Enquanto bebês, entramos em contato com as nossas primeiras oportunidades de criar vínculos. Estabelecer uma base segura é o começo da construção de noções a respeito de si mesmo e de relacionamento com o mundo. A partir dos diferentes estilos de apego desenvolvidos na infância se dará processo de vinculação na vida adulta.

O rompimento de vínculos significativos leva ao processo de luto, uma vivência natural e esperada diante de perdas importantes, que podem ser concretas (morte) ou simbólicas (emprego, divórcio, aposentadoria, exílio).  É um processo individual e é vivido de acordo com o desenvolvimento emocional e cognitivo de cada um.

Diante disso, por ser um processo, o luto está em constante mudança, oscilando de maneira pendular entre momentos de maior restauração e outros de maior perda. A depender da cultura em que está sendo vivenciado, acarretará diferentes reações e comportamentos, que podem ser manifestados, intensificados ou inibidos por influências culturais, socioeconômicas, religiosas e familiares.

As circunstâncias em que a perda ocorreu (súbitas, violentas, ambíguas ou múltiplas), assim como as condições de suporte social, respeito e validação do luto pela sociedade, e possíveis perdas secundárias associadas, influenciam diretamente no enfrentamento.

Lutos não sancionados podem levar a dificuldades de diversas origens como:

  1. Isolamento, ocasionando aumento de reações como culpa, depressão, desesperança, raiva, desvalia, inadequação e confusão.
  2. Lutos complicados, provocados por várias perdas não sancionadas e sobrepostas, levando a dificuldades de elaboração e ressignificação.
  3. Ausência do apoio da comunidade, impossibilidade de rituais de despedida.

 

Diante disso, intervenções psicossociais se tornam extremamente necessárias. Um processo de luto se torna satisfatório quando pode se reorganizar diante da perda de uma figura de apego, sem a necessidade de se desvincular dela totalmente. Torna-se possível alguma vinculação simbólica com o falecido, integrando-a à nova realidade.

O suporte psicológico abrange o fornecimento de informações educativas a respeito do processo, com orientações acerca do que esperar em cada momento, acolhendo também do ponto de vista emocional as diversas reações que se apresentarem. Além disso, compreende também ações que visem prevenir e/ou identificar um luto complicado, o que pode acontecer com estratégias como grupos e workshops, dentro dessa temática. Por fim, a psicoterapia visa tratar sintomas já instalados e transtornos psicológicos resultantes.

Os psicólogos são essenciais ao viabilizar espaço para escuta qualificada, assim como para a dor do luto, validando a tristeza, acolhendo, ressignificando, minimizando riscos e assim ativando recursos de enfrentamento da vida após a perda.

“Amor e luto, vínculo e perda são duas faces da mesma moeda: não se pode ter uma sem ter o outro. O luto é o custo do amor, e a única maneira de evitar a dor do luto é evitar o amor. No entanto, a maioria de nós prefere pagar o preço a viver uma vida sem afeto”.  Colin Murray Parkes

 

Referências bibliográficas:

  1. Formação e rompimento de vínculos: o dilema das perdas na atualidade/ Maria Helena Pereira Franco (org.). – São Paulo : Summus, 2010
  2. O resgate da empatia: suporte psicológico ao luto não reconhecido/ Gabriela Casellato (org.). – São Paulo: Summus, 2015