Nas últimas semanas, tivemos duas novidades no tratamento oncológico no Brasil: as aprovações das medicações Ramucirumabe (Cyramza®), uma terapia-alvo para câncer de fígado, e Atezolizumabe (Tecentriq®), uma imunoterapia para câncer de pulmão.

Em junho, a Anvisa aprovou a indicação do Ramucirumabe para tratamento de pacientes com câncer de fígado (hepatocarcinoma) avançado ou irressecável, com função hepática preservada (CHILD A), que tenham falhado à primeira linha terapêutica com Sorafenibe – o atual padrão – e apresentem alfa-feto proteína com valores iguais ou acima de 400ng/mL. O embasamento para tal aprovação foi o estudo REACH-2, que randomizou 292 indivíduos com as características descritas para receberem Ramucirumabe ou placebo. Apesar do pequeno aumento da sobrevida mediana (7,29 para 8,51 meses), a redução do risco de morte foi de 29% e estatisticamente significativa (IC 95% 0,531-0,949; p 0,019). Outro dado mostrou que, em 24 meses, 10,2% dos pacientes do grupo intervenção estavam vivos, contra nenhum do grupo placebo.  Entretanto, a taxa de resposta e o tempo para piora da qualidade de vida não mudaram com o tratamento e as toxicidades foram maiores, apesar de, em geral, a medicação ter sido bem tolerada. Com esses dados, o Ramucirumabe se tornou uma das opções para esse cenário.

Em relação à outra droga, o Atezolizumabe, a Anvisa aprovou em julho a indicação do seu uso no tratamento de pacientes com câncer de pulmão não-pequenas células (tipo não-escamoso) avançado como terapia de primeira linha em combinação com quimioterapia (Carboplatina, Paclitaxel e Bevacizumabe). O estudo que suscitou a indicação foi o IMPower150, que aleatorizou 1.202 pacientes conforme descrito acima para três grupos: quimioterapia padrão + Bevacizumabe + Atezolizumabe (grupo 1), quimioterapia padrão + Atezolizumabe (grupo 2) ou quimioterapia padrão + Bevacizumabe (grupo 3 ou controle). Neste estudo, vale ressaltar, pacientes com mutações EGFR ou ALK puderam ser incluídos, caso progredissem à primeira linha com inibidores de tirosina quinase, o atual tratamento padrão para eles. Os resultados mostraram uma redução significativa do risco de morte de 22% em relação ao controle (10% a mais de pacientes vivos em 2 anos), além de uma maior taxa de resposta (63,5 x 48%), às custas de uma maior, apesar de aceitável, toxicidade (eventos graves: 25 x 19%).

Estas duas novas aprovações vêm para somar à evolução constante dos tratamentos oncológicos, cada vez mais baseados em terapias-alvo e imunoterapias, que promovem maiores benefícios com toxicidades aceitáveis. Também lembramos que o trabalho para a melhoria da sobrevida focando na qualidade de vida é sempre bem-vindo e esperamos por mais novidades no futuro.

Referências:

Zhu AX, Kang Y-K, Yen C-J, et al. For the REACH-2 study investigators. Ramucirumab after sorafenib in patients with advanced hepatocellular carcinoma and increased α-fetoprotein concentrations (REACH-2): a randomised, double-blind, placebo-controlled, phase 3 trial [published online January 18, 2019]. Lancet Oncol. doi:10.1016/S1470-2045(18)30937-9.

Socinski MA, et al. Atezolizumab for First-Line Treatment of Metastatic Nonsquamous NSCLC. N Engl J Med 2018;378:2288-2301.