Lavagem sistemática das mãos e uso de luvas: estamos nos protegendo corretamente?
Ao passo que a pandemia da COVID-19 e os seus crescentes números seguem aterrorizando o Brasil e o resto do mundo, surgem cada vez mais questionamentos sobre o que cada um de nós pode fazer para limitar e reverter esse cenário de saúde que estamos vivendo. O isolamento social parece, sim, ser o caminho mais seguro e correto neste momento em que muitas vidas (inclusive a minha e a de todos que aqui me leem) estão em jogo. O acesso e o devido embasamento de nossas ações em informação de qualidade é algo que tende a contribuir para que ele seja um pouco menos turbulento. É por isso que nós, do Grupo SOnHe – Grupo Sasse de Oncologia e Hematologia, seguimos com nossa missão de difundir o conhecimento científico em saúde, não apenas no que tange ao câncer e seu tratamento em si, mas também àquilo que diz respeito ao mundo a nossa volta; por enquanto, o tema em pauta vem sendo o coronavírus.
Parece básico e até “bobo” orientar as pessoas a nossa volta a higienizar as mãos ao ter contato entre si ou com objetos do uso diário. Dizer, ainda, que este simples gesto foi (e ainda está sendo) responsável pelos primeiros passos no controle da contaminação disseminada do coronavírus parece até engraçado. Isto é (de fato) verdade.
Diversos estudos mostraram controle efetivo da contaminação entre ambientes distintos com a higienização sistemática das mãos (com água e sabão e/ou álcool em gel). Um dos mais relevantes foi desenvolvido por pesquisadores de Taiwan, no qual foram criados os “handwash checkpoints” (do inglês: pontos de lavagem das mãos) na entrada dos hospitais e nos locais de transição entre os ambientes. Criou-se algo semelhante à um “pedágio”, uma parada obrigatória na qual se dedica tempo e técnica exclusivamente para higienização efetiva das mãos. O estudo mostrou importante controle da contaminação na interface hospital-comunidade e sacramentou essa prática (em associação ao controle de circulação/isolamento populacional) como indispensável para nossa sobrevivência neste “novo mundo”.
É frequente vermos mercados e estabelecimentos comerciais com funcionários fornecendo álcool em gel na chegada dos clientes, o que me faz pensar que essa informação já ganhou força e aplicação no dia a dia.
Vamos então, mudar um pouco o foco: na prática do cuidado à saúde, a luva de proteção sempre foi importante aliada do profissional, garantindo, em conjunto com outros equipamentos de proteção individual (EPI’s), manutenção da sua integridade física e, também, proteção para o próprio paciente. Conteúdos sobre o uso indiscriminado de luvas foram recentemente divulgados e, como era de se esperar, vem gerando muitas discussões. Mas afinal: devemos utilizar a luva como proteção obrigatória no dia a dia comum?
A luva comum (chamada de procedimento simples e/ou não estéril) deve ser utilizada somente por profissionais de saúde enquanto estes encontram-se no ambiente hospitalar e no ato do cuidado. Neste contexto, a luva é trocada sempre que se finaliza um procedimento em determinado indivíduo e irá iniciar o cuidado dos demais. Para alguns procedimentos, faz-se necessário o uso pontual de equipamentos e luvas estéreis. Dito isso, a resposta para a indagação anterior é não.
Ao utilizar a luva comum (ou até mesmo a estéril, caso alguém ouse questionar) para atividades corriqueiras como dirigir, arrumar um cômodo de sua residência ou pegar/manipular objetos, o indivíduo protege a sua própria mão, mas não deixa de seguir contaminando a si e às superfícies em que ele toca. É possível ainda que, por se tratar de uma prática inédita para os leigos, e acreditando na “falsa proteção” da luva, as pessoas deixem de hesitar em tocar a face, os objetos de uso pessoal (como óculos) e até mesmo a máscara que agora faz parte da rotina diária, levando assim a luva (tão contaminada quanto a própria mão sem a mesma) para regiões próximas das vias respiratórias, aumentando o risco de contaminação.
Para finalizar, o uso de luvas não substitui em absolutamente nada a prática de higienização das mãos. Este ato, sim, é o jeito mais eficiente de seguir se protegendo e contribuindo para o combate ao coronavírus.
Por hoje é isso! Gostou? Compartilhe e oriente as pessoas próximas a você. Aproveite para conferir nas mídias sociais as orientações do Grupo SOnHe sobre a COVID-19.