Isabela de Lima Pinheiro

Com a melhora na sobrevida de pacientes com câncer, alguns efeitos adversos das terapias contra os tumores se tornaram mais evidentes. E esse é o principal foco da cardio-oncologia: o estudo da cardiotoxicidade dos tratamentos oncológicos. A radioterapia e alguns tipos de quimioterapia são destinados a atingir o tecido tumoral, mas podem afetar os tecidos saudáveis, causando efeitos colaterais indesejáveis.

A cardiotoxicidade pode se apresentar de forma aguda, subaguda ou crônica. Nos casos crônicos, a manifestação mais típica é a disfunção ventricular, que pode levar à insuficiência cardíaca. De acordo com informações da Sociedade Internacional de Cardio-oncologia, somente nos EUA há sete milhões de pessoas tratadas com sucesso para o câncer com drogas com potencial cardiotóxico. A identificação dos primeiros sinais de células cardíacas intoxicadas pela quimioterapia é feita por meio de testes relativamente simples: exame de sangue para dosar algumas proteínas e/ou hormônios e ecocardiograma. Além disso, algumas manifestações clínicas como insuficiência cardíaca, arritmias e hipertensão arterial precisam ser monitoradas.

Em relação às escolhas terapêuticas, algumas drogas reconhecidamente apresentam maior cardiotoxicidade. Destacam-se os quimioterápicos da família das antraciclinas, mais usados no tratamento de linfomas e tumores da mama.

Os grupos mais suscetíveis para apresentarem algum problema cardíaco durante o tratamento do câncer são as crianças, os idosos e os indivíduos que já tenham feito algum tratamento cardíaco, como ponte de safena, colocação de marca-passo e, ainda, pessoas que já apresentam previamente insuficiência cardíaca ou aqueles indivíduos com algum tipo de miocardiopatia, que são doenças do músculo cardíaco.

Nesse sentido, a atuação precoce e conjunta do cardio-oncologista é fundamental para evitar sequelas no sistema cardiovascular, permitindo que o tratamento do câncer continue de forma segura e sem prejuízo ao coração. A atuação ocorre com medidas de cuidado integral: controle da ingestão de sódio, exercícios físicos e a perda de peso prudente. Em alguns casos é indicado o uso de medicamentos específicos como os diuréticos e betabloqueadores. Além da manutenção da prevenção dos fatores de risco cardiovasculares típicos como em qualquer outro momento de vida.

A cardio-oncologia vem ganhando espaço entre as especialidades médicas visto que a integração entre cardiologistas e oncologistas oferece ao paciente o melhor cuidado integral possível durante e após o tratamento oncológico.

 

  1. Kalil Filho, R et al. I Diretriz Brasileira de Cardio-Oncologia da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Arquivos Brasileiros de Cardiologia [online]. 2011, v. 96, n. 2 suppl 1 [Acessado 16 junho 2021], pp. 01-52. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S0066-782X2011000700001
  2. Hajjar LA, Costa IBSS, Lopes MACQ, Hoff PMG, Diz MDPE, Fonseca SMR, Bittar CS, et al. Diretriz Brasileira de Cardio-oncologia – 2020. Arq. Bras. Cardiol. 2020;115(5):1006-43.
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