Já entrando no sexto mês de pandemia de coronavírus, a situação não parece perto do fim. E ao longo desse tempo, lamentamos sempre as vítimas da doença, mas não devemos nos esquecer daquelas pessoas afetadas de forma indireta: pacientes com câncer.

Sabemos que a saturação dos serviços de saúde em função da COVID-19 impactou diretamente o cuidado a pessoas com outras patologias, como infarto, AVC, problemas ortopédicos, entre muitos outros. Ademais, lembramos que esse cuidado deficiente leva a descompensação dessas doenças e, algumas vezes, até à morte.

E uma pesquisa da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) mostrou que os pacientes com câncer foram também prejudicados de uma forma expressiva. Segundo a pesquisa com 120 oncologistas de todas as regiões do país, 74% dos pacientes com câncer interromperam ou adiaram seus tratamentos por mais de um mês durante a pandemia. Os procedimentos mais afetados foram as cirurgias (70%), seguidas dos exames de avaliação de resposta (22%). E um número ainda mais preocupante: menos de 1% dos oncologistas consideram que seus pacientes não tiveram nenhum problema. Esse cenário não se limita ao Brasil, é mundial.

Além disso, existem dados ao redor do mundo mostrando que a redução da oferta de exames de imagem reduziu de forma considerável os diagnósticos de câncer neste período. Mas isso não é bom? Não, pois o câncer não espera e esses pacientes serão, sim, diagnosticados, porém de forma tardia e, consequentemente, em um estágio mais avançado. Tal situação preocupa a todos, pacientes e equipe, pois pode aumentar a mortalidade, reduzir as possibilidades de tratamento e influenciar muitas vidas.

Em resumo, devemos ficar vigilantes, sim, para combater o novo coronavírus; entretanto, não podemos trabalhar com retirada de suporte àqueles que também precisam e que tem doenças tão (ou muitas vezes mais) graves quanto a COVID-19. O câncer é melhor tratado quanto mais cedo identificado e atrasos no diagnóstico e no tratamento impactam na vida de muitos. Por isso, a orientação é de que os pacientes não deixem de manter seu tratamento/acompanhamento nesta pandemia, claro, tomando os cuidados necessários para não se contaminarem. Não podemos tratar um problema e esquecer dos outros.

 

Referências:

https://www.sboc.org.br/noticias/item/2027-folha-de-s-paulo-destaca-pesquisa-da-sboc-sobre-covid-19-e-cancer

https://www.thelancet.com/journals/lanonc/article/PIIS1470-2045(20)30388-0/fulltext