Recentemente, falamos sobre um exame que usava a cera do ouvido para tentar identificar o câncer. Agora, um novo estudo, também da Universidade de São Paulo (USP), fornece dados iniciais de um exame de urina que pode auxiliar na detecção e determinação da agressividade de tumores de próstata. Porém, como sempre, não devemos nos precipitar, já que o estudo ainda é extremamente inicial e a técnica não deve ser aplicada antes de resultados mais robustos.
O estudo em questão foi publicado em novembro do ano passado pela equipe do Laboratório de Investigação Médica da Disciplina de Urologia da USP em parceria com o Instituto de Ciências Biomédicas (ICB/US), na revista Proteomics, e avaliou a expressão de um conjunto de proteínas na urina de pacientes com suspeita de câncer de próstata. Durante o estudo, esses pacientes tiveram uma biópsia realizada e, ao mesmo tempo, uma amostra de urina analisada para a expressão proteica de 56 proteínas diferentes.
Ao final, 12 pacientes foram incluídos no estudo, perfazendo 6 com diagnóstico confirmado de câncer de próstata e 6 com hiperplasia benigna do órgão. Os resultados mostraram que o exame teve uma precisão de 100%, ou seja, todos os pacientes com câncer de próstata foram identificados com o teste. Ademais, foi possível apontar pacientes com tumores menos ou mais agressivos de acordo com as proteínas expressadas.
Como se nota, o número de pacientes estudados é muito pequeno e, como a própria reportagem da USP cita, um estudo maior é necessário – e tem previsão de ser realizado – para validar os dados em populações maiores e mais representativas. Isso demanda tempo e dinheiro e, além disso, os resultados precisam ser bastante consistentes para que um exame como esse possa substituir a avaliação por biópsia de um tumor, seja no diagnóstico ou na determinação de agressividade. Hoje, a biópsia é necessária para a confirmação do câncer de próstata, visto que exames como o toque retal e o PSA são pouco específicos.
Não só isso, devemos nos lembrar que exames que fazem diagnósticos mais precoces podem levar à realização de outros testes sem necessidade, trazendo custos e complicações para os pacientes, sem, necessariamente, melhorar os desfechos de sobrevida. Tal ponto também deve ser levado em conta e analisado para que o exame seja realmente útil.
Fato é que o método foi desenvolvido na própria USP e, caso se mostre útil, poderia significar uma maneira menos invasiva e mais barata de identificação de tumores de próstata. Porém, parcimônia e rigorosidade científica são pilares que devem guiar o desenvolvimento deste e de outros testes para que tragam benefícios aos pacientes.
Referências:
Kawahara R, et al. Tissue Proteome Signatures Associated with Five Grades of Prostate Cancer and Benign Prostatic Hyperplasia. Proteomics. 2019;19(21-22)
Outro exame em investigação pode ajudar no diagnóstico do câncer de próstata
Oncologista – CRM 156.336
Formado em Medicina e com residência em Clínica Médica e Oncologia Clínica pela Unicamp. Mestre em Oncologia pela Unicamp. Possui título de especialista em Oncologia… Veja Mais