Nas últimas semanas, aconteceu em Chicago, nos EUA, o maior congresso de Oncologia do mundo, reunindo quase 40 mil profissionais dedicados ao tratamento do câncer. Nesse evento, que ocorre anualmente, são mostrados os resultados dos estudos mais recentes e das drogas mais inovadoras para o tratamento oncológico. E o tratamento do câncer de pulmão e dos tumores de pele, como não poderia deixar de ser, foram tópicos em destaque com vários trabalhos apresentados que mostraram resultados promissores. As drogas mais comentadas, novamente foram as terapias-alvo e as imunoterapias, como aconteceu em outros congressos recentes.
Começando pelas novidades em câncer de pulmão, o primeiro trabalho importante foi o “RELAY”, que comparou paciente com adenocarcinoma de pulmão metastático com mutação do EGFR, Erlotinibe isolado ou associado à um anti-angiogênico chamado Ramucirumabe, em primeira linha. Os resultados mostram um aumento de sobrevida livre de progressão em favor da combinação, passando de 12,4 meses para 19,4 meses, mas os dados de sobrevida global ainda são imaturos, com um perfil de toxicidade manejável.
Nesse mesmo cenário, pacientes com mutação do EGFR, em outro estudo, foi comparado Gefitinibe isolado com a associação de Gefitinibe+quimioterapia (Carboplatina+Pemetrexede), mostrando aumento de sobrevida global (17 meses versus mediana não atingida com a combinação). As toxicidades foram maiores no braço da combinação, principalmente náuseas, vômitos, nefrotoxicidade e hipocalemia.
Dois outros estudos mostrados vieram confirmar que o tratamento de manutenção após primeira linha com quimioterapia nos adenocarcinomas de pulmão metastáticos deve ser feito com apenas uma droga, que pode ser o Bevacizumabe ou Pemetrexede, não havendo grande benefício na associação dos dois, por aumentar ligeiramente a sobrevida livre de progressão, mas com maiores toxicidades.
Outros estudos em destaque, embora ainda iniciais, mostraram dados preliminares interessantes em pacientes com adenocarcinoma de pulmão metastático com rearranjos e fusões do MET, com as medicações Tepotinib e Capmatinib e pacientes com fusões do RET com a droga BLU-667. Tivemos ainda a atualização de alguns estudos, como um pôster que mostrou os dados de sobrevida global, sobrevida livre de progressão 2 do estudo Keynote-189 com Pembrolizumabe + quimioterapia em primeira linha de adenocarcinoma de pulmão metastático sem mutações drivers, mostrando manutenção do benefício em sobrevida global após dois anos, além de mostrar que esse benefício é maior quando usamos imunoterapia em primeira linha, visto a maior sobrevida livre de progressão 2.
Por fim, com relação aos dados de câncer de pulmão apresentados, um estudo chamou a atenção ao mostrar a associação da alteração gênica STK11/LKB1 com baixa resposta a Pembrolizumabe em associação com quimioterapia em adenocarcinomas de pulmão metastático. Para aqueles pacientes com essa mutação, o Pembrolizumabe não aumentou a sobrevida global, nem a sobrevida livre de progressão. Talvez esse seja um importante marcador de resposta à imunoterapia, que possa ser usado no futuro para determinar aquelas pacientes melhores candidatos a receber inibidores de PD-1.
Com relação ao melanoma, um interessante estudo mostrou ação da combinação Nivolumabe+Ipilimumabe em pacientes com metastáses cerebrais, m taxas de resposta da ordem de 57% e sobrevida livre de progressão mediana e sobrevida global mediana não atingidas. Além disso, tivemos as atualizações dos estudos ComBi-V e ComBi-D, com uso de Dabrafenibe + Trametinibe em melanoma metastático com mutação do BRAF. Com atualização de 5 anos, mostrou sobrevida livre de progressão de 20% em 5 anos, chegando a 30% nos pacientes do DHL normal e menos de três sítios de metástases. A sobrevida global em 5 anos foi de 30%. Entre aqueles que atingiram resposta completa, 70% estão vivos em 5 anos.
Outro estudo, mais inicial, com a combinação de Dabrafenibe + Trametinibe + Spartalizumabe mostrou taxas de resposta perto de 80% nos melanomas com mutação de BRAF, com quase 40% de taxas de resposta completa. Outro estudo tentou mostrar um possível benefício para radioterapia de crânio total após radiocirurgia em até três lesões cerebrais metastática de melanoma. Não houve ganho adicional na radiação de todo crânio.
Chega ao fim mais um congresso internacional, sem grandes mudanças, dessa vez, na nossa prática clínica diária, com relação aos tumores de pulmão e melanoma; porém, com resultados promissores em novos medicamentos e novos alvos moleculares que certamente mudarão nossas práticas em breve, o que estimula novos estudos e novas pesquisas sempre no intuito de melhorar ainda mais os ganhos para nossos pacientes.