Larissa Arial Oliveira Santos

Nutricionista

Radium – Instituto de Oncologia

 

A obesidade é um problema de saúde pública que vem crescendo consideravelmente nos últimos anos. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que o percentual de pessoas obesas na população adulta passou de 12,2% para 26,8%, entre o período de 2003 a 2019.

O ganho de peso excessivo aumenta o tecido adiposo (formado por gordura), promovendo a alteração da função e estrutura das células presentes nele. Essas células, chamadas adipócitos, atraem células do sistema imunológico e, quando isso ocorre de forma exacerbada e crônica, pode levar a um estado inflamatório aumentado.

A obesidade é fator de risco para alguns tipos de cânceres, como por exemplo, o câncer de mama e o câncer de reto. Isso porque a inflamação pode aumentar a proliferação celular e contribuir para o desenvolvimento de alguns tumores.

O estado de inflamação presente em indivíduos obesos também tem sido associado a outros diversos problemas de saúde, como aumento da pressão arterial, diabetes, dislipidemias (aumento dos níveis de gordura no sangue). Essas condições clínicas que frequentemente estão associadas à obesidade são os principais fatores de risco para a gravidade da doença e mortalidade associadas à COVID-19.

Em um estudo realizado em 2020, em 88 hospitais com 7.606 pacientes internados por COVID-19, foi observado que mais de 50% da amostra tinha sobrepeso ou obesidade; e a obesidade foi o fator de maior associação com maior risco de mortalidade intra-hospitalar e ventilação mecânica quando comparados a pessoas com peso dentro do considerado normal de acordo com o Índice de Massa Corporal (IMC).

Se pensarmos num cenário de uma pessoa obesa com câncer, seria este risco aumentado? Alguns artigos científicos mostraram que pacientes com tumores hematológicos, por exemplo, podem ter um nível aumentado de inflamação, o que contribuiria para uma resposta exagerada à infecção causada pela COVID-19. Outro estudo realizado em 2020 com pacientes oncológicos observou que a taxa de admissão na Unidade de Terapia Intensiva foi maior em pacientes obesos e com tumores hematológicos, entretanto, quando avaliado o prognóstico, a obesidade não foi associada à mortalidade nestes pacientes. Todavia, a falta de dados na literatura nos leva a entender que a relação entre obesidade e câncer no contexto da COVID-19 ainda não está bem elucidada e faltam dados científicos para esclarecer melhor essa associação.

É importante ressaltar que, para pacientes oncológicos é necessário investigar além da obesidade, a composição corporal (associação entre alteração da massa muscular e adiposa) e a condição do sistema imunológico (geralmente prejudicada em pacientes em tratamento sistêmico, como a quimioterapia e, também pelo tipo de tumor, como os hematológicos) o que aumenta o risco por infecções virais oportunistas.

Enquanto há uma escassez de estudo neste assunto, deve-se enfatizar a importância de hábitos saudáveis a fim de prevenir a obesidade. Em caso de pacientes oncológicos, uma alimentação bem equilibrada e variada pode auxiliar a preservar a imunidade e prevenir possíveis infecções associadas à queda do sistema imune.