O sol é o grande responsável por toda vida que existe neste planeta. Sem ele não existiríamos. Seus benefícios são amplamente conhecidos, permitindo às plantas a realização da fotossíntese, e garantindo a luz e energia essenciais para nossa vida.
O astro é fundamental em vários processos metabólicos do nosso organismo, como na ativação e produção do calcitriol (forma ativa da vitamina D), que além de regular a saúde óssea também influencia em algumas reações enzimáticas relacionadas a chamada homeostase ou equilíbrio do nosso corpo.
No entanto os mesmos raios solares que são fundamentais para manutenção desse equilíbrio indispensável para nossa saúde, também estão associados a uma série de danos na pele, como: envelhecimento precoce, aparecimento de manchas e rugas e o tão temido câncer de pele. Devemos lembrar que o câncer de pele é o mais comum no Brasil e no mundo e representa cerca de 33% de todos os tipos de câncer.
Então, como lidar com algo tão necessário e importante e que ao mesmo tempo pode ser tão devastador?
Como tudo na vida, a palavra chave é “equilíbrio”. Devemos estar em contato com o sol e os raios UVA e UVB para manutenção de nossa saúde, mas esse contado deve se dar de forma regrada, respeitando alguns cuidados, para que possamos tirar o melhor proveito daquilo que a natureza nos fornece gratuitamente, mas evitando os excessos ou modismos que podem causar danos extremamente prejudiciais.
Hoje, sabemos que a vitamina D é importante não apenas no metabolismo do cálcio e fosforo e fortalecimento dos ossos, mas também na síntese de antibióticos naturais pelas células de defesa do nosso corpo, na modulação da autoimunidade e síntese de proteínas inflamatórias, no controle da pressão arterial e, como participa da regulação dos processos de multiplicação e diferenciação celular, é atribuído também a ela, papel protetor contra o câncer embora isso não seja completamente comprovado.
Fato é que precisamos de vitamina D ativa para regular várias funções fundamentais da nossa saúde. Diferente de várias outras vitaminas, a vitamina D não esta presente em grande quantidade nos alimentos. Apenas alguns alimentos específicos são ricos em vitamina D, tais com gema do ovo e alguns peixes mais gordurosos de águas frias e profundas como salmão e atum. Apenas 10 a 15% de nossa vitamina D provém da dieta, sendo os outros 90% produzidos pelo nosso próprio corpo. Segue abaixo uma tabela com alguns alimentos ricos em vitamina D:
O ponto inicial dessa produção e ativação, ocorre nas camadas profundas da pele, na qual fica armazenada a substância precursora da vitamina D que se chama 7-deidrocolesterol. Para que ocorra esse processo inicial de ativação da vitamina D é fundamental que o individuo receba luz solar direta, principalmente os raios UVB. Portanto a exposição solar é necessária para a produção dessa vitamina tão importante. Geralmente pessoas que moram em regiões mais frias do planeta e aqueles de pele negra produzem menos vitamina D. Nas pessoas negras isso acontece porque a melanina compete pelos fótons da radiação UVB, diminuindo a disponibilidade de fótons para a ativação da vitamina.
O problema está na exposição excessiva ao sol ao longo da vida que vai causando danos na pele com lesões no DNA da célula, o que aumenta a chance do aparecimento do câncer. E engana-se quem acha que a exposição ao sol durante os fins de semana, na piscina ou praia seja o único inimigo. O sol do dia a dia, quando saímos de casa para o trabalho, supermercado, shopping, também causa danos.
Mas como equilibrar a necessidade de se expor ao sol evitando os danos nocivos que os raios UVA e UVB podem causar?
As principais recomendações são:
Exposição ao sol por 10 a 15 minutos ao dia para as pessoas de pele clara e de 30 a 40 minutos para as pessoas de pele negra (lembrando que as pessoas de pele negra têm mais dificuldade em produzir vitamina D). Essa exposição deve ser antes das 9 horas da manhã ou após as 16 horas. O ideal é que seja sem o uso de protetor solar em alguma parte do corpo, idealmente nos braços ou pernas (recomenda-se que o rosto esteja sempre protegido por protetor solar e que a cada dia uma região diferente do corpo como pernas ou braços fique sem o protetor, nos 10 a 15 minutos).
Existe um estudo brasileiro que mostrou que o uso do protetor solar não interferiu na ativação da vitamina D, mas alguns especialistas acreditam que isso aconteceu porque as pessoas do estudo provavelmente não passavam o protetor solar de forma correta, deixando várias áreas do corpo sem o produto.
Outra recomendação é que a exposição seja direta, sem interposição de vidros ou janelas. O vidro das portas ou janelas bloqueia em parte a passagem dos raios UVB, necessários à vitamina D. Mas, como vivemos em um país tropical com grande incidência de raios solares na maior parte do ano, as chances de deficiência de vitamina D são menores e, portanto, os cuidados com a pele para prevenção do câncer e do envelhecimento precoce devem ser lembrados.
Como falado anteriormente, a dieta é capaz de proporcionar apenas cerca de 10 a 15% das necessidades dessa vitamina. E por isso muito tem se discutido sobre a suplementação de vitamina D, o que vem causando uma corrida muitas vezes desenfreada por níveis cada vez mais elevados no sangue nem sempre de forma adequada.
Os níveis ideais de vitamina D no organismo ainda é objeto de muito debate. De toda forma, hoje, considera-se níveis normais acima de 20ng/ml. A suplementação somente deve ser realizada sob orientação médica.
As pessoas sob maior risco de deficiência são:
- Pessoas acima dos 60 anos ou que sofrem quedas e fraturas recorrentes.
- Gestantes e lactantes.
- Indivíduos com osteoporose e doenças osteometabólicas, tais como raquitismo e osteomalácia.
- Portadores de doença renal crônica.
- Situações de má absorção de nutrientes, como quem tem doença inflamatória intestinal ou fez cirurgia bariátrica.
- Pessoas que fazem uso de medicações que podem interferir com a vitamina D: antirretrovirais, glicocorticoides, anticonvulsivantes, como exemplos.
- Pacientes com câncer.
- Presença de sarcopenia (perda de massa e força muscular).
- Diabéticos.
- Indivíduos com obesidade.
- Pessoas com pele escura, que não se expõem ao sol ou possuem contraindicação a essa exposição.
- Pacientes com insuficiência cardíaca.
Esses indivíduos devem estar mais atentos e dosarem a vitamina D, no sangue, com maior frequência. Deve-se ter muito cuidado com os excessos, pois níveis muito altos de vitamina D podem causar sérios problemas, como maior calcificação de determinados órgãos como os rins, podendo levar, inclusive, a uma parada de seu funcionamento.
Portanto, quando falamos de sol, vitamina D e câncer de pele, devemos ter em mente que o equilíbrio e bom senso são necessários e fundamentais para tirarmos o melhor proveito dessa fonte inigualável de energia sem comprometer nossa saúde.
Devemos evitar a falta e os excessos, como tudo na vida!