Todos os anos, em junho, ocorre a campanha Junho Vermelho, que tem como objetivo conscientizar a população sobre a importância da doação de sangue. Este ano não poderia ser diferente! A situação das reservas de sangue do Hemocentro da Unicamp é caótica, conforme site deles no dia 9 de junho:

Nesse contexto, muitas pessoas procuram centros de doação com intuito de ajudar e acabam se frustrando com a lista de requisitos para ser doador. Para entendermos o porquê de tanto cuidado com a seleção de doadores, precisamos ter em mente dois pontos: primeiro, a doação de sangue é um procedimento extremamente seguro, que costuma acarretar pouco ou nenhum risco para a população em geral. Porém, em grupos específicos, como pacientes com doenças cardíacas, a retirada do volume de sangue necessário pode acarretar efeitos colaterais. Para nós, médicos, a segurança do doador é prioridade, tornando esse risco inaceitável. O segundo ponto é entendermos que os receptores desse sangue costumam estar em estado de saúde ruim; muitos, inclusive, com estado imunológico reduzido (como por exemplo, pacientes com câncer pós-quimioterapia), e, assim, devemos minimizar ao máximo o risco de complicações associadas à transfusão.

Um dos primeiros pontos que devem ser observados é a idade do candidato à doação: no Brasil, a lei permite doação a partir dos 16 anos de idade, sendo que para aqueles que ainda não completaram 18 anos é necessária aprovação por escrito de um responsável legal. É preciso também ter peso mínimo de 50kg. Isso porque, por motivos técnicos, a quantidade de sangue doada é padronizada (ou seja, independente de pesar 50kg ou 100kg, o volume de sangue retirado é o mesmo, que pode não ser tolerado caso o doador tenha baixo peso). A doação de sangue também não é permitida durante a gestação e nos 12 primeiros meses após o parto, caso a candidata esteja amamentando. Não é necessário jejum para doar sangue, apenas é recomendado que se evite refeições gordurosas antes da doação.

Com relação aos hábitos de vida, é necessário que o candidato tenha parceiro (a) sexual fixo, sem relações ocasionais com terceiros, há pelo menos seis meses. O candidato deve ter boas condições de saúde. Porém, algumas doenças não impedem a doação, desde que controladas, tais como hipertensão, dislipidemia (o famoso “colesterol alto”), hipotiroidismo, entre outras. Já antecedente de neoplasia maligna, mesmo que curada, diabetes insulino-dependente, infecção prévia por HIV, hepatite C ou B e doença de chagas, doença cardíaca importante e outras doenças graves excluem definitivamente o candidato à doação.

“Mas doutor, mesmo se meu câncer estiver curado, não posso doar sangue?”: Infelizmente, pela legislação brasileira atual, não. Os únicos tipos de tumores que não contraindicam a doação são o carcinoma basocelular (um tipo de tumor de pele) e carcinoma de colo uterino in situ. Tal proibição deve-se ao risco teórico de que células cancerígenas do doador possam ser transmitidas pelo sangue e se implantem no receptor. Tal proibição é alvo de debates frequentes, pois, até o momento, não há comprovações científicas contundentes de que pacientes curados de suas neoplasias sejam capazes de transmiti-las pela doação de sangue. Inclusive, alguns países como EUA e Austrália permitem a doação de pacientes com história prévia de câncer, desde que este estejam curados e o tratamento tenha acabado há mais de um ano. Esperamos que a demanda crescente do uso de sangue, e, com isso, a necessidade cada vez maior de doadores, leve à revisão dos critérios atuais, permitindo que pacientes com neoplasias curadas e tantas outras restrições sem embasamento científico claro sejam incluídas no pool de doador.

Ah! E vacina para imunizar da COVID-19 não é contraindicação para doar, não! Basta aguardar o intervalo de 48 horas da vacina se você tiver recebido Coronavac/Pfizer e 7 dias se você tiver recebido da Astrazeneca/Fiocruz.

Se você tiver chegado ao final desse texto e ter descoberto que não pode ser um doador de sangue, não fique triste ou frustrado. Existem outros meios extremamente válidos de ajudar nesta causa, como conversar com amigos e familiares sobra a importância de ser doador, divulgar e apoiar campanhas de doação, compartilhar informações de qualidade, entre várias outras formas. Todo auxílio é válido para continuar a permitir que este ato de solidariedade continue a salvar vidas por todo o mundo.

 

Referências