Quando uma pessoa é diagnosticada com câncer, a prioridade é o tratamento da doença e durante esse período o paciente pode ter dúvidas sobre o que pode e o que não pode fazer. Tomar ou não uma vacina é uma delas.
As vacinas agem estimulando o sistema imunológico para combater doenças infecciosas, tornando o indivíduo imune às mesmas. O objetivo das imunizações é estimular o organismo a produzir anticorpos contra determinados germes, principalmente bactérias e vírus. O nosso sistema imunológico cria anticorpos específicos sempre que entra em contato com algum germe. Portanto, para que uma determinada vacina tenha sucesso, é necessário que nosso sistema imunológico esteja funcionando bem. Pacientes oncológicos podem ter seu sistema de defesa funcionando de forma ineficaz tanto pela doença quanto pelo tratamento empregado como, por exemplo, a quimioterapia.
Há diferentes tipos de vacinas. As chamadas vacinas atenuadas, como o próprio nome indica são fabricadas com formas enfraquecidas ou atenuadas do agente etiológico de certa patologia: vacina contra sarampo, rubéola, varicela, febre amarela, herpes zoster, poliomielite, rotavírus e BCG. Outras vacinas são feitas de microrganismos mortos, toxinas ou proteínas de microrganismos (gripe, hepatite A, hepatite B, HPV, pneumonia).
As vacinas atenuadas têm o potencial de causar a doença a qual foram designadas a proteger se o organismo no qual forem inoculadas também estiver enfraquecido, ou seja, se o sistema imunológico do receptor da vacina não estiver forte o suficiente para formar uma resposta e memória imunológicas. Pacientes oncológicos – em especial os que estão em tratamento de quimioterapia – devem evitar tomar essas vacinas pois seu sistema imune pode estar “enfraquecido”. O mesmo vale para pacientes transplantados. Os que já terminaram o tratamento há mais de três meses e estão sem evidência de doença, a princípio, podem se vacinar normalmente desde que tenham liberação médica.
A dúvida mais frequente de pacientes e familiares principalmente nesta época do ano é referente a vacinação contra gripe. O Ministério da Saúde (MS) deu início à campanha nacional de vacinação no dia 10 de abril de 2019. Todos os anos, a Organização Mundial da Saúde define quais as cepas de vírus da gripe (influenza) vão entrar na composição da vacina. Por este motivo, a população de risco deve se vacinar anualmente. Para 2019, a vacina trivalente fornecida pelo MS é composta por proteínas dos vírus H1N1, H3N2 e influenza tipo B Victoria. Já as versões tetravalentes, disponíveis apenas na rede particular, resguardam contra os subtipos da vacina trivalente e também o vírus B Yamagata.
A Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) emitiu parecer técnico em 2018 em relação à vacinação contra influenza nos pacientes oncológicos. Dentre as principais recomendações estão:
– Pacientes com tumores sólidos ou hematológicos estão incluídos no grupo de pacientes de risco maior para a infecção e complicações de influenza, tendo prioridade e recomendação formal para vacinação;
– Como recomendação geral, pacientes recebendo radioterapia, quimioterapia venosa ou oral, terapia-alvo (incluindo rituximabe) ou pacientes pós-transplante podem receber a vacina com segurança;
– A resposta à vacina para influenza pode ser variável em pacientes em uso de terapia imunossupressora. Embora os dados sejam escassos, recomenda-se, quando possível, administrar a vacina entre os ciclos de quimioterapia e utilizar medidas adicionais de proteção (exemplo: lavar sempre as mãos, evitar locais com aglomeração de pessoas, utilizar álcool gel nas mãos e, caso julgue necessário, máscara de proteção);
– Pacientes utilizando imunoterapia (anticorpos anti-PD-L1 e anti-CTLA4) podem receber a vacina;
– Pessoas em contato frequente com pacientes com câncer e profissionais de saúde, que não apresentem contraindicação, devem receber também a vacina.
Portanto, todos os pacientes oncológicos podem e devem ser imunizados anualmente contra gripe. Em relação às demais vacinas, em especial as feitas com microrganismos atenuados a recomendação é sempre perguntar ao seu oncologista antes de se vacinar.