As campanhas mais populares visam estimular o autocuidado, o diagnóstico precoce. O homem tradicional muitas vezes associa, mesmo que inconscientemente, cuidados com saúde à fraqueza, a uma menor masculinidade. Pesquisa recente mostra que cerca de um quarto dos pacientes com câncer de próstata já diagnosticados não faziam exames de rastreamento por associá-los à perda da virilidade.

Mas conhecer melhor as doenças permite que se participe das tomadas de decisão, como sociedade. E, pensando nos homens portadores de câncer de próstata recidivado, e que precisam de tratamento cronicamente, é importante aproveitar o mês de conscientização para alertar sobre uma possível mudança de cobertura de tratamentos pelos planos de saúde.

Está aberta, até 21 de novembro, a consulta pública número 81 da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Essa consulta pública visa apresentar e discutir com a sociedade propostas de atualização do Rol de Procedimentos e Eventos em Saúde.

Esse Rol é a referência básica para a cobertura obrigatória pelas operadoras privadas de assistência à saúde, para os planos contratados a partir de 1º de janeiro de 1999. Quimioterapia convencional endovenosa e outros antineoplásicos injetáveis já têm cobertura obrigatória, definida por lei, desde que estejam registrados pela ANVISA e não sejam considerados experimentais. No entanto, antineoplásicos orais registrados no Brasil não são automaticamente cobertos, e dependem da inclusão da indicação após análise técnica da ANS. E essa avaliação é feita em ciclos, a cada dois anos.

No ciclo atual, foram analisadas 41 solicitações para indicações de antineoplásicos orais. Um documento técnico foi apresentado no início de 2020 e avaliado pela ANS ao longo do ano. A ANS apresentou um documento com 24 recomendações positivas e 17 recomendações pela não incorporação. No caso de uma não incorporação, os planos de saúde não são obrigados a fornecer o tratamento aos seus usuários e a aquisição daquele medicamento deve se dar por conta própria, com pagamento pelo próprio paciente.

Em câncer de próstata, foram solicitadas a inclusão de dois medicamentos para nos casos em que o PSA continua subindo após tratamento inicial com bloqueio hormonal, mas que não apresentam metástases. Esses medicamentos, Apalutamida e Enzalutamida, de mecanismo de ação semelhante, comprovadamente atrasam o surgimento de metástases, diminuem a necessidade de tratamentos mais agressivos, como quimioterapia, por exemplo, e aumentam significativamente a expectativa de vida dos pacientes.

A recomendação preliminar na nota técnica da ANS é favorável à incorporação e futura cobertura obrigatória pelos planos de saúde. Mas entidades e associações ligadas a algumas operadoras de saúde defendem a não incorporação desses medicamentos ao Rol, devido aos altos custos dos medicamentos. No entanto, especificamente pelos altos custos a incorporação é importante. Pois não havendo cobertura obrigatória, pacientes com câncer de próstata ou têm que comprar os medicamentos por conta própria ou ficam sem tratamento, aguardando o surgimento de metástases para enfim iniciar o tratamento.

Há preocupação de todos com o aumento dos custos dos tratamentos e o consequente aumento das mensalidades. Porém, muitas vezes tratar o câncer em uma fase não metastática pode até ajudar a reduzir os custos futuros, com complicações mais graves da doença.

Assim, a participação de todos é essencial. Não só no caso do câncer de próstata, em que é necessária uma reafirmação da recomendação preliminar positiva, mas também nos 17 casos em que houve recomendação contrária. A consulta pública é aberta no site da ANS (http://www.ans.gov.br/participacao-da-sociedade/consultas-e-participacoes-publicas/consulta-publica-n-81-atualizacao-do-rol-de-procedimentos-e-eventos-em-saude-ciclo-2019-2020/consulta-publica-n-81-contribuicao-para-recomendacoes-relacionadas-as-propostas-de-medicamentos). Especialistas e a população leiga podem e devem participar. Somente assim conseguiremos construir uma sociedade mais madura e lutar para futura inclusão desses medicamentos também no Sistema Único de Saúde (SUS).