterapia aumentou o tempo de sobrevida dos pacientes, associado menores toxicidades do que a quimioterapia.
Apesar dos avanços no tratamento, a melhor arma contra o câncer continua sendo a não exposição aos fatores de risco, evitando o cigarro, o excesso de bebida alcoólica, relações sexuais desprotegidas; reiterando que é necessário fazer acompanhamento médico para o diagnóstico precoce. Vamos aproveitar o mês de julho para reforçar a importância de um estilo de vida saudável e cuidar da nossa saúde mesmo durante este período de pandemia.