O que é e por que aparece?

Embora seja um tumor mais raro se comparado ao câncer de mama nas mulheres ou ao câncer de próstata nos homens, cada vez mais pessoas estão sendo acometidas por essa doença, que já é o nono câncer mais comum no mundo e, no Brasil, é o sétimo câncer que mais acomete os homens. São esperados mais de 7.500 casos em homens e mais de 3.000 casos em mulheres para o ano de 2020 no país.

Estes números estão relacionados, principalmente, a dois importantes fatores: o envelhecimento da população. O câncer de bexiga é muito mais comum após os 60 anos, sendo a média de idade dos indivíduos acometidos de 73 anos. E, como a população esta vivendo por mais tempo, é natural que esse tipo doença apareça com maior frequência. Segundo, o tabagismo: sabemos que mais de 70% dos casos de tumores na bexiga estão diretamente relacionados ao uso de cigarro. Embora o número de fumantes venha caindo no país nos últimos 20 anos, ainda temos cerca de 10% da população tabagista, o que representa mais de 20 milhões de fumantes. Os homens são mais acometidos do que as mulheres na proporção de 3:1 e os negros tem um menor risco se comparado aos caucasianos.

A bexiga é o órgão das vias urinárias responsável por armazenar a urina até o momento de eliminá-la. Muitas substâncias tóxicas que podem estar presentes na urina ficam em contato com a parede de revestimento interno da bexiga e essas substâncias podem causar danos e alterações no DNA dessas células, possibilitando o aparecimento dos tumores. Algumas dessas substâncias estão presentes no cigarro, como já comentado, mas existem outras tais como os componentes químicos da indústria têxtil, tintas e outras fábricas que lidam com metal, couro, borracha, corantes e plásticos, além de adoçantes artificiais usados na dieta.

Sintomas e como fazer o diagnóstico?

Descobrir a doença nas fases iniciais não é tarefa fácil, porque nessa fase o tumor pode não causar qualquer sintoma ou os sintomas são confundidos com outras doenças menos graves, como infecção urinária ou cálculos renais ou de vias urinárias, já que as queixas de dor ao urinar, dor abdominal, vontade de urinar com muita frequência ou urina com mudança de coloração podem acontecer em todas essas enfermidades. Um sintoma que às vezes chama muita atenção é a presença de sangue na urina, mas nem sempre isso acontece. Todas as pessoas com mais de 55 anos que apresentem sangue na urina devem procurar um médico com urgência. A partir dessas alterações é importante a realização de exames de urina e de imagem, como ultrassom de abdome e pelve ou tomografias e, quando a suspeita for grande, a realização de uma cistoscopia (exame endoscópico das vias urinárias que permite ao médico olhar dentro da bexiga através de um conjunto óptico). Através da cistoscopia é possível fazer biópsias das áreas suspeitas.

Tratamento das fases iniciais

Cerca de 50% de todos os tumores de bexiga são diagnosticados em uma fase quando ainda não invadiu a musculatura da bexiga. Esse é o momento quando a chance de cura é maior com intervenções relativamente simples. É necessário fazer uma RTU (raspagem da área da bexiga acometida pelo tumor), podendo ou não ser necessário fazer algum tratamento local depois. Esses tratamentos locais podem ser com ONCO BCG (uma espécie de vacina, parecida com a BCG que é aplicada nos bebês para proteger contra a tuberculose). Especificamente sobre a ONCO BCG, o Brasil e o mundo vivem um problema de desabastecimento desse medicamento. No Brasil, o único laboratório que produz essa substância encontra-se fechado pela vigilância por não atender as normas adequadas de produção). Outra opção seria a realização de quimioterapia por infusão dentro da bexiga.

Medicamento desenvolvido na Unicamp traz esperança

Um medicamento desenvolvido na Unicamp e ainda em fase de testes, mostrou resultados animadores no tratamento de pacientes com doença inicial, sem invasão da musculatura da bexiga com mais de 80% dos pacientes tratados sem recidiva do tumor e, naqueles em que o tumor voltou, sua apresentação foi menos agressiva. O nome da medicação é Onco Therad e o seu desenvolvimento e estudo são conduzidos pelos professores Wagner Fávaro e Nelson Dúran. Embora os resultados iniciais sejam promissores, o medicamento ainda esta em fase de testes e não tem autorização da Anvisa ou FDA (órgão regulatório dos EUA) para ser comercializado.

Tratamento da doença localizada, mas que invade musculatura da bexiga

Nos casos em que o tumor já compromete a musculatura da bexiga, o tratamento padrão é a retirada cirúrgica da bexiga, podendo ser precedida de alguns ciclos de quimioterapia. Quando o paciente não pode ser submetido à cirurgia, uma outra opção é o tratamento combinado de quimioterapia com radioterapia.

Tratamento da doença metastática

Quando o tumor já provocou metástase, ou seja, já se espalhou para outros órgãos, o tratamento até há pouco tempo era a quimioterapia exclusiva, com resultados considerados ruins e com muita toxicidade. Novos tratamentos vinham ganhando espaço nesse cenário, principalmente a imunoterapia (medicamentos que ativam o sistema imunológico e o ajudam a combater melhor o câncer). Mas a imunoterapia sozinha também não tinha mostrado resultados tão expressivos como primeira opção de tratamento. Recentemente, em maio de 2020, no Congresso Americano de Oncologia (ASCO), o maior congresso do mundo neste assunto, realizado especialmente esse ano de forma virtual, mostrou os resultados de um estudo que combinou uma droga imunoterápica chamada Avelumabe com quimioterapia no começo do tratamento e, depois de alguns ciclos, mantém apenas a imunoterapia. Essa combinação alcançou resultados nunca vistos quando usado apenas quimio ou apenas imuno e, provavelmente, se tornará o padrão de tratamento quando este esquema estiver aprovado pela Anvisa para ser usado no Brasil.

Outro caminho que vem se mostrando promissor é a detecção de alterações moleculares no tumor e o desenvolvimento de medicamentos que agem diretamente nessas alterações, a chamada terapia-alvo. Já existe no Brasil um medicamento oral chamado Erdafetinib, que pode ser usado nos tumores avançados de bexiga que tenham alteração em um gene chamado FGFR.

Julho: mês de conscientização

O mês de julho é o mês de conscientização e combate ao câncer de bexiga. É importante alertar a população para a importância de se atentar para sinais de alerta e sintomas que muitas vezes são negligenciados, mas podem indicar algo mais grave como um câncer, especialmente em pessoas com mais de 60 anos e que são ou já foram fumantes. Esse é o compromisso do Grupo SOnHe, alertar e informar a população, para prevenção, que certamente é a melhor maneira de reduzir os números mostrados no início deste texto.