O câncer de pele é o mais comum no Brasil e no mundo, representando 25% de todos os tumores sólidos. Nos últimos dez anos o número de casos aumentou cerca de 50%. Dentre todos os tumores de pele, o melanoma, embora mais raro (representa por volta de 4% do total) é, sem sombra de dúvida, o mais agressivo. Por isso mesmo, apesar de dezembro ser considerado o mês mundial de conscientização para o câncer de pele, o melanoma reserva uma data à parte, no mês de junho, para chamar a atenção sobre seus riscos e desafios. Mesmo em um momento tão complicado, como este que estamos passando com a pandemia da COVID-19, é extremamente importante lembramos sobre os riscos de se desenvolver melanoma. Os inimigos novos não mudam a necessidade de se combater os inimigos antigos!

O melanoma é o câncer de pele mais agressivo e o que mais mata. Se não diagnosticado no início, pode dar metástases (quando um tumor se espalha para outros órgãos) rapidamente. Infelizmente muitas pessoas descobrem esse tumor já nessas fases mais avançadas. O Instituto Nacional do Câncer (INCA) estima que em 2020 teremos cerca de oito mil casos novos de melanoma, com 1.700 mortes ao longo do ano, só no Brasil. Os dados nos EUA são ainda mais impressionantes com mais de 100 mil casos novos esperados para 2020.

O melanoma é um tumor que surge a partir de danos causados nas células da pele produtoras de melanina (o pigmento que dá cor à pele) e pode aparecer não só na pele, mas também em mucosas e nas unhas. Esses danos são causados pela exposição direta ao sol, sem proteção. Os raios UVB são os grandes vilões, causando queimaduras na pele mais superficial e, quando essa exposição se dá de forma prolongada, as células da pele podem sofrer alterações em seu DNA levando ao desenvolvimento do câncer. Pessoas de pele e olhos mais claros têm um risco maior. Geralmente se apresentam como manchas enegrecidas e nem sempre é fácil diferenciar um melanoma de uma mancha ou uma “pinta” comum.

Um dado interessante é que a incidência de melanoma no mundo vem aumentando nos últimos anos, mas a mortalidade está diminuindo. Ou seja, mais pessoas têm diagnosticado a doença, mas também mais pessoas têm se curado ou controlado a doença. Isso tem ocorrido graças o desenvolvimento de tratamentos mais eficazes e menos tóxicos.

Até o início desta década, o único tratamento disponível para tratar a doença mais avançada era a quimioterapia citotóxica, que causava muitos efeitos colaterais e era pouco eficiente contra esse tipo de tumor. Com a descoberta e desenvolvimento das imunoterapias e das terapias-alvo, isso mudou radicalmente. A imunoterapia age no organismo fazendo com que o sistema imunológico do próprio paciente reconheça as células malignas e atue de forma mais eficaz em destruí-las. Já a terapia-alvo funciona em uma parcela dos pacientes que possuem uma mutação especifica em um gene chamado BRAF. As terapias-alvo são medicamentos em comprimidos que inibem a ação desse gene.

Estes tratamentos trouxeram resultados impressionantes no controle do melanoma, que deixou de ser um tumor altamente letal para ter resultados muito semelhantes aos de outros canceres considerados menos agressivos. Além de um maior tempo de vida na doença avançada, os tratamentos mais modernos melhoraram substancialmente a qualidade de vida dos pacientes. Reiterando que alguns desses tratamentos são feitos com medicações orais.

Mesmo com todos esses avanços é primordial alertar a população para buscar diagnósticos em fases mais precoces, quando a chance de cura é real. Portanto, alertamos às pessoas para que conheçam o seu corpo e façam uma autoavaliação sempre que possível, além de se protegerem do sol, evitando exposições prolongadas, principalmente sem o uso de protetores solares ou roupas adequadas. E, sempre que notarem alguma mancha estranha ou nova, que procurem o dermatologista para uma avaliação mais detalhada.

Para a autoavalição ou autoexame usamos a chamada regra do ABCDE. A letra “A” é assimetria. O paciente pode observar se a pinta, ao ser dividida em duas metades, tem estas metades simétricas. Caso tenha um formato irregular, é uma suspeita. A letra “B” se refere às bordas da lesão, pois toda pinta deve ter suas bordas lisas. Pintas com bordas recortadas, como um mapa, podem ser suspeitas. A letra “C” refere-se às cores da pinta. Existem diversos tons normais, do marrom claro ao escuro. Entretanto, quando mais cores diferentes (vermelho, branco, preto, tons cinza-azulados), mais suspeita é a pinta. O “D” é o diâmetro dos sinais, considerados com maior risco quando estão maiores de 0,6 cm. A última é a letra “E”, de evolução: uma pinta que progressivamente tem algum crescimento ou modificação deve ser investigada.

Algumas atitudes podem ajudar a prevenir esse tumor. O uso de roupas de mangas cumpridas e chapéus, uso de protetores solares que devem ser repassados a cada três horas e evitar o sol entre as 9 horas e as 16 horas. Existem dois principais tipos de raios solares, o UVA e o UVB (os raios UVB, como dito anteriormente, são os mais associados ao desenvolvimento do melanoma) e os protetores solares têm diferentes FPS (Fatores de Proteção Solar). Os protetores ideais são contra os raios UVA e UVB e pelo menos fator 30 pelo corpo e fator 50 no rosto, local em que a pele é mais sensível e frágil. Crianças devem usar protetores específicos, com produtos que geram uma barreira química e física.

O melanoma, quando descoberto precocemente tem chances de 95% de cura e seu tratamento é essencialmente cirúrgico no início. O problema é quando o tumor já se espalhou para os gânglios e para outros órgãos, o que dificulta a cura e exige tratamentos mais sistêmicos (que agem em todo o organismo). O mês de junho é o mês de alerta ao melanoma. E todas as pessoas, com medidas simples, podem evitar o aparecimento desse tumor. Não deixe essa doença marcar você. Procure marcas e pintas estranhas em seu corpo e, em caso de dúvidas ou alterações, procure um dermatologista.