Em março celebramos o Dia Internacional da Mulher, que ao longo do século XX se consolidou como um momento comemorativo, de reflexão e de luta.

No que diz respeito à saúde da mulher brasileira, e aqui falaremos também em especial da saúde da mulher campineira, de fato, temos pontos para comemorar, muito a refletir e um bom caminho a percorrer para alcançar melhores desfechos.

Comecemos por uma reflexão sobre os dados epidemiológicos acerca das neoplasias que acometem as mulheres brasileiras. Informações precisas sobre o câncer em uma população, conhecida como vigilância epidemiológica, são essenciais não só parar gerar hipóteses quanto à causalidade e avaliar o efeito de ações de controle, mas também norteiam estratégias de prevenção e cuidado do câncer. A vigilância do câncer traz informações sobre casos novos, casos em tratamento, mortes por câncer, dentre outras, resultando no adequado conhecimento da situação dessa doença.

A incidência de câncer, por exemplo, expressa o número de casos novos de uma determinada neoplasia em uma população. Segundo os dados mais recentes do Instituto Nacional do Câncer (INCA), os tumores mais incidentes nas mulheres brasileiras são:

Brasil

  • Mama
  • Intestino grosso (cólon e reto)
  • Colo uterino
  • Pulmão
  • Tireoide
  • Estômago
  • Ovário
  • Corpo uterino

No entanto, a distribuição da incidência de câncer não é homogênea no nosso país continental e marcado pela desigualdade.

Nas regiões Norte e Nordeste, o câncer de colo uterino é o segundo na lista de incidência, sendo que a estimativa de casos novos de câncer de mama e de colo uterino é bastante próxima na região Norte. No Brasil (somando todas as regiões), essa doença ocupa a terceira posição, sendo 7,4% de todas as neoplasias em mulheres. Segundo dados do Globocan, cerca de 85% dos casos de câncer do colo do útero ocorrem nos países menos desenvolvidos e a mortalidade por este câncer varia em até 18 vezes entre as diferentes regiões do mundo.

Já em Campinas, felizmente, essa doença ocupa o nono lugar, sendo responsável por apenas 3% das neoplasias em mulheres.

É nessa significativa diferença nas incidências Brasil X Campinas que encontramos um motivo para comemorar com a perspectiva da saúde das mulheres campineiras, já que o câncer de colo uterino é sabidamente uma doença passível de prevenção, por meio da vacina contra o vírus HPV, e também do exame conhecido como Papanicolau. Assim, é possível inferir que Campinas tenha melhores práticas de saúde pública e maior nível de desenvolvimento que outras regiões do país.

Observa-se, no mundo, um aumento na incidência do câncer de pulmão em mulheres (ao contrário do declínio que vem sendo observado nos homens). No Brasil essa neoplasia ocupa a quarta posição em incidência, porém em Campinas ocupa o quinto lugar. Essa diferença pode ser reflexo dos padrões de adesão e cessação do tabagismo, já que 85% dos casos estão associados ao tabaco. À semelhança do que ocorre na diferença de incidência do câncer de colo uterino entre Brasil X Campinas, essa observação pode também resultar de melhores práticas e estratégias de saúde pública.

Assim como no mundo e no Brasil, a mortalidade por câncer de mama vem caindo em Campinas, hoje representado 19% das mortes por câncer nas mulheres. Vários fatores contribuem para essa queda, principalmente o diagnóstico precoce e acesso aos novos tratamentos. Ainda assim, o câncer de mama continua sendo a neoplasia mais comum entre as mulheres no Brasil e em Campinas, e também é o que causa maior mortalidade, tornando-se um importante problema de saúde e atraindo, assim, a atenção de cientistas ao redor do globo todo. Apesar da queda na mortalidade por essa doença, análises recentes mostram que está crescendo o número de mulheres vivendo com câncer de mama metastático, o que decorre, muito provavelmente, da queda da mortalidade pelos oportunos melhores tratamentos. Uma importante publicação de pesquisadores brasileiros mostra que existem cerca de 45 mil mulheres vivendo com câncer de mama metastático no Brasil, que ainda é uma condição incurável.

Feita essa breve reflexão sobre as discrepâncias entre os dados dos cânceres que acometem as mulheres no Brasil e em Campinas, fica claro que temos um caminho certeiro a percorrer: as adequadas práticas da vigilância epidemiológica do câncer, bem como o seu melhor conhecimento, podem resultar em estratégias de prevenção e diagnóstico precoce que impactem profundamente na redução da incidência dessa doença.