Neste ano atípico e atribulado por uma pandemia, muitas vezes outros problemas relacionados à saúde são deixados de lado, a exemplo da obesidade e do sedentarismo. Para abordar essa questão e visando a uma maior acessibilidade da população brasileira às informações mais atualizadas, o Instituto Nacional de Câncer (INCA) fez uma tradução para o português de um Relatório de Especialistas criado pelo Fundo Mundial de Pesquisa em Câncer (WCRF, em inglês) e pelo Instituto Americano para Pesquisa em Câncer (AICR, em inglês).
A obesidade e o sedentarismo continuam em crescimento no mundo e são um grande problema de saúde pública, contribuindo para mais de quatro milhões de mortes, anualmente, no mundo. O estilo de vida e a falta de estímulo à atividade física são os principais fatores associados a esse cenário. No Brasil, mais da metade da população está acima do peso, e essa epidemia vem aumentando também entre as crianças.
No documento traduzido pelo INCA, os autores dissertam de forma bem clara sobre os vários aspectos da alimentação e suas consequências para nosso organismo e sobre o risco de câncer, sempre embasado em evidências científicas. Há um quadro mostrando visualmente os alimentos que têm relação estabelecida com o desenvolvimento de neoplasias, além da força dessa relação. Como exemplo, alimentos em conserva e processados aumentam – com alta probabilidade – a incidência de câncer de estômago e cólon, respectivamente. Além disso, evidencia-se que a obesidade e o álcool são os fatores mais fortemente relacionados à ocorrência de diversos tipos de tumores.
A partir dos dados, o documento faz recomendações práticas para a prevenção do câncer e melhor saúde geral:
– Manter um peso saudável;
– Ser fisicamente ativo (pelo menos 150 minutos por semana);
– Consumir uma dieta rica em vegetais, cereais integrais, frutas e leguminosas;
– Limitar o consumo de comida processada (fast food), carne vermelha, bebidas com adição de açúcar e alcóolicas;
– NÃO usar suplementos para a prevenção do câncer;
– Amamentar, se a mulher puder.
Na análise brasileira, a nossa população não cumpre esses requisitos, com altos níveis não só de obesidade, mas também de sedentarismo e de consumo de alimentos pouco saudáveis. O INCA sugere que a abordagem na nossa população seja comportamental, incentivando a alimentação saudável por políticas públicas bem instituídas e, como exemplo, não estimulando padrões estéticos para a prática da atividade física, mas sim o prazer em praticá-las.
Por fim, há também uma abordagem de como implantar essas medidas em nível populacional, com ênfase nas ferramentas sociais, como marketing, limitando propagandas de produtos pouco saudáveis, estimulando a compra de alimentos saudáveis ou realizando aconselhamentos em equipamentos públicos à toda a população. Isso envolve toda a sociedade e traz a responsabilidade compartilhada para melhorar o cenário atual.
Esse documento é de livre acesso e é de grande interesse de todos. A prevenção do câncer passa não só por exames e consultas, mas também pela adoção de um estilo de vida saudável. Vamos tentar, então, segui-lo!
Referências:
https://www.inca.gov.br/publicacoes/relatorios/dieta-nutricao-atividade-fisica-e-cancer-uma-perspectiva-global-um-resumo-do
Nutrição e atividade física: aliados contra o câncer

Oncologista – CRM 156.336
Formado em Medicina e com residência em Clínica Médica e Oncologia Clínica pela Unicamp. Mestre em Oncologia pela Unicamp. Possui título de especialista em Oncologia… Veja Mais