Ponto importante a ser destacado é que a incidência do câncer de rim aumentou três vezes mais do que a mortalidade, pois o diagnóstico tem sido cada vez mais precoce

No dia 11 de março de 2021, será celebrado o Dia Mundial do Rim, com uma campanha que visa à conscientização sobre a doença renal crônica (DRC), com orientações de como lidar com os principais sintomas e ter uma melhor qualidade de vida, promovendo a inclusão mais afirmativa desses indivíduos na sociedade. O tema deste ano é “Vivendo bem com a doença renal” e o evento é promovido mundialmente pela Sociedade Internacional de Nefrologia e, no Brasil, pela Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN).

A agenda de eventos relacionados ao Dia Mundial do Rim abrange mais de 700 atividades, incluindo a iluminação do Cristo Redentor (Rio de Janeiro-RJ) e do Elevador Lacerda (Salvador-BA) e uma audiência pública no Senado Federal, sempre respeitando os protocolos para prevenção da transmissão da COVID-19. A divulgação se dará através de rádios, influenciadores digitais e programas de televisão. Como novidade, haverá a disponibilização de episódios de podcasts e videoaulas da Semana da Nefrologia pelas das redes sociais da SBN.

A DRC é a falha do funcionamento dos rins por três meses ou mais, sendo muitas vezes irreversível, mas, geralmente, controlável. O rim é um órgão multifuncional, sendo o responsável por controlar a pressão arterial, filtrar impurezas do sangue, regular o equilíbrio de sal e água do corpo, promover a proliferação de células do sangue, evitando a anemia, dentre outras funções. Hoje, 10% da população tem alguma disfunção renal e os números seguem aumentando.

Um grande problema é que a DRC é uma doença silenciosa e, portanto, o diagnóstico geralmente é tardio, em estágio avançado, o que leva à necessidade de diálise e/ou transplante renal. Com isso em vista, o diagnóstico precoce é crucial para que a doença seja controlada em seu início e não evolua para consequências tão graves. Os maiores fatores de risco são a hipertensão arterial, a diabetes, a obesidade, o tabagismo e história familiar de doença renal ou cardiovascular.

A prevenção da DRC inclui não só o controle das comorbidades citadas acima, mas também evitar tomar medicações sem prescrição médica, beber água ao longo do dia e fazer acompanhamento médico regular. Em algumas situações, pode ser indicada a coleta de exames de creatinina e/ ou de urina, que podem detectar alterações renais de forma incipiente.

Nesse contexto, apesar de não ser o foco da campanha, vamos falar também sobre o câncer de rim, que acomete 403.000 e mata 175.000 pessoas por ano no mundo. Infelizmente, o Brasil não tem dados oficiais, nem divulga a estimativa de câncer renal no país. A maioria são homens por volta dos 64 anos. Dos pacientes diagnosticados, 16% apresentam-se com metástases desde o início e 25% morrem em 5 anos – um número alto, mas que apresentou redução de quase 70% nas últimas 5 décadas.

Um ponto importante a ser destacado é que a incidência aumentou três vezes mais do que a mortalidade, pois o diagnóstico tem sido cada vez mais precoce, em consequência do uso mais corriqueiro de exames de imagem como tomografia ou ressonância. Entretanto, apesar destes exames muitas vezes detectarem o tumor renal, não há indicação de rastreamento populacional para câncer de rim, ou seja, pacientes sem sintomas suspeitos não devem fazer exames de imagem para detectar a neoplasia mais cedo, como acontece, por exemplo, com o a mamografia no câncer de mama.

E o que aumenta a chance de alguém ter câncer de rim? A esmagadora maioria das neoplasias renais ocorrem ao acaso, ou seja, sem um fator causal definido. Os fatores de risco não são tão relevantes como em outros tumores, mas o que se sabe é que o tabagismo aumenta o risco em 30% de desenvolver a doença e, ademais, leva a diagnósticos em estágios mais avançado. O uso de anti-inflamatórios também é outro fator importante, porém muitas vezes relevado pela população. Alguns estudos sugerem um aumento de até 51% no risco de câncer de rim em consequência do uso rotineiro e crônico dessa classe de medicação. Obesidade, doença policística renal, hipertensão e exposição a asbesto e gasolina são outros contribuintes que devem ser evitados.  Sendo assim, a prevenção do câncer renal é baseada em evitar os fatores de risco já conhecidos para outros tumores e para a própria DRC.

Bom saber, mas e quais são os principais sintomas do câncer renal? Em geral, a doença é assintomática até se tornar avançada, o que, como já dito, dificulta o diagnóstico precoce. O quadro clínico geralmente inclui um ou mais dos seguintes: hematúria (sangue na urina), dor/massa abdominal e perda de peso. Entretanto, apenas 9% dos pacientes têm os 3 sintomas conjuntamente. Além disso, o indivíduo pode apresentar sinais como anemia e hipercalcemia, o que denota um quadro mais avançado.

Depois de receber o diagnóstico, há tratamento? Sim, sem dúvida! O câncer de rim, quando descoberto precocemente e limitado ao órgão, tem altas taxas de cura com a cirurgia, que é o tratamento indicado – quando factível – em virtualmente todos os casos. Já quando a doença é avançada, seja por não ser ressecável ou por ter metástases, o tratamento torna-se sistêmico, com uso de medicações diversas, principalmente terapias-alvo e imunoterapia. Notadamente, o tratamento desse tipo de neoplasia não costuma incluir quimioterapia convencional, visto que esta é pouco efetiva para o controle tumoral.

Vimos então que o Dia Mundial do Rim promove a conscientização sobre as doenças renais, melhorando assim a qualidade de vida das pessoas. Não só isso, enseja o alerta também para o câncer de rim e suas peculiaridades. O que devemos tirar disso tudo é que o controle de comorbidades (como obesidade e tabagismo), o uso correto de medicações e o acompanhamento médico regular são atitudes que podem ajudar a prevenir problemas renais e ajudar a vivermos mais e melhor!

 

Referências:

https://www.sbn.org.br/dia-mundial-do-rim/dia-mundial-do-rim-2021/sobre/

https://www.pro-renal.org.br/2021/02/01/dia-mundial-do-rim-2/

https://www.inca.gov.br/estimativa

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