É relativamente fácil notar que a sociedade caminha e se organiza para a inércia de seus indivíduos. A tecnologia (com o smartphone e demais dispositivos), a televisão, o fast food, os meios de transportes e diversos outros produtos e serviços a nossa volta se dispõem em prol da praticidade e da comodidade, nos colocando cada vez menos em movimento. Sendo assim, o sobrepeso e a obesidade tornaram-se condições de saúde muito frequentes e que, até outrora, havia quem os via como um problema exclusivamente estético. O que se tem, na verdade, é uma gama de doenças crônicas relacionadas ao excesso de peso e ao sedentarismo que, de maneira preocupante, ocupa as posições mais altas de hospitalização, com altíssimas taxas de morbimortalidade. Estamos falando não somente da hipertensão, diabetes e das doenças cardiovasculares; o câncer, de uma maneira geral, está diretamente relacionado a fatores ambientais e estilo de vida, tal como o sobrepeso e obesidade.
De acordo com números da American Cancer Society, o excesso de peso corporal é considerado responsável por cerca de 15% dos cânceres em mulheres e cerca de 10% dos cânceres em homens nos Estados Unidos. No que tange aos óbitos envolvendo câncer, estima-se que 7% deles estejam relacionadas às condições de obesidade e/ou sobrepeso. É sabido, ainda, que o risco de falecimento por câncer é maior em pacientes obesos. Diversos estudos mostraram correlação entre o excesso de peso de câncer. Embora a intensidade desta associação com os diversos tipos de câncer varie entre eles, existem metanálises que encontraram fortes evidências que sustentam a associação entre obesidade e o câncer do útero (endométrio), do rim, do estomago, do ovário e do pâncreas. O câncer colorretal (o terceiro mais comum em homens e mulheres) é também relacionado a obesidade (em especial nos homens) e tem como um dos fatores de risco o consumo excessivo de carne vermelha e de embutidos, o que comumente auxilia no ganho de peso corporal. No câncer da mama (que detém a hegemonia nos números de cânceres femininos) a obesidade parece incrementar a incidência especialmente nas mulheres no período pós-menopausa. Dados sugerem que o sobrepeso não aumenta o risco de câncer de mama antes da menopausa, mas as razões para isso ainda não são claras. O que já se sabe é que, após o tratamento do câncer da mama, manter-se ativa e reduzir o peso corporal para níveis adequados para cada individuo é um fator “protetor” e reduz a chance de recidiva do tumor. O excesso de peso pode aumentar o risco de câncer de diversas maneiras. Biologicamente falando, a obesidade é uma condição que cursa com maiores índices de inflamação no corpo, podendo ainda estimular o crescimento das células e vasos sanguíneos. Certos hormônios, como insulina e estrogênio, estão em níveis elevados no paciente com excesso de peso e tendem a estimular o crescimento das células. Ainda neste contexto, outros mecanismos que regulam o crescimento celular podem se alterar em indivíduos obesos e culminar no crescimento anômalo e desorganizado da célula, o que gera o ambiente ideal para o surgimento de tumores diversos. Sempre é tempo de iniciar uma mudança de hábitos e de estilo de vida em prol da saúde. Embora ainda tenhamos muito a aprender sobre como o ganho (e também a perda) de peso se relacionam com o risco de câncer, as pessoas com sobrepeso ou obesas devem ser encorajadas a se exercitar e mudar hábitos para o controle do peso corpóreo. Além de, possivelmente reduzir o risco de câncer, combater a obesidade e o sobrepeso certamente traz muitos outros benefícios à saúde.