Juliana Nabarrete, nutricionista

Há muito tempo a relação entre a alimentação e o câncer é estudada por diversos pesquisadores ao redor do mundo. Além de toda relação de fatores e processos internos no nosso organismo – nem sempre modificáveis com ações – é importante compreender também o papel que alimentação exerce como fator ambiental e totalmente modificável.

Desde a época da pré-história a alimentação acompanha a evolução da espécie humana. A descoberta do fogo no período pré-histórico facilitou o consumo de alimentos e alterou as rotinas de caça, influenciando o desenvolvimento físico e intelectual da espécie humana.

O desenvolvimento econômico e social que ocorreu nos últimos 50 anos provocou uma mudança brusca nos hábitos de vida de toda população, principalmente no que diz respeito à alimentação.

O estilo de vida atual, quando tudo tem que ser resolvido muito rápido e o tempo demandado à alimentação diminuiu, a grande maioria da população opta por refeições rápidas e em inúmeros casos já prontas. Comem na frente dos computadores e não aproveitam o momento da refeição.

Por outro lado, a grande oferta de alimentos industrializados, uma boa propaganda e nem sempre condições sociais que garantem a acesso a uma quantidade suficiente de alimentos, condiciona a maioria a população a acreditar que um pacote de bolo pronto fortificado com o nutriente “X” é mais nutritivo, barato e rápido, que comprar 1kg de maçã para preparar um bolo, por exemplo.

As descobertas dos últimos cinco anos demonstram que muito mais que ação de um único alimento ou nutriente, a influência dos padrões alimentares exerce um papel importante na prevenção do câncer.

Padrão alimentar pode ser definido como um conjunto de alimentos frequentemente consumidos por indivíduos ou populações, incluindo as etapas de seleção, produção, formas de preparo e de consumo do alimento.  No Brasil, temos vários padrões alimentares influenciados pela diversidade cultural do país. O ponto em comum entre eles é que a base da alimentação não seja apoiada em alimentos processados e ultra processados, mas sim em alimentos in natura e minimamente processados.

O novo Guia Alimentar para a População Brasileira baseia as recomendações nesta classificação, conforme quadro abaixo:

Classificação Definição
Alimentos in natura

 

São obtidos diretamente de plantas ou animais e não sofrem qualquer modificação após deixarem a natureza.
Alimentos minimamente processados São alimentos in natura que passam por processos importantes, como remoção de partes não comestíveis ou indesejáveis, fermentação, pasteurização ou congelamento, para chegarem com qualidade ao consumidor. Esses alimentos não recebem sal, açúcar, óleos, gorduras, nem outros ingredientes. Exemplo: hortaliças refrigeradas, arroz, leite pasteurizado UHT, farinhas e etc
Alimentos processados

 

São alimentos in natura ou minimamente processados que recebem sal, açúcar, vinagre ou óleo para, principalmente, durar mais tempo. As técnicas de fabricação incluem cozimento, fermentação, salmoura, entre outros. Alimentos em conservas, geleias, atum em lata e etc.
Alimentos ultra processados São formulações industriais à base de ingredientes extraídos ou derivados de alimentos (óleos, gorduras, açúcar, amido modificado) ou, ainda, sintetizados em laboratório (corantes, aromatizantes, realçadores de sabor, etc.). Os rótulos podem conter listas enormes de ingredientes. Exemplos: guloseimas em geral, cerais matinais, margarina.

Padrões alimentares baseados em alimentos processados e ultra processados tendem a apresentar uma ingestão acima do adequado de sal, gordura e açúcar, que pode contribuir para um ganho de peso fora do habitual. E estes são fatores de risco para diversos tipo de câncer como câncer de mama e de colorretal.

Um padrão alimentar que prioriza a ingestão abundante de frutas e legumes, grãos integrais, em vez de refinados, e a baixa ingestão de carne vermelha e processada, bebidas açucaradas e sal, auxiliará no controle de peso e reduzirá o risco.

Recomendações do Instituto Nacional do Câncer (INCA), do Fundo Mundial para Pesquisa contra o Câncer (WCRF) e do Instituto Americano de Pesquisa em Câncer (AICR) advertem em consenso cuidar da alimentação, praticar atividade física e buscar manter o peso adequado como a base para prevenção. Assim, desde a infância e durante a vida adulta, a influência da alimentação é um fator modificável.

Seguem abaixo algumas dicas práticas para o dia a dia, baseadas nas recomendações:

Recomendação Dica prática
      Mantenha um peso saudável Você não precisa se pesar todo dia. Procure profissionais de confiança como nutricionistas e educadores físicos para auxiliar no controle de peso. Eles adequarão as recomendações à sua rotina, contribuindo com a alimentação equilibrada e exercícios físicos adequados.
       Consuma uma dieta rica em vegetais, cereais integrais, frutas e grãos Faça desses alimentos a base do seu padrão alimentar. Tenha sempre disponível em casa frutas para os lanches intermediários e vegetais, grãos e cereais para as refeições.
      Evitar o consumo de fast food e alimentos processados Deu vontade de hamburguer no final de semana? Prepare em casa. Dessa forma você controla a quantidade de sal e gordura que consome.
      Limitar o consumo de carne vermelha e processada A carne vermelha (bovina, vitela, porco, cordeiro, carneiro, cavalo, cabra), pode fazer parte da alimentação 1 ou 2x/semana. Já a processada (salsicha, salame, mortadela, nuggets) deve-se ser evitada ao máximo. Priorize no dia a dia frango, peixe e grãos como fonte proteica nas refeições e queijo branco, nos lanches intermediários.

 

      Limitar o consumo de bebidas com adição de açúcar Suco de caixa e refrigerantes possuem grande quantidade de açúcar nas embalagens. Priorize no dia a dia água e sucos naturais sem açúcar. Se necessário misture água com gás e suco natural para controlar a vontade do refrigerante.
      Não usar suplementos para prevenir o câncer Nunca tome suplementos alimentares sem orientação médica ou nutricional. Melhor maneira de conseguir os nutrientes necessários ao organismo é com alimentação. Priorize o consumo de frutas, verduras e legumes.

 

Fonte:

Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Guia alimentar para a população brasileira / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica. – 2. ed., 1. reimpr. – Brasília: Ministério da Saúde, 2014.  156 p.: il.

World Cancer Report – Cancer research for cancer prevention. Edited by CHRISTOPHER P. WILD, ELISABETE WEIDERPASS, and BERNARD W. STEWART. International Agency for Research on Cancer – WHO