A agência de regulação americana, o FDA, aprovou neste mês o uso de imunoterapia com Pembrolizumabe para pacientes com câncer de bexiga localizado recorrente resistente à BCG. É uma indicação inédita e importante, pois trata-se de um tratamento para uma doença não-invasiva.

O câncer de bexiga, na maioria das vezes, se apresenta como uma doença superficial, ou seja, que não invade as camadas mais profundas e, portanto, tem baixo risco de metástases. Nesses casos, a ressecção transuretral – a popular raspagem – é realizada para retirada do tumor e, não infrequentemente, o tratamento com BCG injetado dentro da bexiga é indicado para evitar recidiva. O problema é que esse tipo de tumor pode voltar a aparecer no mesmo ou em outros pontos da bexiga em 30% dos pacientes, sendo considerado resistente à BCG. Quando isso ocorre, a indicação de retirada da bexiga (cistectomia radical) é comumente defendida pelos médicos. Entretanto, esta é uma cirurgia grande, com risco de morte e comorbidades importantes, as quais são muito incômodas aos pacientes, tendo em vista que muitos ficam com bolsas de cistostomia para coleta externa de urina e/ou podem ter infecções de repetição, impactando na qualidade de vida.

Foi nesse cenário que o Pembrolizumabe, uma droga imunoterápica já aprovada e utilizada em câncer de bexiga avançado, foi testado no estudo KEYNOTE-057 (fase II), que motivou a aprovação pelo FDA. Nele, 148 pacientes com câncer de bexiga não-músculo invasivo de alto risco, resistentes à BCG e que tivessem contraindicação à cirurgia de cistectomia (ou se recusassem a realizar o procedimento) receberam Pembrolizumabe intravenoso por até dois anos. Os resultados mostraram uma taxa de resposta completa em 41% nos pacientes que tinham carcinoma in situ (n = 96), com duração mediana de 16 meses. Os efeitos adversos ocorreram em 65% dos pacientes, sendo 12,7% sérios e a qualidade de vida de 75% melhorou o se manteve estável.

Com esses dados, a medicação foi aprovada pelo FDA, visto que sua eficácia, apesar de não ter sido comparada diretamente com algum controle, é importante para um tipo de tumor que não tinha novos tratamentos há mais de 20 anos. Entretanto, os dados ainda precisam de confirmação em estudos maiores, como o KEYNOTE-676, fase III em andamento, a fim de sabermos o real benefício da droga. Tal questão se impõe não só pelo fato de não ser uma medicação livre de efeitos colaterais, mas também por ser uma droga de alto custo.

A aprovação nos EUA não é acompanhada necessariamente com uma aprovação pela Anvisa no Brasil, portanto, por enquanto, nossos pacientes ainda não têm acesso à essa indicação. É uma alternativa interessante, pois pode trazer melhor qualidade de vida aos nossos pacientes, principalmente aqueles mais idosos e com comorbidades, que compõem parte importante do cenário. Seguimos acompanhando os avanços na área.

 

Referências:

Balar AV, et al. Keynote 057: Phase II trial of Pembrolizumab (pembro) for patients (pts) with high-risk (HR) nonmuscle invasive bladder cancer (NMIBC) unresponsive to bacillus calmette-guérin (BCG). J Clin Oncol 2019;37(suppl_7):350

de Wit R, et al. Health-Related Quality of Life (HRQoL) and Updated Follow-Up From KEYNOTE-057: Phase 2 Study of Pembrolizumab (pembro) for Patients (pts) With High-Risk Non-Muscle Invasive Bladder Cancer (NMIBC). Ann Oncol. 2019;30 (suppl_5): v356-v402

https://www.fda.gov/drugs/resources-information-approved-drugs/fda-approves-pembrolizumab-bcg-unresponsive-high-risk-non-muscle-invasive-bladder-cancer