Você já pensou que o consumo de conservas e defumados pode aumentar o risco de um câncer que, até a década de 1980, era o que mais matava no mundo? Sim, e hoje vamos falar sobre esse tumor: o câncer de estômago, já que na semana do dia 5 de abril, acontece a Semana de Prevenção e Combate ao Câncer de Estômago.
Conhecido pelos humanos como uma doença desde 3.000 a.C., o câncer gástrico afeta 21.000 pessoas por ano no Brasil e leva à morte mais de 50% delas. Essa estatística já foi maior: antes do câncer de pulmão – em decorrência do cigarro – se tomar a primeira posição em mortalidade, o de estômago era o mais mortal. E um dos principais fatores que têm feito a incidência mundial reduzir (apesar de não ser baixa) foi a invenção e popularização de um aparelho que, hoje, parece tão essencial, mas que não era tão comum antigamente: a geladeira.
Evidências científicas mostram que o consumo de produtos processados, em conserva, defumados e/ou com alto teor de sal tem relação com aumento expressivo da incidência de câncer gástrico. O mecanismo por trás disso parece ter a ver com a presença de compostos chamados nitritos, que estão presentes nesses produtos e podem induzir alterações nas células da parede do estômago e promover o surgimento de neoplasias. Alguns estudos mostram incremento de mais de 40% no risco de câncer de estômago, sendo maior quanto maior a quantidade ingerida.
Com o uso da geladeira para preservação de alimentos, as técnicas de conservar em “salmouras”, salgar a carne e a defumação foram sendo menos utilizadas, contribuindo para uma redução da ocorrência de câncer gástrico na população. Em relação à comida rica em sal, um dos exemplos mais importantes é a associação entre a culinária asiática e a alta incidência desse tipo de tumor, visto que a gastronomia da região é rica em alimentos com alto teor de sal.
Mas não são apenas os alimentos processados e salgados que aparecem como fatores de risco. A infecção pela bactéria H. pylori no trato intestinal humano também guarda relação com uma maior chance de neoplasia gástrica. Essa bactéria é comum, principalmente em países menos desenvolvidos e com saneamento mais precário (incluindo o Brasil), e a sua presença no estômago leva a aumento de seis vezes no risco de lesões na parede do órgão e, consequentemente, ao surgimento de tumores.
Ainda como fatores de risco, a obesidade e o tabagismo, assim como em vários outros tumores, devem ser lembrados. Cirurgia prévia do estômago, anemia perniciosa e trabalho em indústrias de carvão e borracha mostram alguma relação.
Em relação à herança genética, síndromes como a de Lynch e a do câncer gástrico difuso aumentam de forma expressiva a ocorrência, mas são menos comuns e atingem famílias específicas.
Certo. Depois de todos esses fatores de risco, como fazer para prevenir o câncer de estômago? Aí voltamos para o que sempre falamos: alimentação saudável. Não é “chatice” dos médicos, é provado que uma dieta balanceada reduz o risco de tumores. Especificamente no caso em questão, evitar consumir alimentos processados, em conserva, defumados e/ou com alto teor de sal é um grande avanço. Claro que, em uma festa ou outra, ninguém está proibido de comer um salame, mas ter consciência da composição do que nós comemos é muito importante.
Muitas comidas que nem imaginamos têm alto teor de sal e usam métodos de conservação que produzem nitritos. Não só isso, já é claro para os cientistas que comer vegetais e frutas frescos e em abundância reduz o risco de diversos tipos de câncer, inclusive o gástrico. A alimentação saudável ajuda também no combate à obesidade e, junto com a atividade física, parar de fumar e reduzir o consumo de álcool, formam o “quadrado mágico” da prevenção do câncer.
Quanto ao H. pylori, a melhor maneira de evitar a contaminação é a higiene e o saneamento adequados, lavando alimentos e as mãos antes de comer. Em caso de sintomas de dor de estômago, o médico pode indicar um exame de endoscopia, que, caso identifique a bactéria, leva à necessidade de tratamento com alguns tipos de antibióticos, prevenindo assim a lesão da parede gástrica.
Por fim, como em várias áreas da ciência, o combate a outro mal do mundo atual é muito importante: as fake news. O chá verde e as vitaminas ainda não se provaram eficazes na prevenção do câncer para a população geral. Lembrando, algumas vitaminas têm indicações específicas, como pacientes desnutridos, ou aqueles com gastrite perniciosa ou mesmo para aqueles que fizeram cirurgia bariátrica.
Depois disso tudo, caso o câncer de estômago seja diagnosticado, o ideal é procurar o médico o quanto antes, pois existe tratamento, seja para o tumor localizado ou metastático. Mas lembre-se: prevenir é, sem dúvida, o melhor remédio!